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Lula culpa especulação pela alta de preços
Aumento do petróleo e dos alimentos no mundo reflete ação de especuladores no mercado futuro, afirma presidente
Brasileiro participa amanhã de cúpula da FAO sobre segurança alimentar, em que defenderá o uso de combustíveis alternativos
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou ontem a especulação pelos dois
tormentos que mais afetam no
momento a economia mundial,
os altos preços do petróleo e
dos alimentos.
"Não tem nenhum sentido o
petróleo estar a US$ 140 ou
US$ 145 o barril", disparou o
presidente, em entrevista coletiva aos jornalistas brasileiros
que acompanham sua viagem à
Itália.
Lula chegou até a quantificar
o tamanho da especulação com
petróleo, ao afirmar "ter consciência de que o preço do petróleo na bomba de gasolina não
chega a US$ 35". "Então tem
gente ganhando muito dinheiro no mercado futuro com o
preço do petróleo e é preciso
que façamos uma discussão
mais geral e mundial sobre isso", disse.
No capítulo alimentos, o presidente dividiu o problema da
alta de preços em duas partes, a
interna e a externa. Na primeira, culpou leite e feijão por 0,7
ponto percentual da inflação
no Brasil, mas afirmou que são
problemas sazonais, causados
por crises no município baiano
de Irecê, grande produtor de
feijão, e no Paraná, que deixou
de produzir 29% do feijão que
produzia.
"Nessa área de produtos que
não fazem parte do mercado internacional, nós iremos resolver com o aumento da produtividade interna", afirmou.
Mas aceitou que há especulação "no mercado futuro de alguns produtos que são commodities e sobre os quais nós não
temos controle".
A chamada "agflação", a inflação dos bens agrícolas ou derivados da agricultura, acabou
sendo o tema mais importante
da cúpula sobre segurança alimentar e mudanças climáticas
que a FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura)
convocou entre amanhã e
quinta na sua sede romana.
Lula vai aproveitar a cúpula,
na qual fala amanhã, para defender o que admitiu ser sua
obsessão, o programa brasileiro de etanol e, mais abrangentemente, os combustíveis alternativos. "Nós, brasileiros, estamos convencidos de que o
mundo pode relutar, mas vai
ter que assumir a responsabilidade de usar outros combustíveis", disse ontem, antecipando
a linha central do discurso que
fará amanhã.
Mas Lula terá que defender o
etanol de duas linhas de críticas. Primeiro, a questão do preço dos alimentos. "A experiência brasileira mostra ao mundo
que nós aumentamos a área de
produção de alimentos e a produção de alimentos, ao mesmo
tempo em que aumentamos a
produção de biocombustíveis."
Mas ele admite também que
"não é correto você produzir o
biocombustível a partir de alguma oleaginosa que possa ser
a base de alimentação humana
ou animal". Chegou a citar o
etanol derivado do trigo como
"criminoso", palavra forte que,
no entanto, evitou para caracterizar o etanol derivado do milho, produzido nos Estados
Unidos.
Ao defender o etanol, Lula
saiu ao ataque ao petróleo e, de
passagem, a outra fenômeno
especulativo que afeta a economia global (a crise das hipotecas "subprime").
"Estranhamente, as pessoas
não discutem o preço do petróleo. Não se ouve nos debates a
incidência do custo do petróleo
no transporte de alimentos no
mundo inteiro e na produção
de fertilizantes, que, em grande
parte, necessita de derivados de
petróleo. Esse debate não é feito pelo chamado mundo desenvolvido", lamentou.
Citou até o fato de que, na recente Cúpula União Européia/
América Latina e Caribe, realizada em Lima, "das seis pessoas
da União Européia que falaram,
ninguém falou em petróleo, como se não existissem nem o petróleo nem a crise imobiliária
americana". "São dois problemas que podem afetar os países
pobres, mas isso não está no
discurso dos países ricos", reclamou o presidente. Lula reclamou ainda da incerteza sobre o tamanho da crise do "subprime" e do fato de o crédito
mundial "estar escasso".
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