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Plano de megafraude na Bolsa londrina foi preparado em SP
Documentos "provavelmente falsos" do BB foram utilizados para atrair investidores; relatório não comprova participação de servidor do banco estatal
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Parte significativa da megafraude de US$ 600 milhões na
Bolsa de Londres (que voltou à
tona na semana passada com a
prisão de seis suspeitos) foi arquitetada em São Paulo, revela
relatório confidencial do Escritório de Fraudes Graves do Reino Unido, obtido pela Folha.
Por meio de documentos
"provavelmente falsos" do
Banco do Brasil, que chegaram
a ser autenticados em cartório
de São Paulo, a gestora de investimentos Langbar International Limited simulou depósitos milionários na instituição
estatal, usados para catapultar
as ações da empresa no mercado financeiro londrino.
Com o auxílio do Ministério
da Justiça brasileiro, os investigadores britânicos reconstituíram os passos de três executivos da Langbar em São Paulo e
levantaram a hipótese de participação de funcionários do
Banco do Brasil na elaboração
da papelada, que permitiu à
empresa lucrar mais de US$ 66
milhões em poucos dias.
Apesar das suspeitas, os documentos a que a Folha teve
acesso não comprovam a participação de servidores do banco
nas fraudes. Na última quarta-feira, seis acusados foram presos na Espanha -cinco espanhóis e um argentino. A investigação continua.
No Brasil, os agentes britânicos apreenderam documentos
bancários e correspondências
supostamente trocadas entre
servidores do banco e executivos da Langbar. Também foram tomados depoimentos de
funcionários de primeiro escalão do BB, que identificaram
traços de fraude nos papéis da
empresa -hipótese abraçada
pelo órgão do Reino Unido.
O esquema foi descoberto
em outubro de 2005, quando a
Langbar reconheceu a autoridades monetárias britânicas
que não tinha condições de
confirmar a existência dos
US$ 521 milhões que estariam
depositados no ABN Amro, na
Holanda, e no Banco do Brasil.
Poucos meses antes, a Langbar publicou dez anúncios em
jornais do Reino Unido divulgando a existência de CDIs
(Certificados de Depósito Interbancário) que teriam sido
emitidos pelo BB, no valor total
de US$ 659 milhões.
A publicidade tinha o objetivo de gerar interesse pelas
ações da Langbar, mas o apetite demonstrado pela empresa
também chamou a atenção dos
investigadores. Num dos comunicados, ela chegou a anunciar que negociava participação
no setor de petróleo e gás da
Rússia e em contratos na área
de defesa e farmacêutica.
Segundo o relatório da investigação, os negócios da Langbar
estavam adormecidos até julho
de 2005, quando entrou em cena um novo executivo da gestora de investimento, Stuart
Geoffrey Pearson. Naquele
mês, ele esteve em São Paulo ao
lado de Abraham Arad Hochman, empresário israelense
naturalizado argentino, preso
na semana passada acusado de
ser o mentor intelectual das
fraudes. Na viagem, segundo os
investigadores, foi executada a
parte principal do plano.
Em depoimento à Scotland
Yard, Pearson disse ter se encontrado com Hochman no saguão do Hotel Intercontinental, onde ficou hospedado. De
lá, os dois seguiram para o que
ele "supunha ser a sede do Banco do Brasil" em São Paulo, onde foram recebidos por um suposto funcionário, que lhe entregou até um cartão de visitas.
O funcionário, de acordo
com Pearson, lhe entregou os
CDIs confirmando os depósitos milionários. Os documentos foram levados a um cartório para reconhecimento de firma. O executivo disse ter recebido de Hochman documentos
que o alçavam à condição de
signatário de duas contas bancárias no BB ao lado do suíço
Jean-Pierre Regli. Regli, segundo a Polícia Federal, esteve
dois meses antes em São Paulo.
O Escritório de Fraudes Graves afirma acreditar que Pearson, mesmo tendo sido contratado como executivo da empresa, foi vítima de um engenhoso
e cinematográfico golpe.
"As explicações apresentadas pelo sr. Pearson levantam a
suspeita de [ele] ter sido vítima
de uma complexa fraude em
São Paulo (...), quando foi levado a uma filial do Banco do
Brasil e lá apresentado a um indivíduo que fingiu ser funcionário do banco", afirma o documento do organismo.
Para ter uma ideia, um dos
CDIs apreendidos, de US$ 275
milhões, tinha a assinatura do
então presidente do BB, Cássio
Casseb Lima. O escritório de
fraudes do Reino Unido considera o documento forjado.
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