São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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LINHAS CRUZADAS

Jóia da coroa do empresário Carlos Slim, compradora da Embratel é vice-campeã de queixas no México

Telmex traz ao país estigma de "monopolista"

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

A Telmex (Teléfonos de México), maior empresa de telefonia do México, diz que entra no Brasil confiante, mas com um pé atrás em relação aos seus novos concorrentes brasileiros.
Na semana passada, a Telmex venceu a batalha pela compra da Embratel e marcou sua primeira entrada no mercado do Brasil.
Na bagagem, a empresa traz o histórico de vice-campeã de queixas de consumidores no México, acusações de praticar o monopólio em seu país e algumas das tarifas mais elevadas da América Latina -o que a companhia nega.
A Telmex é uma das ""jóias da coroa" do mais rico empresário latino-americano, Carlos Slim, 64, que adquiriu a ex-estatal por US$ 1,76 bilhão em 1990 com a garantia de atuar livremente durante seis anos, sem nenhum órgão regulador em seu caminho.

Forte concorrência
Agora, acusada pela Comissão Federal de Concorrência Econômica do México de ser ""um poder dominante" nos mercados em que atua e de limitar a ampliação da telefonia em seu país, a Telmex se vê obrigada a partir para o mercado externo, onde espera ""forte concorrência".
""Essa não é a forma como atuamos", disse à Folha Jaime Chico Pardo, diretor-geral da Telmex, ao comentar o acordo que as suas três novas concorrentes no Brasil (as operadoras de telefonia fixa Telefônica, Brasil Telecom e Telemar) selaram para tentar derrotar a companhia mexicana na compra da Embratel.
A ação conjunta das teles fixas foi revelada pela Folha no domingo passado e visava realizar uma oferta bem maior do que a da Telmex pela compra dos 52% da Embratel da americana MCI.
Outro diretor da Telmex, Arturo Elías Ayub, qualificou como ""incrível" a ação das brasileiras. ""Quando li o que saiu publicado, pensei comigo: "É inacreditável que alguém tenha registrado isso por escrito"", disse, em referência à documentação apreendida pela polícia na sede da Telefônica.
""Esses documentos devem servir para que a Anatel tome providências. O único que pedimos é que as regras de competição sejam claras e que isso permaneça assim", disse Ayub.
Em seu próprio país, no entanto, a Telmex é freqüentemente acusada de práticas monopolistas. A entrada de competidores externos no México a partir de 1997 afetou a empresa apenas marginalmente.
Ainda hoje, as fatias de mercado ocupadas pela Telmex dão margem para as acusações: a empresa tem 95% do controle da telefonia fixa, 70% de domínio sobre o mercado de longa distância e 65% do setor de telefonia celular.

15 milhões de fixos
Com 100 milhões de habitantes, o México tem só 15 milhões de linhas de telefones fixos, uma das menores densidades do mundo.
Uma rara estratégia de, em vez de tarifar o minuto, cobrar um preço fixo de US$ 14 por um teto de cem chamadas e sobretaxar as ligações excedentes também é alvo de freqüentes críticas e de estudos de bancos que afirmam que o México tem alguns dos maiores preços de telefonia do mundo. ""Esses números são relativos e podem ser enganosos", diz Ayub. O faturamento da Telmex deverá alcançar US$ 10 bilhões neste ano, ampliando a fortuna estimada em mais de US$ 13 bilhões do empresário Carlos Slim.

Investimentos
Nesse ambiente de domínio de mercado, a Telmex tem conseguido manter um ritmo incomum de investimentos de US$ 2 bilhões ao ano e, mais raro ainda, atuar há 13 anos sem enxugar seu quadro de funcionários.
""Não houve nada, nem demissões nem greves desde 1990", afirma Hernández Juárez, presidente do Sindicato dos Telefonistas do México, que reúne 60 mil trabalhadores, sendo 49 mil pertencentes à Telmex.
Em relação a seus consumidores, no entanto, a Telmex só perde para a estatal de energia local no ranking das empresas com mais reclamações de clientes.
""O maior número de reclamações se dá por cobranças indevidas", afirma Enrique Burgos Véliz, diretor da Procuradoria Federal do Consumidor (uma espécie de Procon mexicano).
Em 2003, a Telmex chegou a ser multada pelo órgão em US$ 2,6 milhões por cobrar por serviços não autorizados por seus consumidores.
No campo internacional, a Telmex também foi acusada por companhias norte-americanas de cobrar mais de US$ 1 bilhão em ""tarifas indevidas" para realizar conexões de longa distância para dentro do México.
O caso foi levado à OMC (Organização Mundial do Comércio), que acabou dando decisão favorável às empresas dos EUA.
Em sua estréia no Brasil, a Telmex agora promete também uma estratégia agressiva que dê músculos à Embratel perante as suas concorrentes.
""Vamos fortalecer financeiramente a Embratel", afirma o diretor-geral, Chico Pardo, sem adiantar cifras.
""O que posso dizer é que, na área de telecomunicações, é preciso sanear dívidas para poder continuar o processo de atualização. Nesse mercado, não se pode trabalhar para pagar juros", diz.


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