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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O que o PIB de 2006 nos mostra
A informação mais importante nos números do PIB é que a carga tributária aumentou mais uma vez
A DIVULGAÇÃO, pelo IBGE, dos
números sobre o PIB de 2006
é uma oportunidade muito rica para olharmos com profundidade
para a economia brasileira. É impossível, na era da nossa sociedade midiática, fugir da avaliação superficial
que temos hoje na imprensa. O crescimento de 2,9% no último ano do
primeiro mandato de Lula, e que será o centro das notícias e opiniões
nos próximos dias, é o que menos
importa no relatório do IBGE. Outra
parte dominante das discussões é a
clivagem -bom ou ruim- sobre
nossa economia no ano passado. A
imagem que passaria ao meu leitor
é a de um copo meio cheio, meio
vazio. Ela acomoda otimistas e pessimistas ao mesmo tempo.
Portanto minhas reflexões de
hoje pretendem fugir desse lugar-comum e trazer alguns comentários que auxiliem na compreensão,
com mais profundidade, de como
anda o pulsar de nossa economia.
Nesse sentido, a informação mais
importante nos números divulgados é a de que a carga tributária aumentou mais uma vez.
O IBGE divulga dois números relativos ao crescimento em 2006:
preços sem impostos e com impostos. No primeiro caso, o PIB cresceu 2,7%, e, no segundo, 2,9%. Ou
seja, a parcela do governo no bolo
da economia cresceu novamente
em 2006. Essa mesma informação,
captada por uma instituição privada, está também na imprensa. Segundo o IBPT, os números do IBGE mostram que a carga tributária
no Brasil passou, entre 2005 e
2006, de 37,8% para 38,8% do PIB.
Explico por que, para mim, essa é
a informação mais importante e a
mais negativa nos números divulgados. A carga tributária e o volume de gastos do governo obrigam o
Brasil a ter o sistema tributário
mais irracional e antimercado entre as nações do mundo emergente. É esse aleijão o maior limitador
para que possamos crescer como
nossos competidores. Por isso, a
informação que tanto o volume de
impostos pagos como o de gastos
do governo aumentou mais uma
vez assume esse papel tão importante. Se isso é correto, estamos
aumentando as restrições ao nosso
crescimento mais vigoroso.
Outra informação negativa em
relação ao crescimento é que o vazamento para fora da demanda interna está se acelerando e chegou a
1,4% do PIB no ano. Colocado em
um gráfico trimestral, o crescimento desse vazamento é monotônico, embora os dados de janeiro já
disponíveis mostrem uma pequena
desaceleração. É evidente que a
contrapartida disso é a expansão
acelerada do consumo e do investimento, com crescimento de 3,8% e
6,3%, respectivamente. O consumo aparente de máquinas e equipamentos cresceu a taxas superiores a 9%.
Esse é um sinal claro de
que os investimentos em capacidade produtiva estão em progressão,
principalmente nos setores que estão se beneficiando do cenário externo favorável e do aumento sustentado do consumo das famílias.
Mas há o outro lado, que é a incapacidade da oferta local de acompanhar esse crescimento, que nos
remete novamente à questão fiscal
e do ambiente de negócios hostil.
Não é por outra razão que a indústria de transformação, nos números do IBGE, cresceu apenas 1,9%
em 2006. Já a indústria extrativa
mineral, que está se beneficiando
de um impressionante aumento de
preços internacionais, cresceu sua
produção em 5,6%.
A questão do aumento significativo do coeficiente de importações,
principalmente na indústria manufatureira, e seus efeitos sobre a
produção passaram a ser um item
importante do debate econômico,
o que acho muito bom. Nesse sentido, duas estatísticas recém-divulgadas devem jogar mais lenha na
fogueira: os dados de fevereiro
mostram que o saldo de nosso comércio exterior está acelerando
novamente para algo como US$ 47
bilhões anuais, bem acima das projeções para este ano; e as compras
de dólar pelo Banco Central continuaram mesmo durante a crise dos
últimos dias, levando nossas reservas para mais de US$ 101 bilhões.
Outro dado que precisa ser
acompanhado com cuidado é o
comportamento dos estoques do
setor produtivo. No último trimestre de 2006, houve um aumento
importante, que adicionou 0,5% ao
crescimento do PIB no período.
Não procede, portanto, a teoria de
que os estoques estavam contribuindo negativamente para com o
crescimento.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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