São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Com aperto no crédito, bancos iniciam demissões

Mais prejudicadas, instituições menores já cortaram 890 pessoas, segundo sindicato

Mais de 500 profissionais de bancos de investimento também foram demitidos; Febraban nega que haja desligamentos em massa

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos segmentos que mais contrataram em 2007, o setor bancário desponta agora como um dos primeiros a demitir por conta da expansão menor no crédito e da desaceleração global. As demissões chegaram com força aos bancos pequenos, os mais prejudicados com o empoçamento do crédito, mas atingem também executivos da área de investimentos.
Com dificuldade para captar dinheiro no mercado interno e emprestar, bancos pequenos já demitiram ao menos 890 pessoas, segundo os sindicatos. A maior parte aconteceu na "força de venda", com os chamados "pastinhas" -agentes de crédito contratados ou terceirizados (não são bancários) que vão ao consumidor oferecer empréstimos. Nesses bancos, os cortes passam de 10% do total de funcionários, dizem os sindicatos.
Outro setor que demitiu foi o de bancos de investimento. Responsável pelo boom de aberturas de capital em 2007, o setor reduziu parte das estruturas criadas que pouco trabalharam neste ano. Com a crise, esses profissionais foram deslocados para negócios como fusões e aquisições.
A necessidade de cortes desses executivos costuma ser mitigada por uma redução drástica nos salários. Mais da metade dos ganhos anuais desses profissionais ocorre por bonificação vinculada a participações e metas. Como o movimento foi fraco, a expectativa é que os bônus sejam magros em 2009.
Entre os bancos de investimento, foram registrados cortes de mais 500 profissionais em São Paulo e no Rio no UBS Pactual, no Crédit Suisse, no Citibank, no Itaú BBA, no Goldman Sachs, no BNP, no Société Générale, no Merrill Lynch e no JPMorgan.
Em alguns desses bancos, as demissões chegaram a até 25% dos executivos, quase todos profissionais com pós-graduação e salários elevados. Nenhum desses bancos negou as demissões, mas também não confirmou o número nem quis comentar o assunto.
Nesses bancos, só foram preservadas as equipes que cuidam da gestão de fortunas, responsável pela captação de recursos. Equipes do Crédit e do UBS foram até reforçadas.
Somam-se a isso os esforços de bancos como Santander e Real, que iniciaram em agosto a fusão de suas operações e buscam ganhos de sinergia. Em 2009, o movimento chega ao Itaú e ao Unibanco. O Santander/Real nega que tenha demitido por conta da crise e diz que pretende contratar em 2009. A maioria dos desligamentos decorre de sobreposições.
O Santander não revela o número de cortes, mas o Sindicado dos Bancários de São Paulo (CUT) confirma o desligamento de 20 pessoas na Aymoré, uma das mais atuantes em financiamento de veículos.
O HSBC fechou um centro administrativo no Rio com 200 pessoas. Segundo o banco, metade desses funcionários foi aproveitada em São Paulo e em Curitiba. Os bancários dizem que ocorrem outras 60 demissões no HSBC em São Paulo.
Já o Bradesco decidiu fazer uma reestruturação na tesouraria do BBI, seu banco de investimento. Com a saída de um diretor, o banco deslocou o resto da equipe de investimento da avenida Paulista para a tesouraria do varejo em Osasco. A vaga do diretor foi fechada.
Itaú e Unibanco dizem que não fizeram demissões significativas além da rotatividade usual. Já o Citibank avalia como reduzir a folha de pagamento no país, seguindo orientação da matriz de demitir 52 mil e cortar 20% dos gastos.
Para Luiz Claudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de SP, as atuais demissões não sinalizam um corte estrutural, mas uma redução de funcionários ligados ao crédito. O sindicato foi a Brasília reivindicar que a venda de carteiras de crédito para bancos públicos tenha uma contrapartida para manter empregos. "Como não gera novos créditos, o banco que vende a carteira para o BB e a Caixa demite. A demissão começou entre os bancos pequenos e agora está chegando aos bancos grandes."
Segundo Magnus Apostólico, diretor da Febraban, as demissões até agora estão dentro da rotatividade normal. "A Febraban não tem notícia de desligamentos em massa."


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