São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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NA PRAÇA

Público corre atrás de prêmios

DA REPORTAGEM LOCAL

As pessoas que foram à festa da Força Sindical, ontem, em São Paulo, queriam ver os artistas e participar de sorteios de carros, apartamentos e viagens. Amontados próximos ao palco, alguns dos presentes mal tinham idéia do que é uma central sindical.
Maria Margarida Jesus dos Santos, 42, doméstica, levou ao evento dez cupons para concorrer a prêmios. ""Vamos ver se dou sorte, já que vivo com um salário mínimo. Trabalho aos sábados e faço unha para melhorar a renda do mês." Ela considerou uma ""vergonha" o aumento de R$ 20 para o salário mínimo (que foi a R$ 260), anunciado na quinta.
Alzira Maria Santana, 52, metalúrgica há 30 anos, filiada ao sindicato de sua categoria, disse que foi ""pouca vergonha" o presidente Lula, ""que era metalúrgico", estabelecer um reajuste ""tão baixo para o salário mínimo".
Ana Clécia dos Santos, 21, empregada doméstica, que levou os dois filhos para ver os shows, disse: "Não tenho a menor idéia do que é a Força. Vim para ver o KLB", disse Ana Clécia, que recebe R$ 400 para cumprir uma jornada de oito horas por dia.
Todos eles queriam ter pelo menos a sorte de Luciano Luiz Fenich, 33, pai de cinco filhos -o mais velho, de 17 anos. Morador do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, Fenich chegou ao evento às 8h30. Preencheu oito dos cupons distribuídos pelos organizadores. Ganhou uma viagem, sem acompanhante, de uma semana para Porto Seguro (BA).
""Queria ter ganho um carro, para poder trabalhar", disse o ex-tecelão que, desde 1995, trabalha fazendo bicos como montador de estruturas. O premiado perguntou aos organizadores se, em vez da viagem, poderia receber o equivalente em dinheiro.
""Não mudou nada do Fernando Henrique para o Lula. Mas a culpa não é só do Lula. Não vim protestar, vim por causa do prêmio."
O aposentado Milton Domingos, 68, tinha esperança de que um de seus dez cupons fosse sorteado. ""Sou aposentado, mas tenho que trabalhar para sustentar três filhos desempregados. Eles não conseguem um serviço há dois anos. O aumento de R$ 20 do mínimo foi um roubo. Não dá nem para comprar Voltaren [um antiinflamatório]." (FF E JAD)


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