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VINICIUS TORRES FREIRE
Quem pisca primeiro vende
Aversão a risco sobe; reações dos mercados a indicadores pontuais são histéricas, mas esta "virada" vai durar?
A MENOR das incertezas desses
dias de balas perdidas financeiras é que o custo de fazer
seguro financeiro e investimentos
de risco subiu. Outro indicador relevante, mais subterrâneo e incerto, é
que, em relação à semana passada,
as operações com derivativos triplicaram nos Estados Unidos e na Europa rica, segundo estimativas de
bancões europeus. Por fim, tem
mais gente procurando títulos de
governos de países ricos e seguros.
Isto é, primeiro subiu o custo de
fazer operações financeiras que protegem credores e investidores de calotes. Ficou mais caro proteger investimentos em mercados arriscados (como aqueles em títulos de empresas ou países que não estão nas
melhores categorias de crédito). Os
indicadores de volatilidade dispararam. Mais volatilidade (variação) de
preço de ativos financeiros, mais risco; risco maior encarece o crédito.
Segundo, estimam bancos europeus, aparentemente grandes fundos de investimento estão refazendo suas carteiras, digamos, de aplicações e apostas malucas e complexas em mercados inseguros.
Terceiro, como sói acontecer em
momentos de estresse financeiro, o
dinheiro grosso procura aplicações
mais seguras, e aumentou a procurar por papéis como títulos do Tesouro americano.
Em resumo, parece que começou
um processo de desmanche da fé
doida de que a volatilidade seria permanentemente baixa e de que os retornos de ativos de risco seriam
constantemente altos. E daí? Daí
que o custo de alavancar empréstimos para fusões e aquisições deve
aumentar. Daí que o custo de investir em papéis como os brasileiros
tende a aumentar. Isso é sinal de virada duradoura nos mercados financeiros mundiais? Se alguém
soubesse a resposta, não a diria nem
a venderia -aproveitaria a informação para fazer dinheiro.
Quanto à variação dos preços de
ativos como ações, a mais recente
impressão que fica depois de ler ou
ouvir relatos de estrategistas de bancões como Morgan Stanley ou
Dresdner é que os investidores estão
à espreita de quem pisca primeiro:
se você vender (e derrubar os preços), eu também vendo.
O nervosismo pode se ver medido
pelas reações exageradas à divulgação de indicadores econômicos que,
faz uma semana, provocariam variações de um par de décimos ou de
centésimos de porcentagem nas
Bolsas americanas.
Considere-se, por exemplo, o efeito do indicador de encomendas de
bens duráveis para a indústria (de
anteontem, que fez muito estrago)
ou o de atividade das fábricas (de ontem, que tirou a Bolsa de Nova York
do mergulho matinal no medo).
Decerto há sinais de fumaça escura em mercados importantes nos
Estados Unidos, como o crescente
número de calotes de empréstimos
imobiliários e a queda dos preços e
das vendas de casas. Mas não há
quem saiba prever o impacto disso
nas finanças americanas.
Sabe-se apenas que, assim como
um dia as crianças acabam por descobrir que a morte existe, os mercados acostumados a cinco anos de bonança perceberam que o risco de
prejuízo abrupto e grande não desapareceu. Mas daí a deduzir que virá
tragédia financeira e econômica vai
ainda muito chão.
vinit@uol.com.br
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