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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O crescimento do PIB
O crescimento deve mesmo ficar em 2,8% ao ano, número muito inferior ao sonho
de 4% vivido pelo governo
O IBGE divulgou ontem os números do PIB para o terceiro
trimestre do ano. Com isso, já
conhecemos a performance de nossa
economia nos nove primeiros meses
de 2006, tempo suficiente para o início de uma leitura do resultado final
no último ano do primeiro mandato
do presidente Lula. Os números do
IBGE permitem também uma descida às entranhas da economia brasileira e uma análise mais qualitativa
de seu comportamento nesse período.
O crescimento do PIB deve mesmo ficar em 2,8% ao ano, número
muito inferior ao sonho de 4% vivido
pelo governo e mantido de maneira
quase envergonhada durante a campanha eleitoral de outubro último.
Com isso, o crescimento per capita
será da ordem de 1,2% ao ano em todo o primeiro mandato de Lula, ou
seja, nesse ritmo, o brasileiro vai precisar de 60 anos para dobrar sua renda, que é hoje da ordem de R$ 950 ao
mês. Nesse período, o PIB brasileiro
cresceu apenas 2,6% ao ano em média, muito abaixo do crescimento
mundial de 4,8% ao ano no mesmo
período. É verdade que no governo
FHC o Brasil cresceu um pouco menos, 2,3% ao ano em média, mas o
resto do mundo teve desempenho
bem pior que o dos últimos quatro
anos, ao crescer apenas 3,6% ao ano.
Ou seja, a distância do Brasil para o
resto do mundo aumentou muito no
governo Lula, um quadro bem diferente daquele que o discurso oficial
procura vender à sociedade.
Se compararmos nosso crescimento per capita no período 2003/
2006 ao da economia mundial, calculado pelo FMI, constatamos que
andamos para trás de forma incrível.
Esse sentimento de mediocridade fica reforçado se tomarmos o crescimento médio de algumas economias
emergentes de 8% nesse mesmo período. Se fizermos essa mesma comparação para um período de 20 anos,
chegaremos quase ao desespero.
Mas vou poupar meu leitor desse
verdadeiro exercício de masoquismo
e ficar com os números mais recentes.
Essa situação de inferioridade não
é de agora, pois crescemos menos
que as economias emergentes também no período FHC. Estamos, portanto, diante de um problema estrutural e que o governo do PT, apesar
de todo o seu discurso voluntarista e
ufanista, não conseguiu resolver
mesmo sob condições muito mais
positivas que as enfrentadas por
FHC. Voltarei a essa questão nas
próximas semanas.
Olhando mais detalhadamente os
números recém-divulgados pelo IBGE, podemos tirar algumas conclusões interessantes. Nos primeiros
nove meses do ano, em relação ao
mesmo período do ano passado, o
consumo das famílias cresceu a uma
taxa anual de 3,7%, e o do governo, a
1,9%. Já o investimento em capital fixo aumentou 6%. Mas o comércio
exterior subtraiu um ponto percentual do crescimento, em razão de um
aumento de 16% no volume das importações, contra apenas 5,3% das
exportações.
Em relação aos principais setores
da economia, a indústria continuou a
ser o destaque negativo no ano, refletindo principalmente o impacto do
aumento das importações: cresceu
0,6% no trimestre em relação aos
três meses anteriores e apenas 2,4%
nos 12 meses encerrados em setembro em relação aos 12 meses anteriores. Os números do IBGE confirmam o quadro que temos apresentado sistematicamente ao leitor da Folha e reforçam nosso diagnóstico
sobre a impossibilidade, nas condições atuais, de ambicionarmos nos
próximos anos um crescimento
econômico mais acelerado.
Evidência adicional dessa incapacidade de crescermos está no comportamento de nosso mercado de
trabalho. As estatísticas sobre os
salários formais contabilizadas no
Caged, do Ministério do Trabalho,
mostram um quadro perigoso. Em
2005, os contratos de trabalho com
remuneração até três salários mínimos adicionaram R$ 8,7 bilhões à
massa salarial total, enquanto a redução do emprego entre os que ganham mais de três salários mínimos subtraiu R$ 5,6 bilhões. Está
claro que um bom pedaço do aumento de vagas formais não representa criação de novos empregos e,
além disso, há um achatamento da
renda nos extratos médios da população.
Essa tendência, que continua em
2006, mostra que estamos destruindo contratos de trabalho com
remuneração mais elevada e criando empregos apenas nas faixas de
menor valor e de menor qualificação profissional. Essa é a resposta
natural das empresas ao péssimo
ambiente de negócios existente no
Brasil. O salário médio das admissões registradas no Caged é hoje
equivalente a 1,8 salário mínimo,
contra três salários mínimos registrados em 1998/1999. Essa dinâmica no mercado de trabalho, em
uma economia de mercado, é um
sinal inequívoco de uma economia
sem energia e dinamismo.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 63, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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