São Paulo, sábado, 2 de janeiro de 1999

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TRABALHO
Varejo demitiu mais do que a indústria por causa da automação e também das fusões e aquisições de empresas
Comércio foi vilão do emprego em 98

Cleo Velleda - 23.out.97/Folha Imagem
Pedro Paulo Martoni Branco, da Fundação Seade, que prevê mais desemprego no comércio em 1999


MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

O comércio roubou da indústria o papel de vilão do emprego em 98 na Grande São Paulo.
Se em anos anteriores as fábricas foram as principais responsáveis pelo desemprego na região metropolitana da capital paulista, em 98 o setor que mais cortou emprego foi o varejo.
Como ocorreu na indústria após a abertura comercial e a maior competição dos produtos importados, o comércio paulista entrou em um processo de reestruturação produtiva, que também provocou perda de postos de trabalho.
De acordo com informações do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), de janeiro a novembro deste ano o comércio foi responsável pelo fechamento de 112 mil postos de trabalho.
No mesmo período, a indústria no Estado de São Paulo cortou relativamente menos: apenas 17 mil vagas.
Ao final de novembro, 7,21 milhões de pessoas tinham algum tipo de ocupação na região metropolitana de São Paulo, sendo que 1,139 milhão estavam no comércio.
A atividade industrial empregava 1,435 milhão e o setor de serviços, 3,792 milhões. A taxa de desemprego estava em 17,7% da PEA (População Economicamente Ativa), ou seja, cerca de 1,5 milhão de pessoas estavam desempregadas.
˛ Inversão de papéis
Em 1997, as indústrias instaladas na Grande São Paulo fecharam 107 mil postos de trabalho, enquanto as lojas terminaram o ano com apenas 8.000 vagas a menos do que no ano anterior.
"Como aconteceu com a indústria, novos métodos de administração, maior uso de tecnologia e concentração patrimonial estão diminuindo o emprego no comércio", explica Pedro Paulo Martoni Branco, diretor-executivo da Fundação Seade.
Esse processo, assim como na indústria, é irreversível. Ou seja, muitos postos de trabalho que foram fechados "não vão voltar", afirma o especialista.
Em 98, houve um grande número de aquisições entre supermercados, por exemplo. Nessas operações, é comum ocorrerem demissões por sobreposição de funções.
Muitas dessas aquisições foram realizadas por grupos de varejo estrangeiros, que trazem novos padrões de tecnologia e de gestão administrativa.
Especialistas em fusões e aquisições prevêem que o processo de compra e venda de empresas do setor de comércio vai continuar nos próximos anos.
No Brasil, ainda haveria muito espaço para esse tipo de operações já que o número de pequenas e médias empresas varejistas seria bem maior do que em outros países.
No caso dos supermercados, por exemplo, existem muitas empresas controladas e administradas por famílias -e elas podem ser o alvo de grandes grupos interessados em se expandir rapidamente no país.
A tendência de concentração no setor varejista não é exclusiva da Grande São Paulo, mas ocorre em todo o país.
A mais recente operação desse tipo foi a aquisição da rede de lojas de departamento gaúcha Renner pela norte-americana J.C. Penney, em dezembro.
Em novembro, o grupo português Sonae, que já operava no Sul do país, adquiriu a rede Mercadorama, do Paraná. O mesmo grupo havia comprado também a rede Cândia.
O grupo Pão de Açúcar realizou aquisições em 98, assim como o Carrefour, a maior rede de supermercados em faturamento.
Segundo Martoni Branco, a reestruturação ocorre em quase todos os tipos de comércio: redes de supermercados, lojas de departamentos e estabelecimentos que atendem consumidores de alto poder aquisitivo.
"Com a generalização do código de barras e da leitura ótica nos caixas, algumas funções típicas do comércio estão desaparecendo", diz.
˛ Conjuntura
Em um ano de conjuntura econômica difícil, com taxas de juros altas e retração na atividade econômica, a reestruturação produtiva torna-se especialmente perversa para o nível de emprego.
Sazonalmente, o comércio costuma contratar a cada final de ano, predominantemente trabalhadores temporários.
Após as vendas de final de ano, janeiro, fevereiro e março registram altos índices de demissões.
No final de 98, devido aos juros altos e atividade econômica em baixa, o comércio mais demitiu que contratou.
Desta forma, a expectativa dos analistas da Fundação Seade e do Dieese para este início de ano é aumento acima do normal das demissões no varejo.



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