|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bevilaqua deixa diretoria do Banco Central
Considerado o mais conservador da instituição, diretor diz que sai por "motivos pessoais'; Meirelles afirma que política não muda
Mário Mesquita, diretor de Estudos Especiais, acumulará as duas funções por tempo indeterminado; Bevilaqua poderá participar do Copom
SHEILA D'AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia após o governo anunciar que a economia cresceu
apenas 2,9% em 2006, o diretor
de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua,
símbolo do conservadorismo e
da política de juros altos da instituição, pediu demissão.
Oficialmente, ele e o presidente do BC, Henrique Meirelles, alegaram que o motivo foi
pessoal. Depois de quase quatro anos no cargo, Bevilaqua
disse que queria ficar mais tempo com a família.
Mas a saída do diretor -que
será substituído por tempo indeterminado pelo atual diretor
de Estudos Especiais, Mário
Mesquita- é marcada por um
longo processo de desgaste e
pressão política sobre o BC.
Desde que assumiu o cargo,
em julho de 2003, Bevilaqua
chegou a pedir demissão duas
vezes em meio ao tiroteio de
petistas, governistas e da oposição contra o BC. Em todas, foi
convencido a ficar no cargo
diante do agravamento da crise
política, envolvendo o primeiro
escalão do governo, entre eles o
próprio Meirelles e o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda).
No fim de 2006, ele já havia
dito a Meirelles que não deveria ficar no segundo mandato e
que estava sendo cotado para
ser o representante do Brasil
no FMI. Foi atropelado, na semana passada, pela indicação
do economista Paulo Nogueira
Batista Jr., seu desafeto e amigo do ministro Guido Mantega
(Fazenda), que trava guerra velada com o presidente do BC.
Ontem, Bevilaqua negou que
a nomeação de Batista Jr. tenha
pesado na sua decisão. O próprio diretor, porém, assim como Meirelles, também vinham
afirmando que qualquer mudança na diretoria só seria efetuada depois que o presidente
Lula confirmasse o nome da
pessoa que comandaria o BC no
segundo mandato -o que ainda não ocorreu oficialmente.
"Isso não era um assunto para, depois de tomada a decisão,
aguardar para anunciá-la", tentou justificar Meirelles. Segundo ele, Bevilaqua o procurou,
ontem, para informá-lo de seu
desejo de deixar o cargo. "Bevilaqua pediu para antecipar sua
saída. Achei razoável por questões pessoais, familiares."
Decidida a troca, Meirelles
disse que informou Lula e
Mantega.
O presidente do BC também
se esforçou para reiterar que a
condução da política de juros
não sofrerá mudanças com a
saída de Bevilaqua e que não teme sucedê-lo como maior alvo
do fogo amigo. "Ele [fogo amigo] nunca me abandonou", disse, referindo-se às críticas do
próprio governo à ação do BC.
"A política do BC não é de um
ou outro diretor. As decisões do
Copom [Comitê de Política
Monetária do BC] são colegiadas e tomadas de acordo com
procedimentos técnicos."
Apesar da pressa do diretor
em deixar o BC, Meirelles e Bevilaqua se enrolaram quando
questionados se o diretor participaria da próxima reunião do
Copom, na terça e na quarta.
"Vamos ver", disse Meirelles,
destacando que precisa de "um
período de transição". Isso apesar de o substituto dele já ser
diretor do BC desde junho e de
suas atividades estarem relacionadas à área de Bevilaqua.
Em seguida, diante da insistência dos jornalistas, emendou: "A princípio deve participar [do Copom]. Tudo indica
que sim".
Meirelles afirmou ainda que
vê com normalidade as críticas
à política de juros. A equipe dele é apontada por representantes do próprio governo como o
responsável pelo baixo crescimento da economia.
"É normal o debate sobre política econômica, principalmente num país com um histórico de inflação alta como o
Brasil e que não está acostumado com uma política monetária
de sucesso que estamos implementando", argumentou.
Bevilaqua não deu detalhes
sobre o que o levou a pedir demissão e não disse o que fará
após formalizar a saída e cumprir a "quarentena" de quatro
meses, em que estará impedido
de trabalhar no setor privado.
Texto Anterior: Tecnologia: Lenovo anuncia recall de 100 mil notebooks Próximo Texto: Substituição acentua disputa entre Meirelles e Mantega Índice
|