São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

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Países "promovidos" sentiram efeito no câmbio por 2 anos

Se Brasil seguir experiência de nações como Índia, México e Rússia, real seguirá em alta

Moedas desses países se valorizaram nos 24 meses antes da reclassificação e continuaram avançando nos dois anos seguintes


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A entrada do Brasil no clube dos países considerados bons para se investir ("investment grade") deverá prolongar a valorização do real em relação ao dólar e reforçar a importância das desonerações ao setor exportador esperadas com a nova política industrial, que está sendo elaborada pelo governo.
Nos últimos meses, a preocupação com a trajetória do câmbio, especialmente em 2009 e em 2010, tem tomado conta dos debates da equipe econômica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pressão dos empresários, que reclamam perda de competitividade com a apreciação da moeda, é grande sobre o governo.
A se confirmarem as previsões de especialistas, reforçadas pelo ocorrido em países emergentes que também alcançaram o patamar de "investment grade", o Brasil ainda deverá conviver com apreciação do real nos próximos dois anos.
A expectativa é que o impacto da reclassificação da nota atribuída ao Brasil pela agência Standard & Poor's, anunciada anteontem, produza frutos a médio e a longo prazos, estimulando o ingresso de recursos para investimentos produtivos no país, em vez de aumento do fluxo no curto prazo.
Levantamento feito com Índia, Rússia, México e Coréia do Sul -países que também receberam o selo de "investment grade"- mostra que as moedas desses países se valorizaram nos 24 meses que antecederam a reclassificação e continuaram se apreciando nos dois anos seguintes.
Pela experiência dessas economias, mesmo diante de turbulências externas que geraram picos de desvalorização em vários países, a tendência de apreciação das moedas locais se manteve.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Coréia, que virou "investment grade" em janeiro de 1999 e, nos dois anos anteriores, viveu momentos de grande desvalorização da sua moeda devido às crises do Sudeste Asiático e da Rússia. Mas a moeda se recuperou e avançou mais de 47% em relação ao pior momento.
O México teve trajetória semelhante nos 24 meses anteriores a março de 2000, quando atingiu o selo de qualidade para investimento das agências de classificação de risco.
Na Rússia, a apreciação de cerca de 24% antes de o país virar "investment grade", em outubro de 2003, continuou e chegou a 20% nos dois anos seguintes à conquista da nota.
No caso da Índia, a moeda local registrou valorização de mais de 12% antes da reclassificação, em janeiro de 2004, e teve apreciação de mais 5% nos meses seguintes.

Agora, menor
O tamanho da valorização após o "investment grade" variou de acordo com o patamar em que a taxa de câmbio estava no momento do anúncio. No caso brasileiro, já houve apreciação do real de 38% desde o final de 2004. Com base nisso, avalia-se que o espaço para novas apreciações a partir de agora seria pequeno.
No entanto o cenário mundial -com redução da taxa de juros nos Estados Unidos, aumento no Brasil e aversão a risco- sugere que o Brasil pode se beneficiar de um maior fluxo de investimentos estrangeiros nos próximos anos pelo potencial de crescimento do mercado interno.
O próprio governo tentará medir esse possível impacto a partir de agora para tentar calibrar não apenas as compras de dólares que o Banco Central precisará fazer para reduzir o volume de dólares disponíveis como o estímulo necessário para as exportações.
Apesar da chiadeira dos empresários, que afirmam estar perdendo receitas com as vendas externas, o Ministério da Fazenda já começou a ensaiar o discurso de que é preciso considerar também nessa conta que o real não vem se desvalorizando diante do euro, outro destino das exportações brasileiras. Isso compensaria parte das perdas nas receitas com as vendas em dólar para os EUA.


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