São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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Saldo comercial cai 82% no 1º bimestre

Superavit de US$ 394 mi em fevereiro é o mais baixo para o mês desde 2002; importações crescem o dobro das exportações

Governo espera mais vendas nos próximos meses, com embarque de commodities; crescimento do país explica descompasso na balança

EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do desempenho recorde da média diária das exportações para o segundo mês do ano, o crescimento das importações em fevereiro para um patamar também inédito para o período derrubou o saldo comercial brasileiro. O resultado, US$ 394 milhões, é o mais baixo para o mês desde 2002, quando o comércio do país com o exterior registrou superavit de US$ 265 milhões.
Com o saldo negativo de janeiro em US$ 166 milhões, o primeiro bimestre de 2010 registrou um superavit (US$ 228 milhões) 81,5% inferior ao do início de 2009. Diante desse cenário, o mercado já prevê um resultado em torno de US$ 10 bilhões neste ano, bem inferior aos US$ 25,3 bilhões de 2009.
A recuperação de mercados internacionais, principalmente países emergentes, ajudou a elevar as exportações brasileiras no mês, para US$ 12,197 bilhões -alta de 27,2% ante fevereiro de 2009, quando a crise ainda causava maiores impactos sobre o comércio mundial.
No entanto, o ritmo de crescimento da economia brasileira nos últimos meses, aliado ao câmbio favorável, deu um impulso de 50,8% às importações na mesma comparação, para US$ 11,803 bilhões em fevereiro deste ano. Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, o menor saldo comercial já era esperado.
"São dois fenômenos interligados. Na medida em que o país exporta mais, precisa importar mais insumos para a produção industrial. Além disso, com o mercado doméstico aquecido, há aumento nas compras para suprir o que não se fabrica no país", afirma.
Embora a base de comparação seja baixa, ele destacou o crescimento das vendas em relação a 2009, sobretudo para a Argentina, cujo aumento nas compras de produtos brasileiros foi de 66,1%, movimento liderado pela cadeia automotiva.
Além disso, disse Barral, o volume de exportações normalmente decola a partir de abril, quando os embarques de commodities, como a soja, intensificam-se. "O superavit pode ser maior nos próximos meses. Provavelmente não teremos deficit no ano", afirmou.
Para o economista do Itaú-Unibanco Darwin Salles Dib, o descompasso na balança é normal porque as importações tendem a reagir mais rápido ao crescimento doméstico do que as exportações em relação à recuperação externa. "O Brasil se expande mais rápido que o resto do mundo. Mesmo se crescesse na mesma taxa, haveria saldo menor neste ano."

Deficit não preocupa já
Apesar da estimativa do banco para um superavit de apenas US$ 2 bilhões em 2010, Dib afirma que um eventual deficit nas transações correntes de até 3% do PIB (soma de bens e serviços produzidos no país) neste ano ainda não deve causar preocupação. "O importante é que essa necessidade de financiamento externo seja preenchida por investimentos."
Na opinião de Daniela Prates, professora do Instituto de Economia da Unicamp, ainda que a conta de transações do Brasil com o exterior não revele riscos no curto prazo, o acúmulo de deficit ao longo dos anos pode levar o país a uma situação insustentável.
"Muitos fabricantes têm optado por deixar de competir no acirrado mercado estrangeiro para focar as vendas no mercado doméstico. O problema é que esses exportadores podem desaparecer nos próximos anos, por não conseguirem recuperar espaço fora do país, gerando ainda mais desequilíbrios nessa conta."


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