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Incerteza vai persistir, dizem especialistas
Ano deve seguir pautado por instabilidade nos mercados, mas não a ponto de gerar crise global, afirmam economistas
Indicador que mostra a oscilação das ações das Bolsas americanas teve nesta semana a maior alta desde julho do ano passado
DA REPORTAGEM LOCAL
A instabilidade que marcou
os negócios nas Bolsas nos últimos dias deve ser a marca de
2007. Não há nada que indique
que o cenário econômico vá
mudar drasticamente. As incertezas que cercam o cenário
internacional somadas ao fato
de os preços estarem em níveis
recordes devem causar correções ao longo do ano.
"Os preços estão, como se diz
no mercado financeiro, muito
esticados. Como eles estão cada
vez mais altos, no período de
turbulência, a queda é acentuada", diz Luis Fernando Lopes,
do Banco Pátria.
Na terça-feira, quando a Bolsa chinesa despencou e, um a
um, os mercados acionários do
mundo fecharam em queda, as
Bolsas americanas registraram
seu dia de maior instabilidade
desde julho do ano passado.
Como tudo no mercado financeiro, as oscilações de preços viram um negócio, e a Bolsa
de Chicago tem um contrato
futuro em que investidores
compram "instabilidade", ou,
no jargão do mercado financeiro, "volatilidade".
Na terça, o VIX (contrato do
Índice de Volatilidade negociado em Chicago) atingiu US$
18,48, alta de 64% em relação
ao dia anterior e a maior cotação desde julho do ano passado.
O índice sobe quando a expectativa dos investidores para os
próximos 30 dias é a de que aumente a instabilidade dos preços de ativos, no caso do VIX, de
ações das Bolsas norte-americanas. Ele recuou para cerca de
US$ 15 ontem, nível mais baixo,
mas também o maior desde
agosto de 2006.
Os preços sugerem que os investidores esperam por dias de
turbulência. Mas também indicam que não há sinais de que
deve haver uma carnificina, pelo menos não é essa a expectativa dos investidores. Uma das
regras de bolso do mercado financeiro para este contrato:
apenas quando ele sobe para
mais de US$ 27 as coisas começam realmente a ficar feias.
De qualquer maneira, a instabilidade que inaugurou 2007
surpreende, sugerem alguns
analistas, não porque seja muito grande, mas porque ela parece depois de um período de intensa calmaria. "Vai ser um ano
volátil em relação ao que as
pessoas esperavam", afirma
Roberto Padovani, estrategista
de investimentos sênior do
WestLB.
Padovani diz que é improvável que 2007 seja um ano como
1998 ou 2002, períodos de forte
instabilidade nos mercados
globais. O ano de 2002, aliás, foi
o último em que o desempenho
das Bolsas foi, em geral, ruim ao
redor de todo o mundo. Foi
também em 2002 que o VIX,
hoje ao redor de US$ 15, atingiu
a marca de US$ 45. Para Padovani, apesar de mais instável,
2007 ainda será um ano de
"baixa volatilidade" se comparado ao padrão histórico.
"Os EUA geram alguma incerteza, mas os fundamentos
do resto do mundo estão bons,
os fundamentos da economia
brasileira estão melhores, as
economias emergentes estão
mais saudáveis, os sistemas financeiros, mais sólidos. Eu não
vejo motivo para que tenhamos
volatilidade muito maior", afirma Alexandre Lintz, do BNP
Paribas, elencando fatores que
poderiam explicar por que,
mesmo em alta, a instabilidade
atual deve ser, nos termos do
analista, "saudável".
"É importante que os investidores lembrem que os mercados têm riscos", diz ele, ressaltando que parte dos riscos associados à compra de ativos em
todo o mundo é, às vezes, subestimada pelos investidores.
Ainda que se revelem um pouco mais instáveis em 2007, os
preços de papéis, commodities
e ações não devem, diz Lintz,
ser fortes a ponto de alterar os
funamentos econômicos.
Traduzindo: os preços de ativos devem oscilar, mas não o
bastante para que afetem negativamente a economia real. "Os
mercados estarão sujeitos a
mudanças na aversão ao risco.
Mas não acredito que ela [a instabilidade dos preços de ações,
moedas e títulos] tenha poder
de contaminar o cenário econômico", concorda Padovani.
Lopes, do Pátria, lembra ainda que certa instabilidade não é
sinônimo de desempenho ruim
das Bolsas. Lembra ainda que
as projeções para a economia
brasileira e mundial são favoráveis, ou seja, de crescimento, o
que ainda é um cenário de valorização de ativos. "O cenário é
positivo, os fundamentos justificam valorização", conclui.
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