São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Substituição acentua disputa entre Meirelles e Mantega

KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a substituição de Afonso Bevilaqua por Mário Mesquita na diretoria de Política Econômica do Banco Central, abre-se agora um novo capítulo da disputa entre o presidente da instituição, Henrique Meirelles, e o ministro Guido Mantega (Fazenda).
Como Mesquita é um economista de perfil semelhante ao de Bevilaqua (visto no Palácio do Planalto e na Fazenda como a voz mais influente que determinou o rigor monetário do BC), Mantega gostaria de que o presidente da República indicasse um economista com idéias diferentes das de Bevilaqua e do próprio Mesquita.
Já Meirelles gostaria de acabar com a diretoria de Estudos Especiais, criada em sua gestão. Assim, evitaria a eventual entrada de um economista com críticas à política monetária que adotou no BC. Mesquita substituiu Bevilaqua na diretoria de Política Econômica.
Nos bastidores, Lula tem demonstrado em conversas reservadas que gosta da idéia de "arejar" as discussões do Copom (Comitê de Política Monetária). O próprio presidente tem indagado por que seria considerada uma intervenção ou o fim da autonomia operacional do BC a indicação de um diretor com pensamento diferente dos de Bevilaqua e Mesquita. Afinal, o Copom tem hoje oito diretores. Como a taxa de juros é decidida em votação, apenas um diretor não teria poder para fixá-la. Seria, porém, alguém a estimular uma visão menos conservadora, na visão de Lula e de Mantega.
Meirelles luta contra isso. O presidente do BC avalia que a política monetária foi acertada e que as críticas seriam injustas. Argumenta em conversas reservadas que a diretoria de Estudos Especiais foi criada para ser temporária e que faria sentido a sua extinção.
Afinados com o BC, alguns integrantes do governo dizem que Lula já fez uma concessão a Mantega ao indicar o economista Paulo Nogueira Batista Jr. para a representação do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional). Batista Jr. é um dos críticos mais duros da política econômica.
Por esse raciocínio, Meirelles deveria, então, ser contemplado agora. E a diretoria de Estudos Especiais seria extinta.
Auxiliares e ministros dizem que o presidente arbitrará em breve esse novo capítulo da disputa Mantega x Meirelles. O ministro da Fazenda tem até um perfil ideal para uma diretoria do BC, o do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Demian Fiocca. Mantega já quis indicá-lo para o BC, mas Meirelles o vetou com apoio do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.


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