|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Dinheiro, oligopólios e mídia
Governo enfim vai discutir lei que pode regular o avanço ainda maior de oligopólios sobre a mídia e comunicação
|
O QUE AS LEIS podem fazer
diante de fatos consumados
na área de mídia e comunicação, impostos pela tecnologia e pela
formação de meia dúzia de conglomerados globais? A pergunta tem o
sabor de título de seminário acadêmico, mas está para se tornar o principal embate econômico e político
do ano. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, diz que enfim governo vai começar os debates da Lei
Geral de Comunicação de Massa.
Rádio e TV ainda estão reguladas
por uma lei dos tempos das válvulas,
de 1962, o Código Brasileiro de Comunicações. As teles são reguladas,
por assim dizer, pela Lei Geral de
Telecomunicações, de meados dos
anos 90, quando a internet popular
ainda era incipiente e lenta.
O debate foi prometido em 2005,
uma comissão foi nomeada e nada
avançou na área oficial além de lobbies. Na vida real, corporações tentam criar situações de fato, como a integração de telefonia e televisão,
possibilidade aberta pela decrepitude das leis do setor, pela dispersão
das normas, pela incompatibilidade
de suas disposições, pela falta de
atribuição precisa de competências
de concessão e fiscalização dos serviços de mídia.
As teles vêem seu antigo negócio
principal, telefonia e transmissão de
dados, perder valor relativo. Querem entrar no negócio audiovisual.
As empresas convencionais do ramo, TVs e rádio, começam a aceitar
o inevitável, a perder anéis para ficar
com algum dedo. Situações de fato
se acumulam, tanto as derivadas de
mudanças tecnológicas ("convergência digital"), que tornam a legislação impotente, como de uma legislação dúbia, que abre espaço para
decisões judiciais "ad hoc", que desregulam ponto a ponto o mercado.
A legislação sobre mídia ainda
controla, por exemplo, a participação do capital estrangeiro nas empresas de comunicação. Mas, em
breve, os limites práticos à penetração da mídia (notícias ou outras) sob
controle multinacional no país serão a capacidade de consumo dos
brasileiros e a velocidade de transmissão de dados. Hoje, ver TV na internet ainda é complicado e o meio
de transmissão é ineficiente. Mas
quem puder pagar pelo acesso aos
diversos canais de recepção de informação receberá os pacotes que
desejar e quiser consumir.
O problema central é como evitar
concentração econômica e política
ainda maior na indústria de informação. Por um lado, a longo prazo
parece difícil barrar a entrada dos
grandes conglomerados globais de
teles/mídia no mercado nacional,
dadas as possibilidades tecnológicas. A médio prazo, a desregulamentação imediata vai fazer com que o
mercado tenda a ser dominado pelas
empresas que dispuserem de maior
recursos para investir em infra-estrutura, em equipamentos e redes
de transmissão mais rápidos, que facilitem a vida do consumidor.
Durante tempo razoável, dada a
pobreza do país, a TV convencional
ainda será o serviço mais popular de
distribuição de produtos visuais.
Ainda estará aí a oportunidade de
criar empresas que se contraponham ao peso das múltis das telecomunicações. Mas, como sempre e
em qualquer setor econômico, surge
o problema da escala, da capacidade
de investimento e de inovação técnica da empresa nacional -diminuto.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Dirigente da BP sai após notícias sobre sua vida pessoal Próximo Texto: Venda de máquinas agrícolas deverá crescer 60% no ano Índice
|