São Paulo, domingo, 2 de maio de 1999

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DESEMPREGO
Medidas adotadas pelo governo para flexibilizar as relações de trabalho não elevaram número de contratações
Trabalho informal cresce na Argentina

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

O mercado de trabalho informal na Argentina cresceu, apesar das medidas adotadas pelo governo.
A estratégia de flexibilização das relações de trabalho e de redução dos custos do salário não conseguiram diminuir o número de empregados sem vínculos legais.
Em 1995, cerca de 30,2% dos trabalhadores estavam no mercado informal. As estatísticas de 1998 revelam que o índice chegou a 36,6%. Os dados são computados a partir do número de empregados que não contribuem para o sistema de seguridade social argentino.
Nesse mesmo período, houve uma redução de mais de 40% no valor dos encargos sobre os salários. Em 1994, um empregador pagava US$ 33 ao governo para cada US$ 100 de salário. Em abril de 1999, o empregador desembolsou US$ 18,9 para cada US$ 100.
O resultado, no entanto, não fez com que a maioria dos economistas consultados pela Folha descartasse as reformas para flexibilizar as relações trabalhistas.
"A situação estaria muito pior, caso não tivéssemos feito as mudanças", disse Luis Secco, economista-chefe do Instituto Broda.
Para Claudio Lozano, economista e diretor da CTA (Central de Trabalhadores da Argentina), o problema do desemprego não está no custo do trabalho, mas no nível de atividade.
Ninguém discorda de que a principal arma no combate ao desemprego é o crescimento. "Para criar emprego é preciso crescer", disse o ex-ministro do Planejamento Delfim Netto, em passagem por Buenos Aires.
A economista da Fiel (Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas) Nuria Susmel estima que, para cada 1% de crescimento, o emprego cresce 0,12%. A geração de trabalho para cada 1% de queda no custo do funcionário é de apenas 0,03%.
Na tentativa de reduzir os níveis de desemprego na Argentina, o governo vai continuar diminuindo o custo do trabalho. "Reduzir os encargos salariais é a melhor estratégia", disse Rogelio Frigerio, subsecretário de Programação Econômica do Ministério da Fazenda.
Até o final do ano, o empresário deverá pagar ao governo US$ 15,2 para cada US$ 100 de salário, uma redução de US$ 3,7 em relação ao nível atual.
Além da queda do custo, o governo pretende liberalizar a negociação de contratos de trabalho, deixando mais livre a relação entre empresas e trabalhadores.
O objetivo é que as empresas tenham facilidades para reduzir seus quadros nas fases de crise e absorver mais mão-de-obra nos períodos de crescimento, diz Ernesto Kritz, diretor-executivo da SEL (Sociedad de Estudios Laborales).
Este será um ano difícil para o desemprego na Argentina. Após uma tendência de queda, em 1995, quando a Argentina sofreu os efeitos da crise do México, o desemprego voltou a crescer. Naquela época o desemprego chegou a 18,4%, recorde histórico
Neste mês, o desemprego pode chegar a 16,5%, segundo estimativas do Instituto Broda. Previsões mais otimistas do instituto prevêem cifras de 14,3% e de 15,5%. Em 1998, o desemprego estava no nível mais baixo desde 1995, em 12,4%.
Na opinião de Kritz, o problema da falta de trabalho cresceu depois da abertura econômica. De 1985 a 1991, início da modernização da Argentina, a taxa recorde de desemprego foi de 8,6%.
Segundo Kritz, antes da abertura, o setor informal era mais capaz de absorver mão-de-obra. Com o aumento da concorrência, os setores mais débeis da economia, exatamente os mais frágeis, tiveram dificuldades de competir e muitos fecharam.



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