São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incerteza vai persistir, dizem especialistas

Ano deve seguir pautado por instabilidade nos mercados, mas não a ponto de gerar crise global, afirmam economistas

Indicador que mostra a oscilação das ações das Bolsas americanas teve nesta semana a maior alta desde julho do ano passado


DA REPORTAGEM LOCAL

A instabilidade que marcou os negócios nas Bolsas nos últimos dias deve ser a marca de 2007. Não há nada que indique que o cenário econômico vá mudar drasticamente. As incertezas que cercam o cenário internacional somadas ao fato de os preços estarem em níveis recordes devem causar correções ao longo do ano.
"Os preços estão, como se diz no mercado financeiro, muito esticados. Como eles estão cada vez mais altos, no período de turbulência, a queda é acentuada", diz Luis Fernando Lopes, do Banco Pátria.
Na terça-feira, quando a Bolsa chinesa despencou e, um a um, os mercados acionários do mundo fecharam em queda, as Bolsas americanas registraram seu dia de maior instabilidade desde julho do ano passado.
Como tudo no mercado financeiro, as oscilações de preços viram um negócio, e a Bolsa de Chicago tem um contrato futuro em que investidores compram "instabilidade", ou, no jargão do mercado financeiro, "volatilidade".
Na terça, o VIX (contrato do Índice de Volatilidade negociado em Chicago) atingiu US$ 18,48, alta de 64% em relação ao dia anterior e a maior cotação desde julho do ano passado. O índice sobe quando a expectativa dos investidores para os próximos 30 dias é a de que aumente a instabilidade dos preços de ativos, no caso do VIX, de ações das Bolsas norte-americanas. Ele recuou para cerca de US$ 15 ontem, nível mais baixo, mas também o maior desde agosto de 2006.
Os preços sugerem que os investidores esperam por dias de turbulência. Mas também indicam que não há sinais de que deve haver uma carnificina, pelo menos não é essa a expectativa dos investidores. Uma das regras de bolso do mercado financeiro para este contrato: apenas quando ele sobe para mais de US$ 27 as coisas começam realmente a ficar feias.
De qualquer maneira, a instabilidade que inaugurou 2007 surpreende, sugerem alguns analistas, não porque seja muito grande, mas porque ela parece depois de um período de intensa calmaria. "Vai ser um ano volátil em relação ao que as pessoas esperavam", afirma Roberto Padovani, estrategista de investimentos sênior do WestLB.
Padovani diz que é improvável que 2007 seja um ano como 1998 ou 2002, períodos de forte instabilidade nos mercados globais. O ano de 2002, aliás, foi o último em que o desempenho das Bolsas foi, em geral, ruim ao redor de todo o mundo. Foi também em 2002 que o VIX, hoje ao redor de US$ 15, atingiu a marca de US$ 45. Para Padovani, apesar de mais instável, 2007 ainda será um ano de "baixa volatilidade" se comparado ao padrão histórico.
"Os EUA geram alguma incerteza, mas os fundamentos do resto do mundo estão bons, os fundamentos da economia brasileira estão melhores, as economias emergentes estão mais saudáveis, os sistemas financeiros, mais sólidos. Eu não vejo motivo para que tenhamos volatilidade muito maior", afirma Alexandre Lintz, do BNP Paribas, elencando fatores que poderiam explicar por que, mesmo em alta, a instabilidade atual deve ser, nos termos do analista, "saudável".
"É importante que os investidores lembrem que os mercados têm riscos", diz ele, ressaltando que parte dos riscos associados à compra de ativos em todo o mundo é, às vezes, subestimada pelos investidores. Ainda que se revelem um pouco mais instáveis em 2007, os preços de papéis, commodities e ações não devem, diz Lintz, ser fortes a ponto de alterar os funamentos econômicos.
Traduzindo: os preços de ativos devem oscilar, mas não o bastante para que afetem negativamente a economia real. "Os mercados estarão sujeitos a mudanças na aversão ao risco. Mas não acredito que ela [a instabilidade dos preços de ações, moedas e títulos] tenha poder de contaminar o cenário econômico", concorda Padovani.
Lopes, do Pátria, lembra ainda que certa instabilidade não é sinônimo de desempenho ruim das Bolsas. Lembra ainda que as projeções para a economia brasileira e mundial são favoráveis, ou seja, de crescimento, o que ainda é um cenário de valorização de ativos. "O cenário é positivo, os fundamentos justificam valorização", conclui.


Texto Anterior: Instáveis, Bolsas têm novo dia de perdas
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.