|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cade terá que aprovar acordo, diz economista
MARCIO AITH
EDITOR DE DINHEIRO
Embora não ameace diretamente a competição no mercado de cervejas no Brasil, uma
eventual fusão entre a brasileira AmBev e a belga Interbrew
teria de passar pelo crivo do
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Essa
é a opinião do economista Gesner Oliveira, que foi presidente
do conselho durante a aprovação da fusão de Brahma e Antarctica, em 1999/2000.
Colunista da Folha, Oliveira
diz que a operação prejudicaria
a concorrência potencial. Ou
seja: poderia impedir que a
companhia belga ingressasse
mais tarde no Brasil como concorrente da AmBev.
No entanto, Oliveira não crê
que esse seja um motivo suficiente para que uma eventual
fusão AmBev/Interbrew seja
vetada. "Na minha opinião,
não prejudicaria a concorrência efetiva porque as áreas de
atuação das duas companhias
são complementares", disse.
Folha - Quando Brahma e Antarctica anunciaram a criação da
AmBev, em 1999, as duas companhias disseram aos reguladores que somente um grupo nacional sólido e eficiente, uma espécie de "campeão nacional",
seria capaz de competir em pé
de igualdade num mercado cada
vez mais concentrado. À luz desse argumento, não lhe parece
contraditória uma fusão entre a
AmBev e a belga Interbrew?
Gesner Oliveira - Pode parecer
contraditório, mas não foi esse
o argumento acolhido pelo Cade quando autorizou a criação
da AmBev. O Cade aprovou a
operação porque ela aumentaria a eficiência, como de fato
aumentou. A preservação do
caráter nacional da empresa
não foi levada em consideração
pelo conselho, embora esse aspecto tenha sido debatido publicamente na época.
Folha - Uma fusão entre a AmBev e a Interbrew poderia afetar
a competição no Brasil? O Cade
teria de aprová-la?
Oliveira - Teria de passar pelo
Cade, pois produziria efeitos
sobre o mercado brasileiro. Na
minha opinião, não prejudicaria a concorrência efetiva porque as áreas de atuação das
duas companhias são complementares. No entanto, reduziria a concorrência potencial.
Ou seja: uma parceria ou uma
fusão impediriam o ingresso da
companhia belga no Brasil.
Mas a jurisprudência internacional não tem visto problemas
na redução da concorrência
potencial por se tratar de um
tema muito especulativo.
Folha - Especulativo, mas foi
invocado pelo próprio Cade nos
casos das parcerias entre a Brahma e a Miller e entre a Antarctica
e a Anheuser-Bush, antes da
criação da AmBev. Nos dois casos, o conselho impôs restrições
e condições.
Oliveira - É verdade, mas eu
fui voto vencido. Achei que as
parcerias aumentariam a rivalidade no mercado. As alianças
acabaram não decolando, e eu
nem sei se não decolaram devido a essas restrições e condições. Se tivessem decolado,
creio que teria havido mais
competição entre as fabricantes de cervejas.
Texto Anterior: Bebidas: AmBev negocia megafusão com a Interbrew Próximo Texto: Comércio exterior: Superávit comercial bate recorde em fevereiro e para o 1º bimestre Índice
|