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NA MIRA DO FISCO
Fazenda paulista autuou a cachaçaria em R$ 120 mi nos últimos dez anos; empresa nega acusações
Tatuzinho é acusada de megafraude fiscal
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal e o
Ministério Público do Estado de
São Paulo investigam suposta
prática de sonegação fiscal em
uma das maiores cachaçarias do
Brasil: a indústria de bebidas Tatuzinho, dona das marcas Tatuzinho, Velho Barreiro e 3 Fazendas.
A Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal de São Paulo também vai investigar operações da Tatuzinho.
O pedido de investigação foi feito em 18 de janeiro deste ano pelo
juiz Mário Chiuvite Junior, da 7ª
Vara Cível da Capital do Estado
de São Paulo, após analisar processo em que ex-sócios da Tatuzinho -os irmãos Reinold e Ricardo Zwecker- movem na Justiça
contra o controlador da empresa,
o grupo Tavares de Almeida. As
duas famílias são sócias ainda no
Casa Grande Hotel, no Guarujá.
O juiz também encaminhou ao
Banco Central, no início deste
ano, pedido de averiguação no
Banco Luso Brasileiro S.A. -que
pertence ao grupo Tavares de Almeida- de documentos relativos
às operações envolvendo fornecedores da Tatuzinho que teriam
emitido notas frias à cachaçaria.
No mês passado, em novo despacho, o juiz dispensou o BC de
enviar a ele o resultado do levantamento de documentos pedidos
ao banco, após requerimento da
família Tavares de Almeida, segundo informa Mario Engler Pinto Junior, advogado da Tatuzinho
e do grupo Tavares de Almeida.
Isso não quer dizer, porém, que o
BC vá deixar de enviar documentos a quem já investiga o caso, segundo informa Otto Steiner Júnior, advogado dos Zwecker.
Com base em notas apreendidas no escritório da empresa em
São Paulo e na sede em Rio Claro
(SP), a Fazenda paulista já autuou
a Tatuzinho em cerca de R$ 120
milhões por "práticas irregulares"
nos últimos dez anos.
Para escapar do pagamento de
impostos, segundo informações
de fiscais da Fazenda paulista relatadas nos autos de infração aplicados, a cachaçaria usava notas
fiscais frias, operava com fornecedores "inidôneos" e vendia a
clientes que não confirmaram ter
adquirido as bebidas. A Tatuzinho nega irregularidades.
Em um dos autos, aplicado em
dezembro de 2002, a Fazenda
paulista, por exemplo, cobrou da
Tatuzinho R$ 1,19 milhão (valor
atualizado até 2003) de ICMS, incluídos juros e multa, porque a
empresa "creditou-se indevidamente de impostos no montante
de R$ 225,9 mil pela entrada de
mercadorias no estabelecimento
acobertadas por documentos inábeis para as operações". A Tatuzinho recorreu e não houve decisão
do pedido.
As notas frias eram usadas pela
empresa para acumular créditos
fiscais que seriam descontados no
pagamento de impostos, segundo
informa o fisco paulista.
Há dez anos a Tatuzinho discute
o pagamento de ICMS. A empresa
entende que tem créditos fiscais
na compra de determinados insumos (caso do concentrado alcoólico). Considera que esse insumo
é tributado e que, portanto, tem
direito de descontar esse crédito
na venda de seus produtos.
Para a Fazenda, esse insumo
tem outra classificação, não deve
ser tributado e não gera crédito de
ICMS. Segundo fiscais, a empresa
chegou a superfaturar preços de
insumos para obter créditos fiscais de valores mais elevados.
Supostas irregularidades praticadas pela Tatuzinho também foram expostas na ação em que a família Zwecker (que até novembro
de 2003 era dona de 40% do capital da empresa) move na Justiça
para cobrar do grupo Tavares de
Almeida, controlador da cachaçaria, R$ 140 milhões relativos a prejuízos causados à companhia de
98 a 2003 e indenização por irregularidade na gestão da empresa.
A disputa entre as duas famílias
começou em 2003, com a morte
de Jakob Zwecker Junior (em
2002). Os filhos de Zwecker
-Reinold e Ricardo- alegam na
Justiça que, após a morte do pai,
tentaram se aproximar da administração da Tatuzinho, mas encontraram resistência dos Tavares de Almeida. "Os Zwecker não
conseguiram ter acesso às informações contábeis da empresa. E o
curioso é que, por anos, a empresa jamais distribuiu lucros", afirma o advogado dos Zwecker.
No processo que está na 7ª Vara
Cível, o perito contábil Valmir de
Souza José, nomeado pelo juiz
Chiuvite Junior, afirma que, com
base em documentos apreendidos na empresa, a Tatuzinho fez
"compras irregulares que corresponderam a R$ 105 milhões" (valor atualizado até 2003).
Na ação que movem na Justiça,
os Zwecker pedem investigação
sobre as operações do banco com
fornecedores da Tatuzinho. "A família Zwecker suspeita que a família Tavares de Almeida desviou
recursos da Tatuzinho para o
banco e que, para fazer isso, usou
notas frias e empresas fantasmas", diz Steiner Júnior. O advogado informa que enviou carta a
dois diretores do BC para denunciar essa suposta irregularidade.
A Tatuzinho nega desvios de recursos da empresa para o banco e
informa que pede a fornecedores
e clientes para que abram conta
no Banco Luso, já que este é do
grupo Tavares de Almeida. Afirma que essa prática é legal.
Na ação, o perito, ao se referir a
essas operações com o banco,
afirma que "a empresa ré [a Tatuzinho] não logrou esclarecer adequadamente essa operação [de
pagamento de duplicatas via Banco Luso] deixando dúvidas quanto à regularidade da mesma, na
medida em que a forma apresentada sugere enquadramento na lei
7.492, de 1986, que define os crimes contra o sistema financeiro
operacional", afirma o perito.
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