São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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BENJAMIN STEINBRUCH

Falta confiança


A confiança é fundamental para estimular a economia; é importante ter cuidado na revisão da política anticíclica

O BALANÇO da crise que atingiu a economia mundial em 2009 é impressionante. Só agora, com a apuração dos resultados do PIB do quarto trimestre, é possível ter um retrato numérico completo da devastação provocada pela recessão mundial.
Ao olhar para as 40 maiores economias do mundo, vê-se que poucas fizeram a proeza de continuar crescendo de forma vigorosa no ano passado. Apenas cinco, na verdade, entraram nessa lista das exceções: China (com 8,7%), Índia, Indonésia, Paquistão e Egito. Todos os demais países conviveram ou com estagnação ou com taxas negativas, claramente recessivas.
A maior recessão mundial, entre as grandes economias, ocorreu na Rússia, cujo PIB caiu quase 8% no ano passado, consequência direta da redução da produção e do preço do petróleo. O efeito Rússia teve impacto desolador em todas as repúblicas satélites da ex-União Soviética. A Ucrânia, por exemplo, perdeu 15% do produto.
Outros dois desastres históricos nas economias importantes foram no Japão, com queda de 5,3% na produção, e na Alemanha, com 4,9%. Nos dois casos, a explicação está na retração do mercado mundial. A Alemanha era o maior exportador do mundo até ser superada pela China, em 2009. Com a demanda mundial em queda brusca, os dois países não tiveram como manter a expansão apenas sustentada em seu consumo interno. O México foi outro caso dramático (-6,8%), porque tem economia dependente dos EUA, que enfrentaram recessão de 2,4% no ano passado, a maior desde 1946.
Nesse cenário, o desemprego subiu a níveis assustadores. Na rica Alemanha, os desempregados já são 8,2% da força de trabalho, e, nos EUA, quase 10%. Índices maiores ainda se verificaram na Espanha, com incríveis 19,5%, e em vários outros países europeus, entre eles Grécia, Portugal, Irlanda e Itália.
Esse retrato devastador de 2009 contrasta com a perspectiva para 2010, quando a economia mundial terá expansão média de 4%, segundo o FMI. Diante do clima de catástrofe que persiste diariamente exposto na mídia mundial, parece uma previsão inatingível.
Alguns resultados, porém, já corroboram esse novo cenário. O PIB americano, por exemplo, aumentou 2,2% no último trimestre do ano passado em relação ao penúltimo e 5,9% em termos anualizados. No Japão, o avanço foi de 1,1% no quarto trimestre. Nos dois casos, estão em alta tanto o consumo das famílias quanto a formação de estoques e as exportações. O Reino Unido encerrou um ciclo de seis trimestres de recessão.
A área do mundo com recuperação econômica mais tardia é a do euro. Lá, no quarto trimestre, o PIB ficou praticamente estagnado (+0,1%). A perspectiva otimista do terceiro trimestre, principalmente por conta da reação da economia alemã, não se confirmou no fim do ano. Os gastos dos consumidores europeus, assustados com o tamanho da crise, continuam contidos. Falta confiança.
Geralmente evito citar muitos números. Mas esses são importantes para mostrar que, apesar do tamanho da crise, que é a maior do pós-guerra, não há razão para pessimismos exagerados em 2010. Os novos abalos na Europa devem ser considerados, mas não superestimados.
A confiança é um fator fundamental para estimular a atividade econômica. No Brasil, felizmente, há expectativas bastante positivas tanto entre os consumidores como nas classes produtivas, em grande parte fundadas no avanço do mercado interno. Por isso, é muito importante ter cuidado na revisão da política anticíclica, para não permitir recaídas.


BENJAMIN STEINBRUCH , 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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