São Paulo, Domingo, 02 de Janeiro de 2000


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CONJUNTURA
Com grandes desafios à frente, a moeda única atua como mecanismo de ajuste das 11 economias
Euro apenas sobrevive ao primeiro ano

CÁTIA LASSALVIA
da Redação

O euro completa o primeiro aniversário sem alarde e com muitas críticas ao seu desempenho diante do dólar.
No entanto, a moeda única de 11 países da União Européia, resultado de um processo de integração regional que está sendo articulado desde 1957, parece estar dando passos cautelosos para não perder o equilíbrio.
A opinião é unânime entre os especialistas, da área acadêmica e do mercado, ouvidos pela Folha. A moeda única e a integração parecem ter optado, até por força das circunstâncias, por um avanço mais sólido do que dinâmico.
"Para analisar o desempenho do euro, é necessário separar o que é estrutural do o que é conjuntural. Sem essa distinção, ficamos à mercê de opiniões sensacionalistas", afirma Christian Lohbauer, doutor em Ciência Política pela USP e especialista em União Européia.
Segundo Lohbauer, a análise puramente conjuntural do primeiro ano de vida do euro é negativa, pois a moeda desenhou um gráfico de queda em relação ao dólar -ela foi cotada a 1,16 por dólar no seu lançamento, em janeiro de 99, e chegou a valer menos de um dólar em dezembro.
"Existem menos problemas do que se previam em relação ao euro. Mas ele ainda está se estruturando", afirma Andrew Hurrell, coordenador da área de relações internacionais do Nuffield College, da Universidade de Oxford.
Segundo Hurrell, a "fraqueza" do euro é muito mais psicológica do que real. "A desvalorização da moeda, mesmo que pequena, tem ajudado a França e a Alemanha a alavancar suas exportações. Isso é estratégico", diz Hurrell.
Para Lohbauer, qualquer análise sobre o euro deve levar em conta o perfil econômico das economias envolvidas (veja tabela ao lado com o desempenho das três maiores forças da nova moeda). Só a Alemanha, por exemplo, é responsável por 30% da economia do euro. "Uma coisa não pode ser analisada sem a outra."

Contradições
A zona do euro projeta confiança nos anos 2000 e 2001, com crescimento sustentado da economia, inflação de 2% anuais e desemprego em declínio.
Um euro mais fraco aumenta as exportações e deve alavancar, segundo estimativas do banco de investimentos Goldman Sachs, um crescimento entre 2,6% e 3,1% no Produto Interno Bruto da região em 2000.
"Se analisarmos o euro por meio do desempenho das economia dos países, podemos dizer que ele está, estruturalmente, indo bem", diz Lohbauer. Segundo ele, isso vai ficar claro em 2000, quando as economias nacionais começarem a dar sinais mais nítidos de recuperação, gerando um resultado final positivo à região.
"Mais do que isso, o euro provará ser o resultado de um colegiado democrático, que definiu e apoiou um projeto regional com a intenção de ser sólido", afirma Lohbauer.
Por outro lado, as perspectivas de serem bem-sucedidas as reformas econômicas fundamentais à moeda -como novas regras sobre o mercado de trabalho e ajuste fiscal- esbarram em divergências e interesses políticos diversos.

Nova agenda
Na opinião do professor Hurrell, de Oxford, a União Européia está atravessando um período de transição em três pontos principais: a definição de sua segurança, o crescimento do bloco -que pode chegar a 21 membros no início do próximo século- e as reformas estruturais para a integração econômica.
No curto prazo, o euro deve refletir, segundo sua análise, as incertezas da economia alemã e de sua relação com o Banco Central Europeu (BCE), que monitora o desempenho da zona do euro.
O BCE, fundado em junho de 98, é a instituição central do sistema europeu de bancos. Sua credibilidade varia conforme a independência que mantém em relação às pressões nacionais.
"Seu poder de atuação depende dessa independência e da manutenção de uma política econômica estável", afirma Marie Cavanaugh, da agência classificadora de risco Standard & Poor's.
Para ela, o euro tem grandes desafios pela frente, entre os quais alavancar o crescimento da região e se moldar diante das mudanças que poderão ocorrer na União Européia nos próximos anos.


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