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Talvez agora reclamem das agências de risco
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
COLUNISTA DA FOLHA
A ELEVAÇÃO da avaliação de risco do
Brasil a grau de investimento pela agência S&P
não surpreende. Era, creio,
um dos eventos mais esperados do ano e, em particular,
já em maio de 2007 meu colega Cristiano Souza publicou trabalho no qual afirmava ser muito alta a probabilidade de que pelo menos uma
das agências promoveria o
país a essa categoria ainda na
primeira metade de 2008.
Há pelo menos duas conseqüências importantes que
deverão resultar desse fato,
mas, antes de me aprofundar
nelas, permita-me uma breve reflexão sobre o caminho
que nos trouxe ao tão desejado grau de investimento. Da
forma como o vejo, é o resultado da persistência, ao longo de dez anos, de uma política econômica coerente, baseada no tripé responsabilidade fiscal, câmbio flutuante
e metas de inflação.
Não que a execução desse
regime tenha sido exemplar.
A responsabilidade fiscal
tem sido guiada pelo objetivo
parcial de redução da dívida
pública (que foi essencial à
recente promoção), mas
presta pouca atenção à questão do gasto público, em especial o gasto corrente, cujo
principal efeito é limitar a capacidade de crescimento de
longo prazo do país.
No entanto, o foco das
agências de risco não é o
crescimento, ou o bem-estar
da população, ou mesmo
uma análise completa de todos os aspectos da economia
de um país. Trata-se tão-somente de uma avaliação
acerca da probabilidade de
que o país pague aquilo que
deve, e, nesse aspecto, a melhora da economia brasileira
é visível e dois fatores merecem especial atenção.
Em primeiro lugar, a política econômica atual é vista
como sustentável, ou seja,
capaz de ser mantida, pois,
além de implicar estabilidade, mostrou-se coerente com
a retomada de um ritmo de
crescimento mais forte, desmentindo os críticos que
viam na busca da estabilidade o abandono do crescimento. Em segundo lugar, a
promoção foi obtida em
meio a séria crise internacional, mostrando que os esforços pela melhora da capacidade de resistência da economia a choques (como a
acumulação de reservas) valeram a pena.
Isto dito, a primeira grande conseqüência da promoção do país deve ser uma redução adicional do custo de
capital para os setores público e privado. Grandes investidores internacionais que,
por motivos regulatórios, enfrentavam limites à ampliação de seus investimentos no
Brasil agora poderão fazê-lo,
trazendo ao país recursos antes inacessíveis. A principal
implicação desse fenômeno
deverá ser uma aceleração
suplementar do investimento e, portanto, do crescimento, ampliando os dividendos
da estabilidade.
A outra grande conseqüência é o reforço à continuidade dessa política. Uma
vez obtido o grau de investimento, será muito custoso
perdê-lo, o que gera incentivos poderosos à manutenção
(e, com um pouco de sorte,
aprofundamento) do atual
regime de política.
Aventuras populistas e
idéias exóticas deverão ter
menor respaldo, empurrando nossos keynesianos de
quermesse cada vez mais para as margens da formulação
de política.
Claro que haverá protesto.
Em linha com a valorização
dos ativos brasileiros, a moeda deverá se apreciar, gerando choradeira por parte dos
suspeitos de sempre, que
ainda se recusam a ver a ligação entre a melhora do país e
a apreciação da moeda, bem
como o efeito do gasto público sobre a taxa de câmbio.
Talvez agora reclamem das
agências de risco...
ALEXANDRE SCHWARTSMAN , 45, é economista-chefe para América Latina do Banco Real, doutor pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
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