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CONJUNTURA
Com grandes desafios à frente, a moeda única atua como mecanismo de ajuste das 11 economias
Euro apenas sobrevive ao primeiro ano
CÁTIA LASSALVIA
da Redação
O euro completa o primeiro
aniversário sem alarde e com
muitas críticas ao seu desempenho diante do dólar.
No entanto, a moeda única de 11
países da União Européia, resultado de um processo de integração regional que está sendo articulado desde 1957, parece estar
dando passos cautelosos para não
perder o equilíbrio.
A opinião é unânime entre os
especialistas, da área acadêmica e
do mercado, ouvidos pela Folha.
A moeda única e a integração parecem ter optado, até por força
das circunstâncias, por um avanço mais sólido do que dinâmico.
"Para analisar o desempenho
do euro, é necessário separar o
que é estrutural do o que é conjuntural. Sem essa distinção, ficamos à mercê de opiniões sensacionalistas", afirma Christian
Lohbauer, doutor em Ciência Política pela USP e especialista em
União Européia.
Segundo Lohbauer, a análise
puramente conjuntural do primeiro ano de vida do euro é negativa, pois a moeda desenhou um
gráfico de queda em relação ao
dólar -ela foi cotada a 1,16 por
dólar no seu lançamento, em janeiro de 99, e chegou a valer menos de um dólar em dezembro.
"Existem menos problemas do
que se previam em relação ao euro. Mas ele ainda está se estruturando", afirma Andrew Hurrell,
coordenador da área de relações
internacionais do Nuffield College, da Universidade de Oxford.
Segundo Hurrell, a "fraqueza"
do euro é muito mais psicológica
do que real. "A desvalorização da
moeda, mesmo que pequena, tem
ajudado a França e a Alemanha a
alavancar suas exportações. Isso é
estratégico", diz Hurrell.
Para Lohbauer, qualquer análise sobre o euro deve levar em conta o perfil econômico das economias envolvidas (veja tabela ao lado com o desempenho das três
maiores forças da nova moeda).
Só a Alemanha, por exemplo, é
responsável por 30% da economia do euro. "Uma coisa não pode ser analisada sem a outra."
Contradições
A zona do euro projeta confiança nos anos 2000 e 2001, com crescimento sustentado da economia,
inflação de 2% anuais e desemprego em declínio.
Um euro mais fraco aumenta as
exportações e deve alavancar, segundo estimativas do banco de
investimentos Goldman Sachs,
um crescimento entre 2,6% e
3,1% no Produto Interno Bruto da
região em 2000.
"Se analisarmos o euro por
meio do desempenho das economia dos países, podemos dizer
que ele está, estruturalmente, indo bem", diz Lohbauer. Segundo
ele, isso vai ficar claro em 2000,
quando as economias nacionais
começarem a dar sinais mais nítidos de recuperação, gerando um
resultado final positivo à região.
"Mais do que isso, o euro provará ser o resultado de um colegiado
democrático, que definiu e
apoiou um projeto regional com a
intenção de ser sólido", afirma
Lohbauer.
Por outro lado, as perspectivas
de serem bem-sucedidas as reformas econômicas fundamentais à
moeda -como novas regras sobre o mercado de trabalho e ajuste fiscal- esbarram em divergências e interesses políticos diversos.
Nova agenda
Na opinião do professor Hurrell, de Oxford, a União Européia
está atravessando um período de
transição em três pontos principais: a definição de sua segurança,
o crescimento do bloco -que pode chegar a 21 membros no início
do próximo século- e as reformas estruturais para a integração
econômica.
No curto prazo, o euro deve refletir, segundo sua análise, as incertezas da economia alemã e de
sua relação com o Banco Central
Europeu (BCE), que monitora o
desempenho da zona do euro.
O BCE, fundado em junho de
98, é a instituição central do sistema europeu de bancos. Sua credibilidade varia conforme a independência que mantém em relação às pressões nacionais.
"Seu poder de atuação depende
dessa independência e da manutenção de uma política econômica estável", afirma Marie Cavanaugh, da agência classificadora
de risco Standard & Poor's.
Para ela, o euro tem grandes desafios pela frente, entre os quais
alavancar o crescimento da região
e se moldar diante das mudanças
que poderão ocorrer na União
Européia nos próximos anos.
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