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Saldo comercial cai 82% no 1º bimestre
Superavit de US$ 394 mi em fevereiro é o mais baixo para o mês desde 2002; importações crescem o dobro das exportações
Governo espera mais vendas
nos próximos meses, com
embarque de commodities;
crescimento do país explica
descompasso na balança
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do desempenho recorde da média diária das exportações para o segundo mês
do ano, o crescimento das importações em fevereiro para
um patamar também inédito
para o período derrubou o saldo comercial brasileiro. O resultado, US$ 394 milhões, é o
mais baixo para o mês desde
2002, quando o comércio do
país com o exterior registrou
superavit de US$ 265 milhões.
Com o saldo negativo de janeiro em US$ 166 milhões, o
primeiro bimestre de 2010 registrou um superavit (US$ 228
milhões) 81,5% inferior ao do
início de 2009. Diante desse cenário, o mercado já prevê um
resultado em torno de US$ 10
bilhões neste ano, bem inferior
aos US$ 25,3 bilhões de 2009.
A recuperação de mercados
internacionais, principalmente
países emergentes, ajudou a
elevar as exportações brasileiras no mês, para US$ 12,197 bilhões -alta de 27,2% ante fevereiro de 2009, quando a crise
ainda causava maiores impactos sobre o comércio mundial.
No entanto, o ritmo de crescimento da economia brasileira nos últimos meses, aliado ao
câmbio favorável, deu um impulso de 50,8% às importações
na mesma comparação, para
US$ 11,803 bilhões em fevereiro deste ano. Segundo o secretário de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, o menor saldo comercial já era esperado.
"São dois fenômenos interligados. Na medida em que o país
exporta mais, precisa importar
mais insumos para a produção
industrial. Além disso, com o
mercado doméstico aquecido,
há aumento nas compras para
suprir o que não se fabrica no
país", afirma.
Embora a base de comparação seja baixa, ele destacou o
crescimento das vendas em relação a 2009, sobretudo para a
Argentina, cujo aumento nas
compras de produtos brasileiros foi de 66,1%, movimento liderado pela cadeia automotiva.
Além disso, disse Barral, o
volume de exportações normalmente decola a partir de
abril, quando os embarques de
commodities, como a soja, intensificam-se. "O superavit pode ser maior nos próximos meses. Provavelmente não teremos deficit no ano", afirmou.
Para o economista do Itaú-Unibanco Darwin Salles Dib, o
descompasso na balança é normal porque as importações
tendem a reagir mais rápido ao
crescimento doméstico do que
as exportações em relação à recuperação externa. "O Brasil se
expande mais rápido que o resto do mundo. Mesmo se crescesse na mesma taxa, haveria
saldo menor neste ano."
Deficit não preocupa já
Apesar da estimativa do banco para um superavit de apenas
US$ 2 bilhões em 2010, Dib
afirma que um eventual deficit
nas transações correntes de até
3% do PIB (soma de bens e serviços produzidos no país) neste
ano ainda não deve causar
preocupação. "O importante é
que essa necessidade de financiamento externo seja preenchida por investimentos."
Na opinião de Daniela Prates, professora do Instituto de
Economia da Unicamp, ainda
que a conta de transações do
Brasil com o exterior não revele
riscos no curto prazo, o acúmulo de deficit ao longo dos anos
pode levar o país a uma situação insustentável.
"Muitos fabricantes têm optado por deixar de competir no
acirrado mercado estrangeiro
para focar as vendas no mercado doméstico. O problema é
que esses exportadores podem
desaparecer nos próximos
anos, por não conseguirem recuperar espaço fora do país, gerando ainda mais desequilíbrios nessa conta."
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