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Assistencialismo volta a puxar economia
Transferências do Bolsa Família e de aposentadorias vinculadas ao salário mínimo retomam protagonismo neste ano
Em 2008, renda do trabalho havia superado, depois de sete anos, a dos programas sociais como principal fator de redução da desigualdade
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
As transferências do Bolsa
Família e das aposentadorias
vinculadas ao salário mínimo
voltaram, em 2009, a ter o protagonismo que marcou a economia sob o governo Lula.
Essa é a realidade desenhada
pelas principais pesquisas feitas em 2009 sobre o efeito da
crise mundial no bem-estar
econômico dos brasileiros.
Em 2008, a renda do trabalho havia superado, depois de
sete anos, a dos programas sociais como fator primordial de
redução da desigualdade.
Foi como se o motor do equilíbrio social, empurrado pelos
benefícios sociais, tivesse finalmente "pegado no tranco"; e
morrido de novo após a crise.
As pesquisas trazem outra
conclusão: devido aos programas de transferência de renda,
que priorizam as regiões onde a
economia privada é mais fraca,
a crise afetou os brasileiros de
forma assimétrica.
Brasil industrial
O "Brasil industrial" sofreu
mais que o "Brasil rural"; o
"Brasil das capitais" sofreu
mais que o "Brasil das periferias"; e o "Brasil do Sul e do Sudeste" sofreu mais que o "Brasil
do Norte e do Nordeste".
Datafolha e outros institutos,
públicos e privados, vão nessa
direção. É o que provavelmente
mostrará, com mais detalhes, a
Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) de
2009, a ser divulgada pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Sem São Paulo
"Se o Brasil não tivesse São
Paulo, a resistência estatística
do país à crise seria ainda
maior", diz Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas
Sociais da FGV.
"Nas periferias do Nordeste,
as classes A, B e C cresceram
12% de agosto de 2008, antes da
turbulência, a agosto de 2009.
É como se, nessas regiões, a crise não tivesse existido", diz.
Já a parcela da população do
município de São Paulo que figurava nas classes A, B e C apresentou retração de 0,8% no período.
Neri formula suas pesquisas
com base em dados divulgados
pelo IBGE.
"Os números mostram, de
forma inequívoca, o impacto
forte dos programas sociais no
combate à crise", diz Neri.
A pesquisa Datafolha, com
metodologia própria, apontou
um desempenho formidável
dessas três classes, que estão no
ápice da pirâmide social, principalmente nas regiões Norte e
Centro-Oeste.
Elas partiram de uma fatia de
75% para 81% de 2008 a 2009.
Na região Sul, caíram de 89%
para 88%. Na Sudeste, apresentaram ligeiro aumento, de 83%
para 85%.
Trabalho
No período entre 2001 e
2008, as transferências promovidas pelo Bolsa Família e pelas
aposentadorias vinculadas ao
salário mínimo haviam sido
muito importantes para a redução da desigualdade social no
Brasil.
No ano passado veio a mudança: a renda do trabalho foi
responsável por 75% da queda
da desigualdade, enquanto o
aumento do salário mínimo
respondeu por apenas 16% do
recuo da desigualdade, segundo dados do Ipea.
O pesquisador Sergei Soares
avaliou que, quando saíssem os
resultados da Pnad, o Bolsa Família e todos os outros benefícios indexados ao salário mínimo voltariam a deter mais importância.
"Veremos, daqui a um ano,
um efeito possivelmente ainda
importante do mercado de trabalho. Mas veremos um efeito
ainda mais importante das
transferências do que o observado em 2008." É, de fato, o que
está ocorrendo.
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