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País deixa de arrecadar US$ 10 bilhões ao ano com indefinição, diz especialista
DA SUCURSAL DO RIO
A decisão do governo de suspender a licitação das áreas de
exploração de petróleo no pré-sal significa perdas financeiras
para o país, segundo especialistas. Estima-se que, a cada ano
de atraso no desenvolvimento
da produção de reservas da ordem de 50 bilhões de barris, o
país deixe de ganhar US$ 10 bilhões por ano em arrecadação
de royalties, participações especiais e Imposto de Renda.
As contas são do engenheiro
Renato Bertani, ex-executivo
da Petrobras e presidente da
consultoria americana Thompson & Knight Global Energy
and Services -e corroborada
por outros especialistas. Consideram o preço do barril a US$
70 e o tamanho das reservas estimadas em áreas não licitadas.
Royalties são compensações
que empresas de petróleo pagam a municípios, Estados e
União. Participações especiais
são receitas extras de campos
de produtividade alta.
"A perda pode ser compensada quando a produção começar,
mas o recurso deveria chegar à
sociedade logo", diz Bertani.
O governo decidiu, em 2007,
retirar do leilão anual a oferta
de 41 áreas nas bacias de Santos, no pré-sal, e não retomou
mais as ofertas. Foi instituída
uma comissão interministerial
para estudar a criação de regras
específicas no pré-sal.
Criada em 1997, a atual legislação prevê a concessão das
áreas onde há indícios de reservas de petróleo, da União, às
empresas que fizerem as melhores ofertas, em leilões.
Se a empresa achar petróleo,
poderá produzir por até 27
anos. Um terço das receitas das
empresas hoje vai para pagamento de royalties, participações e imposto. O governo alega
que o modelo garante ganhos
excessivos no pré-sal - onde,
estima-se, há grandes reservas.
O governo avalia criar, para o
pré-sal, contratos de partilha,
em que escolhe as empresas
que explorarão as áreas e as
ressarce nos custos de produção. O que sobra é dividido entre ambos. Também se estuda a
criação de uma estatal que herdaria as reservas do pré-sal.
Qualquer mudança tem de passar pelo Congresso.
Para especialistas, a indefinição ajuda a Petrobras. A carteira atual da empresa não teria
espaço para novos projetos.
Maior acionista, o governo parece concordar. O ministro de
Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que, com os
blocos já licitados, a Petrobras e
as demais empresas "já têm
muito trabalho" e não darão
conta de explorar novas áreas.
A tentativa de mudar a lei é
criticada. "Com a lei atual, a
ANP poderia, a cada leilão, criar
alíquotas de participações especiais diferenciadas. Só isso já
garantiria à sociedade receita
maior com o pré-sal", diz Plínio
Barbosa, sócio do escritório
Barbosa, Müssnich & Aragão.
A indefinição preocupa investidores. "Quem tem disposição de vir, diante de tanta dúvida?", diz Armando Guedes,
consultor e ex-presidente da
Petrobras.
(SAMANTHA LIMA)
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