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OPINIÃO ECONÔMICA
Menos 4%, por quê?
BENJAMIN STEINBRUCH
Fico preocupado sempre que
leio nos jornais alguém defendendo ou admitindo crescimento negativo para o Brasil. Mais
ainda quando é pessoa que admiro e respeito, como é o caso do
ministro Pedro Malan. Entendo
sua posição como economista
respeitado no Brasil e no exterior, mais ainda como bom brasileiro que é. Se fala assim, é porque acredita, o que torna mais
importante a afirmação. É por
isso que eu gostaria de levantar
algumas idéias.
Quando o ministro fala em 4%
de crescimento negativo do PIB
deste ano, todos pensam que vai
ser 8%. Se o governo, que é governo, está pessimista, imagine
nós, os cidadãos brasileiros, como vamos estar nos próximos
meses. Acredito ser mais do que
válida a preocupação do governo com a volta da inflação, e todos os esforços devem ser feitos
para impedir a ressurreição inflacionária. Mas partir para solução que implique crescimento
negativo de 4% é o mesmo que
jogar futebol com 11 goleiros e
saber antecipadamente que vai
tomar pelo menos seis!
Um país do tamanho do Brasil, com 165 milhões de pessoas,
politicamente estruturado, empresarialmente competente,
com o sistema financeiro em boa
saúde, excelentes profissionais e
reconhecidamente com enormes
potenciais não pode se acovardar, jogar na retranca para perder de pouco.
Acredito que devemos ousar,
ser criativos, convocar os brasileiros para estabilizarmos o país
com o crescimento da produção,
o retorno de investimentos, a
maior geração de empregos, juros menores, impostos menores,
desvalorização menor, maior
saldo na balança de pagamentos, eventual anistia parcial, retorno do otimismo e crescimento sustentado. Juntar tudo isso é
possível? Acredito que sim. Podemos buscar a estabilidade
com uma grande recessão ou
atingi-la com o crescimento sustentado. São as duas opções sobre a mesa.
No primeiro caso as ferramentas principais são juros altíssimos, carga tributária alta, redução da atividade econômica, desemprego, inadimplência e quebradeira. No segundo caso, carga tributária menor (com todos
pagando), juros menores (com
todos pagando, até o próprio governo), emprego (com todos trabalhando), crescimento (com
todos produzindo). Com isso tudo e boa dose de justo otimismo,
teríamos as ferramentas para a
virada. Não vale a pena tentar?
Não discuto visão macroeconômica. Muitos outros estudiosos no assunto poderão fazê-lo
melhor do que eu, que sou apenas empresário e cidadão. Mas,
do ponto de vista da produção,
do potencial prático de crescimento que tem esse país, acredito ter uma colaboração a dar.
Desde os cinco anos de idade
sinto o cheiro da produção, do
emprego, do chão da fábrica.
Sempre nas crises (e foram tantas...) ouvi dizer que o Brasil ia
melhorar e ser o país do futuro.
Nunca a produção falhou. Cada
vez mais, com inflação, com recessão, com deflação, com hiperinflação, lutamos, crescemos,
sobrevivemos e cumprimos nosso papel.
Se temos condição de equilibrar este país com aumento de
exportações, é só nos darem condições de que, mais uma vez, a
produção responda positivamente, da maneira mais rápida
e mais forte que se imagina.
Se temos que fazer um pacto
pelo emprego/salário para crescer no mercado interno, é só nos
darem condições que assim o faremos. Se em razão de um sacrifício maior pela estabilidade
precisarmos considerar um dólar irreal de R$ 1,50 por mais um
tempo, podemos fazê-lo.
Tenho conversado com empresários do Norte ao Sul do país,
responsáveis por microempresas, pequenas empresas, grandes
empresas. Em todos destaco
uma atitude comum, inequívoca, de confiança no Brasil e, ao
mesmo tempo, de perplexidade
diante dos fatos econômicos do
momento. Todos querem trabalhar e produzir. Para isso, já se
disseminou pelo país afora um
diálogo maduro entre as empresas e seus empregados, dando
uma força nova à parceria das
forças geradoras do progresso.
Essas lideranças da produção
não precisam ser convocadas.
Não precisam ser estimuladas a
continuar assumindo riscos na
caminhada rumo ao progresso.
Na agricultura, no comércio, na
mineração, no turismo, nos serviços, nas indústrias, os espaços
estão abertos para uma nova arrancada, que, em alguns casos,
já começou de forma tímida
porque está faltando o posicionamento claro da administração pública.
O Estado, pela via dos impostos, é o grande sócio oculto das
nossas empresas. Precisa, portanto, que elas avancem para
que possam gerar os recursos necessários ao Tesouro. Mais ainda, os reais que o país precisa investir para resgatar nossa dívida social.
A verdade é que a produção está pronta, mais uma vez, para
ser o instrumento maior, a ser
usado pelo governo para embasar uma nova proposta de país.
Estamos ao lado do governo para discutir, na prática, propostas de crescimento, investimento, emprego, aumento de exportações etc.
Nós somos uma parte desse governo e precisamos ficar juntos
para lutar, lado a lado, por um
país melhor, independente,
aberto à economia mundial,
aliado ao capital internacional,
que se dedique a investimentos
produtivos. Mas só podemos
agir assim mantendo viva a chama de desenvolvimento, aproveitando todo nosso potencial
de crescimento e transformando
o sonho do futuro na realidade
do presente que todos queremos.
Estabilidade sim, mas com crescimento sustentado.
Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional
e da Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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