São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

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PAULO RABELLO DE CASTRO

Promessas de Ano Novo


O país agora respira, isso não é pouco. Passamos 30 anos sufocados pela grande crise do fim do "milagre econômico"

A ECONOMIA em 2007 passou com louvor. No Brasil, tudo o que termina melhor do que começa merece aplauso e reconhecimento. Havia bastante tempo vínhamos descendo o plano inclinado da estagnação consentida. Foram três décadas de "desmanche da modernidade" (1977 a 2006). Uma geração inteira dedicada a andar para trás, perseguindo fantasmas, ouvindo seus próprios medos. Não mais. O banzo acabou.
Que isso tem a ver com a perspectiva econômica, num caderno da Folha de nome Dinheiro? Tudo a ver com a mola propulsora de qualquer progresso, em qualquer lugar, sempre: as expectativas dos "agentes econômicos", ou seja, o que as pessoas esperam do futuro. O país agora respira normalmente. Isso não é pouco. Passamos 30 anos sufocados pela grande crise do fim do "milagre econômico" dos anos 70.
De trombada em trombada, o Brasil evitou o colapso econômico que traria o beiço da dívida externa, como fez a vizinha Argentina. Até 2001, quando quebrou, o "rating" de crédito da Argentina era mais elevado que o nosso. O Brasil era o patinho feio. Mas hoje lideramos o processo econômico na América do Sul, por nos havermos provado melhores na mais difícil prova olímpica: pagar as contas ao fim cada bebedeira. Honramos compromissos. Se o nosso "investment grade" ainda não veio, virá, e logo.
Virá assim que nos despreocuparmos do seu anúncio pelas agências de risco. Melhor concentrar nosso foco no excelente ano que 2008 será, com crescimento superior a 5% ao ano, na esteira de novos investimentos, com ou sem agravamento do quadro internacional. Óbvio que resta muito a fazer.
Governo e oposição precisam se entender melhor sobre os grandes desafios brasileiros, enxergar mais o povo por trás de suas próprias agendas políticas. A estabilidade das instituições políticas (STF, Ministério Público, Congresso, Forças Armadas, imprensa) e uma agenda nacional de desenvolvimento são essenciais para marcar nosso ingresso na modernidade.
Para melhorar, nos próximos 30 anos, primeiro é parar de olhar para trás. Fez bem o presidente Lula em esquecer a CPMF. O recado da sua extinção foi bem dado. O Brasil precisa caminhar urgentemente para a simplificação tributária. O projeto engavetado do Ministério da Fazenda seria um bom começo de conversa.
Resgatar a modernidade também requer ultrapassar os limites do cimento, do ferro e da areia das obras do PAC e erigir um monumento institucional -leis e agências para cuidar de sua aplicação- que promova de fato a distribuição adequada da riqueza, num ambiente de total liberdade e criatividade.
Estou falando de um pacto com a juventude do Brasil, os que virão depois de nós, os 70 milhões de jovens-adultos que ingressarão, nos próximos 20 anos, no mercado de trabalho brasileiro. Qual o desenho da Previdência Social para eles -seria a atual? Qual a perspectiva de sua saúde -o SUS atual? Quais as chances de sua educação básica, profissional, e de reciclagem periódica -as de hoje? E a inserção dos jovens no mundo da tecnologia de informação e das ciências da vida?
Esses são os verdadeiros desafios, para muito além do tal "investment grade", fichinha perto desses obstáculos ao progresso sustentado. Que a minha geração, a de 1968, que não mostrou ainda a que veio, aproveite essa boa chance e, em 2008, comece a virar o jogo. São meus votos e minha torcida.


PAULO RABELLO DE CASTRO , 58, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

rabellodecastro@uol.com.br


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