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PAULO RABELLO DE CASTRO
Promessas de Ano Novo
O país agora respira, isso não
é pouco. Passamos 30 anos sufocados pela grande crise do fim do "milagre econômico"
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A ECONOMIA em 2007 passou
com louvor. No Brasil, tudo o
que termina melhor do que
começa merece aplauso e reconhecimento. Havia bastante tempo vínhamos descendo o plano inclinado
da estagnação consentida. Foram
três décadas de "desmanche da modernidade" (1977 a 2006). Uma geração inteira dedicada a andar para
trás, perseguindo fantasmas, ouvindo seus próprios medos. Não mais.
O banzo acabou.
Que isso tem a ver com a perspectiva econômica, num caderno da
Folha de nome Dinheiro? Tudo a
ver com a mola propulsora de qualquer progresso, em qualquer lugar,
sempre: as expectativas dos "agentes econômicos", ou seja, o que as
pessoas esperam do futuro. O país
agora respira normalmente. Isso
não é pouco. Passamos 30 anos sufocados pela grande crise do fim do
"milagre econômico" dos anos 70.
De trombada em trombada, o Brasil evitou o colapso econômico que
traria o beiço da dívida externa, como fez a vizinha Argentina. Até
2001, quando quebrou, o "rating"
de crédito da Argentina era mais
elevado que o nosso. O Brasil era o
patinho feio. Mas hoje lideramos o
processo econômico na América
do Sul, por nos havermos provado
melhores na mais difícil prova
olímpica: pagar as contas ao fim cada bebedeira. Honramos compromissos. Se o nosso "investment
grade" ainda não veio, virá, e logo.
Virá assim que nos despreocuparmos do seu anúncio pelas agências
de risco. Melhor concentrar nosso
foco no excelente ano que 2008 será, com crescimento superior a 5%
ao ano, na esteira de novos investimentos, com ou sem agravamento
do quadro internacional.
Óbvio que resta muito a fazer.
Governo e oposição precisam se
entender melhor sobre os grandes
desafios brasileiros, enxergar mais
o povo por trás de suas próprias
agendas políticas. A estabilidade
das instituições políticas (STF, Ministério Público, Congresso, Forças Armadas, imprensa) e uma
agenda nacional de desenvolvimento são essenciais para marcar
nosso ingresso na modernidade.
Para melhorar, nos próximos 30
anos, primeiro é parar de olhar para trás. Fez bem o presidente Lula
em esquecer a CPMF. O recado da
sua extinção foi bem dado. O Brasil
precisa caminhar urgentemente
para a simplificação tributária. O
projeto engavetado do Ministério
da Fazenda seria um bom começo
de conversa.
Resgatar a modernidade também requer ultrapassar os limites
do cimento, do ferro e da areia das
obras do PAC e erigir um monumento institucional -leis e agências para cuidar de sua aplicação-
que promova de fato a distribuição
adequada da riqueza, num ambiente de total liberdade e criatividade.
Estou falando de um pacto com a
juventude do Brasil, os que virão
depois de nós, os 70 milhões de jovens-adultos que ingressarão, nos
próximos 20 anos, no mercado de
trabalho brasileiro. Qual o desenho
da Previdência Social para eles
-seria a atual? Qual a perspectiva
de sua saúde -o SUS atual? Quais
as chances de sua educação básica,
profissional, e de reciclagem periódica -as de hoje? E a inserção dos
jovens no mundo da tecnologia de
informação e das ciências da vida?
Esses são os verdadeiros desafios, para muito além do tal "investment grade", fichinha perto
desses obstáculos ao progresso
sustentado. Que a minha geração, a
de 1968, que não mostrou ainda a
que veio, aproveite essa boa chance
e, em 2008, comece a virar o jogo.
São meus votos e minha torcida.
PAULO RABELLO DE CASTRO , 58, doutor em economia
pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do
Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora
de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria
econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da
Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias,
nesta coluna.
rabellodecastro@uol.com.br
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