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Países "promovidos" sentiram efeito no câmbio por 2 anos
Se Brasil seguir experiência de nações como Índia, México e Rússia, real seguirá em alta
Moedas desses países se
valorizaram nos 24 meses
antes da reclassificação e
continuaram avançando nos dois anos seguintes
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A entrada do Brasil no clube
dos países considerados bons
para se investir ("investment
grade") deverá prolongar a valorização do real em relação ao
dólar e reforçar a importância
das desonerações ao setor exportador esperadas com a nova
política industrial, que está
sendo elaborada pelo governo.
Nos últimos meses, a preocupação com a trajetória do câmbio, especialmente em 2009 e
em 2010, tem tomado conta
dos debates da equipe econômica com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. A pressão
dos empresários, que reclamam perda de competitividade
com a apreciação da moeda, é
grande sobre o governo.
A se confirmarem as previsões de especialistas, reforçadas pelo ocorrido em países
emergentes que também alcançaram o patamar de "investment grade", o Brasil ainda deverá conviver com apreciação
do real nos próximos dois anos.
A expectativa é que o impacto da reclassificação da nota
atribuída ao Brasil pela agência
Standard & Poor's, anunciada
anteontem, produza frutos a
médio e a longo prazos, estimulando o ingresso de recursos
para investimentos produtivos
no país, em vez de aumento do
fluxo no curto prazo.
Levantamento feito com Índia, Rússia, México e Coréia do
Sul -países que também receberam o selo de "investment
grade"- mostra que as moedas
desses países se valorizaram
nos 24 meses que antecederam
a reclassificação e continuaram
se apreciando nos dois anos seguintes.
Pela experiência dessas economias, mesmo diante de turbulências externas que geraram picos de desvalorização em
vários países, a tendência de
apreciação das moedas locais se
manteve.
Foi o que aconteceu, por
exemplo, com a Coréia, que virou "investment grade" em janeiro de 1999 e, nos dois anos
anteriores, viveu momentos de
grande desvalorização da sua
moeda devido às crises do Sudeste Asiático e da Rússia. Mas
a moeda se recuperou e avançou mais de 47% em relação ao
pior momento.
O México teve trajetória semelhante nos 24 meses anteriores a março de 2000, quando
atingiu o selo de qualidade para
investimento das agências de
classificação de risco.
Na Rússia, a apreciação de
cerca de 24% antes de o país virar "investment grade", em outubro de 2003, continuou e
chegou a 20% nos dois anos seguintes à conquista da nota.
No caso da Índia, a moeda local registrou valorização de
mais de 12% antes da reclassificação, em janeiro de 2004, e teve apreciação de mais 5% nos
meses seguintes.
Agora, menor
O tamanho da valorização
após o "investment grade" variou de acordo com o patamar
em que a taxa de câmbio estava
no momento do anúncio. No
caso brasileiro, já houve apreciação do real de 38% desde o
final de 2004. Com base nisso,
avalia-se que o espaço para novas apreciações a partir de agora seria pequeno.
No entanto o cenário mundial -com redução da taxa de
juros nos Estados Unidos, aumento no Brasil e aversão a risco- sugere que o Brasil pode se
beneficiar de um maior fluxo
de investimentos estrangeiros
nos próximos anos pelo potencial de crescimento do mercado
interno.
O próprio governo tentará
medir esse possível impacto a
partir de agora para tentar calibrar não apenas as compras de
dólares que o Banco Central
precisará fazer para reduzir o
volume de dólares disponíveis
como o estímulo necessário para as exportações.
Apesar da chiadeira dos empresários, que afirmam estar
perdendo receitas com as vendas externas, o Ministério da
Fazenda já começou a ensaiar o
discurso de que é preciso considerar também nessa conta que
o real não vem se desvalorizando diante do euro, outro destino das exportações brasileiras.
Isso compensaria parte das
perdas nas receitas com as vendas em dólar para os EUA.
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