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Crise reduz pressão de alimento na inflação
Índice de preços no atacado da agropecuária, que chegou a acumular alta de 40% em 12 meses, registra agora avanço de apenas 3%
Desvalorização das
commodities já começa a ser
sentida pelo consumidor;
analistas veem possibilidade
maior de queda nos juros
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A crise econômica mundial
diminuiu a pressão interna sobre os alimentos. Essa queda se
reflete na inflação, desacelerando principalmente os índices de preços no atacado, que
têm influência das commodities agrícolas negociadas no
mercado externo.
Aos poucos, essa queda chega
ao bolso do consumidor. A soja,
que recua na Bolsa de Chicago,
por exemplo, provoca queda
nos preços do óleo para os consumidores nos supermercados.
Além de pressão menor dos
preços que têm influências externas, a inflação também perde força por causa de produtos
com negociações apenas internas, como os cereais. Com isso,
alguns analistas preveem taxa
de inflação próxima de 4% para
este ano, o que vai facilitar a
ação do BC em reduzir os juros.
A grande demanda mundial
por alimentos em 2008, quando a economia ainda crescia, levou a uma forte alta nos preços
no atacado, empurrando os índices inflacionários para cima.
Os produtos agropecuários
chegaram a registrar alta de
40,25% no acumulado de 12
meses em julho do ano passado
no IPA (Índice de Preços por
Atacado) do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV.
Essa alta no atacado refletia a
elevação recorde dos preços
das commodities nas principais
Bolsas agrícolas espalhadas pelo mundo. Em Chicago, por
exemplo, a soja chegou a ser negociada a US$ 16,60 por bushel
(27,2 quilos) no início de julho
de 2008, valor jamais registrado até então.
Menor velocidade
Com a ocorrência da crise, a
falta de crédito e as dificuldades de empresas e de países em
formar estoques de alimentos
forçaram a baixa nos preços das
commodities. A queda não foi
apenas da soja mas do óleo de
soja, do trigo, do milho etc. A
mesma soja que chegou a ser
negociada a US$ 16,60 no ano
passado está atualmente em
US$ 8,70 em Chicago -queda
de 48%.
A perda de preços das commodities fez com que o índice
dos produtos agropecuários
acumulado em 12 meses até fevereiro recuasse para apenas
3,17% no IPA do IGP-M.
Heron do Carmo, economista da Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas), diz
que "inflação é ritmo" e os preços perderam velocidade com a
desaceleração da economia. Segundo ele, os índices que mostram os preços dos alimentos
apontam para essa desaceleração, que só não se transformou
em profunda deflação porque
houve a recuperação do dólar
diante do real.
A alta do dólar fez com que,
mesmo com a queda dos preços
das commodities, os produtores brasileiros perdessem menos. Com a alta da moeda norte-americana, receberam mais
reais pelas vendas.
Com isso, o consumidor paga
menos pelos alimentos, principalmente pelos que têm comercialização internacional,
mas a queda não afetou muito a
renda dos produtores.
Tendência indefinida
O comportamento futuro
dos preços dos alimentos está
indefinido, mas Heron acredita
que eles poderão ser responsáveis por uma taxa de inflação
inferior a 4% neste ano. Para o
economista, a queda abre caminho até para a redução maior
dos juros.
Apesar dessa pressão externa
menor, os alimentos que são
comercializados apenas internamente mantêm o sobe-e-desce conforme a sazonalidade.
Paulo Picchetti, coordenador
do IPC-S (Índice de Preços ao
Consumidor Semanal), índice
do Ibre-FGV e pesquisado em
sete capitais brasileiras, diz que
a "âncora verde" perdeu força a
partir de 2007 e os alimentos
começaram a subir.
A inflação acumulada dos alimentos no IPC-S é de 21,4% de
fevereiro de 2007 até a terceira
semana de fevereiro deste ano.
Nesse mesmo período, o índice
médio de inflação foi de 11,1%.
A pressão dos alimentos, no
entanto, já não é tão acentuada
como foi em 2007 e em 2008. O
IPC-S divulgado na semana
passada mostrou alta de 0,39%
nos preços dos últimos 30 dias
até 22 de fevereiro, abaixo do
0,59% do índice anterior. Dessa
queda de 0,20 ponto percentual, pelo menos 0,15 ponto
veio da baixa nos preços dos alimentos, diz Picchetti.
O coordenador do IPC-S
lembra, ainda, que a variação
das commodities, além de ter
uma defasagem de tempo para
chegar ao consumidor, não segue os mesmos percentuais de
aumento ou queda do atacado.
Parte desses repasses é feita,
ainda, com base em outros custos e serviços, lembra Heron.
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