São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2008

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Lula culpa especulação pela alta de preços

Aumento do petróleo e dos alimentos no mundo reflete ação de especuladores no mercado futuro, afirma presidente

Brasileiro participa amanhã de cúpula da FAO sobre segurança alimentar, em que defenderá o uso de combustíveis alternativos


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou ontem a especulação pelos dois tormentos que mais afetam no momento a economia mundial, os altos preços do petróleo e dos alimentos.
"Não tem nenhum sentido o petróleo estar a US$ 140 ou US$ 145 o barril", disparou o presidente, em entrevista coletiva aos jornalistas brasileiros que acompanham sua viagem à Itália.
Lula chegou até a quantificar o tamanho da especulação com petróleo, ao afirmar "ter consciência de que o preço do petróleo na bomba de gasolina não chega a US$ 35". "Então tem gente ganhando muito dinheiro no mercado futuro com o preço do petróleo e é preciso que façamos uma discussão mais geral e mundial sobre isso", disse.
No capítulo alimentos, o presidente dividiu o problema da alta de preços em duas partes, a interna e a externa. Na primeira, culpou leite e feijão por 0,7 ponto percentual da inflação no Brasil, mas afirmou que são problemas sazonais, causados por crises no município baiano de Irecê, grande produtor de feijão, e no Paraná, que deixou de produzir 29% do feijão que produzia.
"Nessa área de produtos que não fazem parte do mercado internacional, nós iremos resolver com o aumento da produtividade interna", afirmou.
Mas aceitou que há especulação "no mercado futuro de alguns produtos que são commodities e sobre os quais nós não temos controle".
A chamada "agflação", a inflação dos bens agrícolas ou derivados da agricultura, acabou sendo o tema mais importante da cúpula sobre segurança alimentar e mudanças climáticas que a FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura) convocou entre amanhã e quinta na sua sede romana.
Lula vai aproveitar a cúpula, na qual fala amanhã, para defender o que admitiu ser sua obsessão, o programa brasileiro de etanol e, mais abrangentemente, os combustíveis alternativos. "Nós, brasileiros, estamos convencidos de que o mundo pode relutar, mas vai ter que assumir a responsabilidade de usar outros combustíveis", disse ontem, antecipando a linha central do discurso que fará amanhã.
Mas Lula terá que defender o etanol de duas linhas de críticas. Primeiro, a questão do preço dos alimentos. "A experiência brasileira mostra ao mundo que nós aumentamos a área de produção de alimentos e a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que aumentamos a produção de biocombustíveis."
Mas ele admite também que "não é correto você produzir o biocombustível a partir de alguma oleaginosa que possa ser a base de alimentação humana ou animal". Chegou a citar o etanol derivado do trigo como "criminoso", palavra forte que, no entanto, evitou para caracterizar o etanol derivado do milho, produzido nos Estados Unidos.
Ao defender o etanol, Lula saiu ao ataque ao petróleo e, de passagem, a outra fenômeno especulativo que afeta a economia global (a crise das hipotecas "subprime").
"Estranhamente, as pessoas não discutem o preço do petróleo. Não se ouve nos debates a incidência do custo do petróleo no transporte de alimentos no mundo inteiro e na produção de fertilizantes, que, em grande parte, necessita de derivados de petróleo. Esse debate não é feito pelo chamado mundo desenvolvido", lamentou.
Citou até o fato de que, na recente Cúpula União Européia/ América Latina e Caribe, realizada em Lima, "das seis pessoas da União Européia que falaram, ninguém falou em petróleo, como se não existissem nem o petróleo nem a crise imobiliária americana". "São dois problemas que podem afetar os países pobres, mas isso não está no discurso dos países ricos", reclamou o presidente. Lula reclamou ainda da incerteza sobre o tamanho da crise do "subprime" e do fato de o crédito mundial "estar escasso".


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