São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Lula defende pressão sobre bancos

Presidente diz que BC "agiu corretamente" ao reduzir remuneração de instituições que não repassam crédito

Brasileiro defende "mudança na economia mundial" e diz que FMI e Banco Mundial, "do jeito que funcionam hoje, de nada servem"

SIMONE IGLESIAS
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a decisão do Banco Central de mudar a remuneração de parte do compulsório recolhido pelos bancos sobre os depósitos a prazo foi acertada e correta, já que, segundo ele, as instituições não estão cumprindo o que deveriam -irrigar dinheiro para gerar crédito.
"Eles não quiseram fazer e o BC teve de tomar as medidas que tomou. Não é justo que alguns poucos se dêem ao luxo de receber aporte financeiro da União e não repassar à população e para micro e pequenos empresários. Portanto, o BC agiu corretamente" afirmou.
Lula ressaltou que as pessoas têm que continuar comprando e pediu que ninguém guarde dinheiro embaixo do colchão por causa da crise. "Não há nenhuma razão para que as pessoas coloquem o dinheiro embaixo do colchão e não irriguem o crédito brasileiro."
À vontade em Cuba e ao lado de Raúl Castro, o presidente Lula fez críticas ontem ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial e lembrou dos tempos em que ele e o PT lideravam a campanha "Fora FMI" no governo Fernando Henrique Cardoso.
Lula voltou a condenar a ação especulatória dos bancos americanos e acusou os Estados Unidos de pôr em risco a economia mundial. "É preciso mudar a economia mundial. O FMI e o Banco Mundial, do jeito que funcionam hoje, de nada servem. Os países precisam regular o sistema financeiro. Não dá mais, pois se descobriu que o mercado é um ovo sem gema."
O presidente brasileiro relatou a Raúl Castro a alegria que sentiu quando pôde se ver livre do FMI e recusar um empréstimo de US$ 16 bilhões oferecido pelo órgão.
"Tive uma alegria imensa no dia em que chamei o presidente do FMI, um espanhol chamado Rato [Rodrigo de Rato], e lhe disse: "Não preciso mais dos seus US$ 16 bilhões, pode levar". Vocês não imaginam a alegria que tive. Eu, que passei a vida inteira dizendo "Fora, FMI", pude, como presidente da República, chamá-lo para dizer "Adeus, FMI'", disse, arrancando uma risada do cubano.
Lula voltou a reclamar da falta de regulamentação do sistema financeiro e criticou a postura do mercado em virar as costas para os governos e, em momento de crise, pedir sua ajuda. "Tido desde o Consenso de Washington como regulador de tudo, no momento em que entrou em crise, [o mercado] teve que pedir socorro ao Estado. Isso provou que o mercado não se auto-regula, e é preciso que os países, principalmente os emergentes, que estão sendo apontados como salvadores do capitalismo, tenham direito a participar das decisões".
Lula voltou a atacar especuladores, dizendo que "não produziram nem um botão", se beneficiando apenas de papéis e títulos. Ele disse que a crise é grave, mas que seu governo não suspenderá gastos. "O Brasil está se prevenindo, não vai paralisar seus investimentos."


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