São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Quem procura acha a oferta


Economista argumenta em detalhe que baixa produção de poucos alimentos pesou muito na alta do IPCA de 2007

A ALTA de preços em 2007 deveu-se mais a fatos como o encolhimento de rebanhos e de culturas de feijão e batatas que ao aumento do uso da capacidade instalada da indústria ou do preço de commodities globais. Em outros termos, a alta do IPCA deve ser atribuída, em "parte substancial", a um choque negativo de oferta de produtos agrícolas. O aumento de preços se concentrou em poucos alimentos perecíveis, que na maioria não fazem parte da pauta de comércio exterior ou cujos preços dependem pouco ou nada de negócios no mercado mundial. O argumento é do economista Nilson Teixeira, diretor-executivo de pesquisa de mercados emergentes do Credit Suisse.
Teixeira entra na viva querela da inflação de demanda versus a do choque de oferta com uma perspectiva microeconômica meticulosa.
O IPCA acumulado em 12 meses até janeiro de 2008 foi de 4,6% (contra 3,1% em 2006). Mas a inflação de todos os produtos afora feijão, leite e carnes foi de 3,4% -os três produtos têm peso de 6,5% no IPCA. A inflação total de alimentos subiu de 1,2% em 2006 para 11,5% em janeiro de 2008; a dos demais produtos caiu de 3,7% para 2,8%. A alta de preços de 2006 para 2007 não teria sido, pois, generalizada, o que enfraqueceria a tese da demanda aquecida demais, argumenta o economista.
Teixeira viu na condição de oferta de alimentos in natura o motivo maior da inflação extra. A oferta de leite crescera 6,2% no acumulado de 12 meses até maio de 2006. Caiu a 1,7% em maio de 2007. A alta global dos lácteos fez o resto do serviço.
As safras de feijão encolheram devido ao tempo ruim e à redução da área plantada. Batata e cebola fizeram 50% da inflação de hortifrutícolas. Preços baixos entre 2005 e início de 2007 desestimularam a produção desses alimentos, assim como a de aves e suínos. No caso do boi, pecuaristas abateram matrizes, e o rebanho ainda sofreu na seca. A quantidade de frango e suínos disponível caiu ao longo de 2006 e 2007 também devido às exportações.
Lácteos, feijão e hortifrutícolas contribuíram com 0,98 ponto percentual da inflação de 4,6% acumulada em 12 meses até janeiro de 2008. Agrícolas cujos preços dependem do mercado mundial pesaram 0,18 ponto percentual -trata-se aqui de trigo, soja, café, laranja, arroz, açúcar e produtos derivados.
O repasse dos preços de atacado de trigo e soja para o varejo tem sido baixo. O impacto maior seria nas rações e, portanto, em carnes -o frango é um pacote de grãos emplumado. Com exceção da carne bovina, a produção de alimentos que pesaram no IPCA de 2007 pode se recuperar em período curto de tempo, dado o atual estímulo de preço. A inflação de alimentos cairia à metade em 2008. Por fim, no modelo de Teixeira, comer fora de casa ficou mais caro devido ao preço dos alimentos, e não a outros fatores de custo.
O economista acredita em elevação pequena da inflação de produtos industriais: o real forte ou ainda em alta, a importação de bens de consumo e investimentos conteriam os preços. A inflação de serviços deve cair em 2008, com a redução da atividade no setor. O IPCA recuaria a partir do meio do ano, fecharia 2008 em 4% e permitiria cortes de juros a partir de outubro. Com PIB a 4,5%.

vinit@uol.com.br


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