|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aumenta déficit na balança do petróleo
Apesar da "auto-suficiência" anunciada em 2006, importações da commodity subiram 17% de janeiro a outubro de 2007
Necessidade de compra do petróleo leve, diferente do que é mais produzido no país, explica alta superior a 100% nas contas do produto
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit na balança comercial de petróleo aumentou,
mesmo com "auto-suficiência"
na produção do combustível,
proclamada em abril de 2006.
A quantidade de petróleo importada pelo país de janeiro a
outubro de 2007 cresceu quase
17% na comparação com o mesmo período de 2006. O déficit
na transação comercial do
combustível subiu de US$ 2,141
bilhões para US$ 4,457 bilhões
-mais do que duplicou.
De janeiro a outubro de
2006, o Brasil importou 17,7 bilhões de litros de petróleo. Em
igual período de 2007, a quantidade subiu para 21,3 bilhões de
litros, segundo informa a ANP
(Agência Nacional do Petróleo). Na compra do petróleo no
mercado internacional, o país
gastou aproximadamente US$
7,7 bilhões em 2006 (até outubro). Em 2007, esse valor subiu
para cerca de US$ 9,5 bilhões.
A auto-suficiência não é alcançada na prática por causa
das características do petróleo
produzido no Brasil.
O país produz óleo pesado
(mais viscoso, mais barato) e
não tem condições de refinar
essa matéria-prima e produzir
derivados (óleo, gasolina, querosene etc). O refino do petróleo pesado é mais caro e tem dificuldades técnicas. Por isso, é
necessário importar petróleo
leve (menos viscoso, mais caro)
e misturar ao pesado.
"Nós temos uma auto-suficiência virtual", afirma o pesquisador Giuseppe Bacoccoli,
da Coppe (Coordenação dos
Programas de Pós-Graduação
de Engenharia da UFRJ).
"Importamos o petróleo
mais valioso e exportamos o
menos valioso", afirma.
Segundo ele, a situação pode
melhorar no médio prazo, caso
as expectativas da Petrobras
com a produção do campo de
Tupi se confirmem.
De acordo com a análise feita
pelo professor Saul Suslick, diretor do Cepetro (Centro de
Estudos do Petróleo da Unicamp), o déficit na balança comercial de petróleo se deve a
atrasos e dificuldades na operação das plataformas da Petrobras. Ele avalia que a balança
comercial do petróleo deverá
deixar de ser deficitária a partir
do final deste ano.
"Há várias plataformas entrando em operação, que vão
produzir um óleo mais leve do
que o que está sendo atualmente produzido. Isso deve melhorar a balança comercial", disse.
De acordo com Suslick, a Petrobras não errou ao divulgar a
auto-suficiência. "A Petrobras
sempre foi muito correta nos
seus comunicados. O problema
é a pirotecnia que se faz depois", afirmou.
Ainda de acordo com o diretor do Cepetro, a descoberta do
campo de Tupi não deverá contribuir para resolver a questão
da balança comercial de petróleo no curto prazo. "Se as reservas se confirmarem, na melhor
das hipóteses, a produção em
grande escala vai acontecer em
torno de 2014 ou 2015", disse.
De acordo com Felipe Dias,
do setor de Economia e Política
Energética do IBP (Instituto
Brasileiro de Petróleo, Gás e
Biocombustíveis), a produção
nacional de petróleo se manteve relativamente estável de
2006 a 2007 (1,72 milhão de
barris por dia em 2006 e 1,75
milhão em 2007).
"A produção não cresceu como se esperava no inicio de
2007, possivelmente por questões técnicas", informou, via
correio eletrônico.
Segundo ele, não há recuo de
produção que justifique piora
no saldo comercial.
Para o analista, a explicação
se deve mais ao tipo de petróleo
produzido no país (pesado, de
menor valor) e às cotações no
mercado internacional.
"Para obter um saldo comercial zero, temos de exportar
mais que importar, em algum
nível que equilibre esse diferencial de preço [entre óleo pesado e leve]. Pois bem, o que
aconteceu ao longo de 2007 foi
uma piora das condições comerciais para o país nessa transação", analisa.
"Não apenas o preço do petróleo subiu fortemente, mas
este diferencial entre o preço
de óleos de melhor e pior qualidade também aumentou, afetando negativamente o saldo
comercial brasileiro", explica
Dias. Ele, no entanto, espera
uma mudança nessa situação a
partir deste ano.
Novas unidades
"Neste ano devemos observar uma inversão desta situação, com a entrada em produção das novas unidades previstas no Plano de Negócios da Petrobras. Breve teremos um saldo positivo em exportações líquidas que compense esse diferencial de preços", afirmou.
Ainda segundo ele, o futuro
aponta para uma situação bem
mais confortável.
"Na próxima década, a produção de petróleo no Brasil deverá crescer a uma média de
cerca de 7% ao ano, enquanto o
consumo, caso o Brasil retome
de fato um ritmo mais intenso e
sustentável de crescimento,
não deve passar dos 3% ao ano."
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frase Índice
|