São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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Para Bernanke, fatores externos explicam contas negativas dos EUA

DA REPORTAGEM LOCAL

Ben Bernanke, presidente do Fed (o banco central norte-americano), tem em comum com os teóricos do "Bretton Woods 2" o fato de explicar o déficit em conta corrente dos Estados Unidos por movimentos fora das fronteiras do país.
Em sua opinião, o crescente endividamento norte-americano tem origem no excesso de poupança no resto do mundo, ou "saving glut" em inglês.
"Por que os Estados Unidos, com a maior economia do mundo, estão se endividando pesadamente no mercado internacional de capitais em vez de conceder empréstimos, o que pareceria mais natural?", perguntou Bernanke em discurso que proferiu em abril de 2005, antes de ser nomeado para o Fed.
A resposta, para ele, está no excesso de poupança, que inverteu a clássica trajetória de capital dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento. Nos últimos anos, a periferia passou a financiar investimentos na nação mais rica do mundo, quando a lógica seria o caminho oposto.
"Se a poupança de um país é superior a seus investimentos em um determinado período, a diferença representa um excesso de poupança, que pode ser emprestada no mercado de capitais internacional. Da mesma forma, se um país poupa menos do que precisa para financiar seu investimento doméstico, ele fecha a conta tomando dinheiro emprestado no exterior", observou.
A liberalização do fluxo de capitais e o desenvolvimento do mercado internacional de capitais possibilitaram esse arranjo. Mas ele não existiria sem a sobra de poupança, especialmente nos países em desenvolvimento, que passaram a ter grandes superávits em conta corrente nos últimos anos.
A concordância de Bernanke com o grupo de "Bretton Woods 2" pára aí. O presidente do Fed acredita que esse desequilíbrio não é sustentável e pode provocar distorções indesejadas.
Para os países em desenvolvimento, diz, não é razoável continuar a transferir poupança para a maior potência do mundo.
Nos Estados Unidos, o efeito negativo é a redução de investimentos nos setores industriais exportadores e a elevação dos realizados em serviços e construção.
"Para pagar os credores estrangeiros, o que terá de fazer algum dia, os Estados Unidos vão precisar de grandes e saudáveis empresas exportadoras", afirmou.
Mas ele acredita que o atual cenário mudará lentamente. "Nós provavelmente temos poucas escolhas além de ser pacientes", afirmou Bernanke. (CT)


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