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VINICIUS TORRES FREIRE
O ano em que o PIB saiu de férias
Comércio exterior, abatido pelo câmbio desde o início do
ano, talha cada vez mais o crescimento da economia
ERA MESMO O CÂMBIO e não há
mais o que discutir. O grosso
dos motivos de curto prazo
que tem levado a economia brasileira a embicar para o brejo está mesmo no comércio exterior, comprovam os dados de ontem do PIB. Se o
ano tivesse terminado em setembro,
o crescimento teria sido os mesmos
2,28% de 2005. Um fiasco.
Até agora, nos primeiros nove meses de 2006, a diferença entre a
quantidade de produtos exportados
e importados tirou cerca de 1,1 ponto percentual do PIB; nos últimos 12
meses, talhou 0,7 ponto do crescimento. O real forte, o dólar barato,
encarece o produto nacional no
mercado externo e barateia os importados. Quem tem penado mais
devido a esse cenário é a indústria.
O comércio exterior, responsável
importante pelo melhor resultado
da economia do governo Lula, em
2004, deixou de contribuir positivamente para o crescimento entre o final de 2005 e o começo de 2006.
O aspecto mais positivo de mais
um horroroso resultado do PIB trimestral é o investimento, que cresce
e segura uma peteca da economia.
Em parte, embora pareça algo paradoxal, o real forte ajuda o investimento a crescer (importam-se mais
máquinas). No médio e longo prazos, a renovação do maquinário tende, em tese, a aumentar a produtividade e, talvez, a incrementar o crescimento no futuro, se não aparecerem problemas novos.
A questão é que, por ora, ainda não
se sabe bem como o investimento
cresceu nos últimos meses. O dinheiro pode ter sido investido na
construção civil (que está na conta
do investimento), e não em renovação e ampliação da capacidade produtiva. Será preciso esperar dados
mais detalhados para saber o que
aconteceu com o investimento.
O que fazer? Mexer no câmbio?
Como? O Banco Central já comprou
uns US$ 35 bilhões neste ano para
segurar a valorização do real. Conseguiu apenas manter estável a cotação da moeda. Por aí, não dá. Dado o
baixo crescimento do PIB, o saldo
comercial grande e os juros ainda altos, o real forte tem pé de chumbo.
A solução rumorejada ontem no
entorno de Lula era fazer o governo
gastar mais para compensar os juros
do BC. Isso é macumba contraproducente. Investir mais, com contenção de gasto corrente, pode dar certo, além de abrir a economia de forma prudente e bem dirigida e outras
medidas para estimular investimento privado (boa regulação do mercado e incentivos bem pensados). Mas
nossos planos de curto ou longo prazo por ora são bem mediocrezinhos.
Estamos encalacrados.
Bobagem do colunista
Este colunista escreveu disparates.
Na coluna de ontem, em parte da
edição do jornal, chamou juros prefixados de pós-fixados e vice-versa.
Argumentava que a dívida pública
é potencialmente explosiva, pois
sujeita a juros variáveis, pós-fixados (e não prefixados, como escrito), e que esta parcela pós-fixada
cai muito devagar. Na coluna de domingo passado, o título do gráfico
falava em "contribuição" das estatais federais ao superávit primário
federal, quando se tratava da proporção do superávit das estatais em
relação ao do governo (Tesouro, BC
e INSS). Desculpas aos eventuais
leitores pela confusão.
vinit@uol.com.br
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