São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

O ano em que o PIB saiu de férias

Comércio exterior, abatido pelo câmbio desde o início do ano, talha cada vez mais o crescimento da economia

ERA MESMO O CÂMBIO e não há mais o que discutir. O grosso dos motivos de curto prazo que tem levado a economia brasileira a embicar para o brejo está mesmo no comércio exterior, comprovam os dados de ontem do PIB. Se o ano tivesse terminado em setembro, o crescimento teria sido os mesmos 2,28% de 2005. Um fiasco.
Até agora, nos primeiros nove meses de 2006, a diferença entre a quantidade de produtos exportados e importados tirou cerca de 1,1 ponto percentual do PIB; nos últimos 12 meses, talhou 0,7 ponto do crescimento. O real forte, o dólar barato, encarece o produto nacional no mercado externo e barateia os importados. Quem tem penado mais devido a esse cenário é a indústria.
O comércio exterior, responsável importante pelo melhor resultado da economia do governo Lula, em 2004, deixou de contribuir positivamente para o crescimento entre o final de 2005 e o começo de 2006.
O aspecto mais positivo de mais um horroroso resultado do PIB trimestral é o investimento, que cresce e segura uma peteca da economia. Em parte, embora pareça algo paradoxal, o real forte ajuda o investimento a crescer (importam-se mais máquinas). No médio e longo prazos, a renovação do maquinário tende, em tese, a aumentar a produtividade e, talvez, a incrementar o crescimento no futuro, se não aparecerem problemas novos.
A questão é que, por ora, ainda não se sabe bem como o investimento cresceu nos últimos meses. O dinheiro pode ter sido investido na construção civil (que está na conta do investimento), e não em renovação e ampliação da capacidade produtiva. Será preciso esperar dados mais detalhados para saber o que aconteceu com o investimento.
O que fazer? Mexer no câmbio?
Como? O Banco Central já comprou uns US$ 35 bilhões neste ano para segurar a valorização do real. Conseguiu apenas manter estável a cotação da moeda. Por aí, não dá. Dado o baixo crescimento do PIB, o saldo comercial grande e os juros ainda altos, o real forte tem pé de chumbo.
A solução rumorejada ontem no entorno de Lula era fazer o governo gastar mais para compensar os juros do BC. Isso é macumba contraproducente. Investir mais, com contenção de gasto corrente, pode dar certo, além de abrir a economia de forma prudente e bem dirigida e outras medidas para estimular investimento privado (boa regulação do mercado e incentivos bem pensados). Mas nossos planos de curto ou longo prazo por ora são bem mediocrezinhos. Estamos encalacrados.

Bobagem do colunista
Este colunista escreveu disparates. Na coluna de ontem, em parte da edição do jornal, chamou juros prefixados de pós-fixados e vice-versa.
Argumentava que a dívida pública é potencialmente explosiva, pois sujeita a juros variáveis, pós-fixados (e não prefixados, como escrito), e que esta parcela pós-fixada cai muito devagar. Na coluna de domingo passado, o título do gráfico falava em "contribuição" das estatais federais ao superávit primário federal, quando se tratava da proporção do superávit das estatais em relação ao do governo (Tesouro, BC e INSS). Desculpas aos eventuais leitores pela confusão.


vinit@uol.com.br

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