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Ex-importadora da Cisco aponta prejuízo de R$ 40 mi
Alvo de operação da PF há sete meses, empresa Mude diz ter perdido 95% do faturamento
Empresa tenta negociar fim de restrições para importar e solucionar na Justiça o destino do estoque de equipamentos apreendidos
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Quarenta milhões de reais de
prejuízo em mercadorias
apreendidas, uma redução de
95% no faturamento, demissão
de 155 funcionários, sete diretores processados. Este é o saldo da Operação Persona para a
Mude, acusada de ser um dos
pivôs do esquema de importações fraudulentas de equipamentos da Cisco. Hoje, a distribuidora de produtos de informática opera no vermelho e luta para se manter na ativa.
Além de convencer o mercado a lhe conceder uma segunda
chance, a Mude tenta resolver
na Justiça um impasse pelo
destino do estoque de equipamentos da Cisco que foram
apreendidos. Na Receita Federal, ela busca o fim das restrições às suas importações.
Pela primeira vez, desde que
a operação foi deflagrada, há sete meses, um de seus diretores
presos pela Polícia Federal
contou detalhes da ação à Folha, sob a condição de não ter
sua identidade revelada por
questões de segurança e também para que não haja interferência em seu processo, que
corre em segredo na 4ª Vara
Criminal da Justiça Federal de
São Paulo.
Segundo ele, logo após o início da operação, a Mude ficou
15 dias parada até que um tabelião fosse à carceragem da PF
para que o comando da empresa fosse oficialmente transmitido a outros funcionários. Servidores, notebooks, arquivos e
documentos, na empresa e na
casa dos acusados, foram
apreendidos. Os telefones ficaram inativos, porque eram conectados aos servidores.
Os equipamentos importados da Cisco apreendidos continuam trancados no depósito
da Mude, em Alphaville, Grande São Paulo, e, segundo o diretor, não foram inventariados
pelos fiscais e agentes, algo que
atrapalhou as atividades da
companhia. Muitos clientes ficaram desassistidos porque a
Mude não sabia que equipamentos podiam ser usados.
O prejuízo com o estoque aumenta no ritmo da desvalorização do dólar diante do real. A
Mude estima que em um ano o
valor será corroído pelo câmbio. Por isso, tentou convencer
o juiz responsável pelo processo, Alexandre Cassetari, de que
as mercadorias fossem vendidas e o valor depositado numa
conta judicial, mas não obteve
sucesso. O objetivo é retirá-las
de seu depósito para que a empresa possa retomar as atividades e fazer uso do galpão de
1.500 metros quadrados cujo
espaço é quase todo ocupado
pelos produtos apreendidos da
Cisco, que representava 80%
do negócio. Com a abertura do
processo, a Cisco rescindiu o
contrato com a Mude.
Segundo o advogado dos acusados da Mude, Antônio Ruiz
Filho, nos últimos dias, a Receita Federal decidiu começar a
retirada das mercadorias.
Reflexo dessa crise, as vendas
despencaram, passando a representar o equivalente a 5%
do faturamento de sete meses
atrás. Com isso, o quadro pessoal, que antes contava com 190
colaboradores, caiu para 35. Os
antigos diretores, José Roberto
Pernomian Rodrigues e
Moacyr Sampaio, se afastaram.
Marcelo Ikeda, antigo diretor
comercial, também detido pela
PF, assumiu o comando da Mude, tendo Marcílio Lemos e
Francisco Gandim como assistentes na administração.
Operando no prejuízo, a
companhia espera atingir o
"break even point" (ponto de
equilíbrio entre receitas e despesas) entre seis meses e um
ano. Para isso, depende da ampliação do número de fornecedores, que caiu de 15 para 6. A
conquista de novos parceiros
tem sido penosa. Após o escândalo, três firmaram contrato.
A Mude também enfrenta dificuldades para importar. Desde que a ação da PF teve início,
a distribuidora foi incluída no
canal cinza da Receita -todas
as mercadorias que chegam são
submetidas a inspeção, bem como seus documentos, algo que
praticamente inviabiliza uma
operação comercial devido à
demora na liberação das mercadorias, que, segundo a Mude,
passa de três meses.
A companhia, por intermédio de Ruiz Filho, tenta negociar com a Receita para que
possa retomar as importações.
A conclusão do processo em
que a Mude é ré juntamente
com seus diretores e sócios está
prevista para o final deste ano.
Segundo Ruiz Filho, o juiz ainda ouve testemunhas de acusação. A defesa deve se manifestar em um mês, e ele garante
que será demonstrada a inocência dos acusados da Mude
no esquema de importação
fraudulenta por meio de empresas interpostas que, segundo a PF, subfaturavam as mercadorias. "A Mude comprava
produtos da Cisco aqui no Brasil por meio de importadores
idôneos e que estão na ativa. Os
meus clientes garantem que
não havia a interposição fraudulenta." Segundo ele, não há
nas gravações da PF, nada que
comprove as acusações.
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