São Paulo, domingo, 01 de novembro de 2009

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Assistencialismo volta a puxar economia

Transferências do Bolsa Família e de aposentadorias vinculadas ao salário mínimo retomam protagonismo neste ano

Em 2008, renda do trabalho havia superado, depois de sete anos, a dos programas sociais como principal fator de redução da desigualdade


MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

As transferências do Bolsa Família e das aposentadorias vinculadas ao salário mínimo voltaram, em 2009, a ter o protagonismo que marcou a economia sob o governo Lula.
Essa é a realidade desenhada pelas principais pesquisas feitas em 2009 sobre o efeito da crise mundial no bem-estar econômico dos brasileiros.
Em 2008, a renda do trabalho havia superado, depois de sete anos, a dos programas sociais como fator primordial de redução da desigualdade.
Foi como se o motor do equilíbrio social, empurrado pelos benefícios sociais, tivesse finalmente "pegado no tranco"; e morrido de novo após a crise.
As pesquisas trazem outra conclusão: devido aos programas de transferência de renda, que priorizam as regiões onde a economia privada é mais fraca, a crise afetou os brasileiros de forma assimétrica.

Brasil industrial
O "Brasil industrial" sofreu mais que o "Brasil rural"; o "Brasil das capitais" sofreu mais que o "Brasil das periferias"; e o "Brasil do Sul e do Sudeste" sofreu mais que o "Brasil do Norte e do Nordeste".
Datafolha e outros institutos, públicos e privados, vão nessa direção. É o que provavelmente mostrará, com mais detalhes, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2009, a ser divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Sem São Paulo
"Se o Brasil não tivesse São Paulo, a resistência estatística do país à crise seria ainda maior", diz Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV.
"Nas periferias do Nordeste, as classes A, B e C cresceram 12% de agosto de 2008, antes da turbulência, a agosto de 2009. É como se, nessas regiões, a crise não tivesse existido", diz.
Já a parcela da população do município de São Paulo que figurava nas classes A, B e C apresentou retração de 0,8% no período.
Neri formula suas pesquisas com base em dados divulgados pelo IBGE.
"Os números mostram, de forma inequívoca, o impacto forte dos programas sociais no combate à crise", diz Neri.
A pesquisa Datafolha, com metodologia própria, apontou um desempenho formidável dessas três classes, que estão no ápice da pirâmide social, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Elas partiram de uma fatia de 75% para 81% de 2008 a 2009. Na região Sul, caíram de 89% para 88%. Na Sudeste, apresentaram ligeiro aumento, de 83% para 85%.

Trabalho
No período entre 2001 e 2008, as transferências promovidas pelo Bolsa Família e pelas aposentadorias vinculadas ao salário mínimo haviam sido muito importantes para a redução da desigualdade social no Brasil.
No ano passado veio a mudança: a renda do trabalho foi responsável por 75% da queda da desigualdade, enquanto o aumento do salário mínimo respondeu por apenas 16% do recuo da desigualdade, segundo dados do Ipea.
O pesquisador Sergei Soares avaliou que, quando saíssem os resultados da Pnad, o Bolsa Família e todos os outros benefícios indexados ao salário mínimo voltariam a deter mais importância.
"Veremos, daqui a um ano, um efeito possivelmente ainda importante do mercado de trabalho. Mas veremos um efeito ainda mais importante das transferências do que o observado em 2008." É, de fato, o que está ocorrendo.


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