São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2008

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Ex-importadora da Cisco aponta prejuízo de R$ 40 mi

Alvo de operação da PF há sete meses, empresa Mude diz ter perdido 95% do faturamento

Empresa tenta negociar fim de restrições para importar e solucionar na Justiça o destino do estoque de equipamentos apreendidos


JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Quarenta milhões de reais de prejuízo em mercadorias apreendidas, uma redução de 95% no faturamento, demissão de 155 funcionários, sete diretores processados. Este é o saldo da Operação Persona para a Mude, acusada de ser um dos pivôs do esquema de importações fraudulentas de equipamentos da Cisco. Hoje, a distribuidora de produtos de informática opera no vermelho e luta para se manter na ativa.
Além de convencer o mercado a lhe conceder uma segunda chance, a Mude tenta resolver na Justiça um impasse pelo destino do estoque de equipamentos da Cisco que foram apreendidos. Na Receita Federal, ela busca o fim das restrições às suas importações.
Pela primeira vez, desde que a operação foi deflagrada, há sete meses, um de seus diretores presos pela Polícia Federal contou detalhes da ação à Folha, sob a condição de não ter sua identidade revelada por questões de segurança e também para que não haja interferência em seu processo, que corre em segredo na 4ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo.
Segundo ele, logo após o início da operação, a Mude ficou 15 dias parada até que um tabelião fosse à carceragem da PF para que o comando da empresa fosse oficialmente transmitido a outros funcionários. Servidores, notebooks, arquivos e documentos, na empresa e na casa dos acusados, foram apreendidos. Os telefones ficaram inativos, porque eram conectados aos servidores.
Os equipamentos importados da Cisco apreendidos continuam trancados no depósito da Mude, em Alphaville, Grande São Paulo, e, segundo o diretor, não foram inventariados pelos fiscais e agentes, algo que atrapalhou as atividades da companhia. Muitos clientes ficaram desassistidos porque a Mude não sabia que equipamentos podiam ser usados.
O prejuízo com o estoque aumenta no ritmo da desvalorização do dólar diante do real. A Mude estima que em um ano o valor será corroído pelo câmbio. Por isso, tentou convencer o juiz responsável pelo processo, Alexandre Cassetari, de que as mercadorias fossem vendidas e o valor depositado numa conta judicial, mas não obteve sucesso. O objetivo é retirá-las de seu depósito para que a empresa possa retomar as atividades e fazer uso do galpão de 1.500 metros quadrados cujo espaço é quase todo ocupado pelos produtos apreendidos da Cisco, que representava 80% do negócio. Com a abertura do processo, a Cisco rescindiu o contrato com a Mude.
Segundo o advogado dos acusados da Mude, Antônio Ruiz Filho, nos últimos dias, a Receita Federal decidiu começar a retirada das mercadorias.
Reflexo dessa crise, as vendas despencaram, passando a representar o equivalente a 5% do faturamento de sete meses atrás. Com isso, o quadro pessoal, que antes contava com 190 colaboradores, caiu para 35. Os antigos diretores, José Roberto Pernomian Rodrigues e Moacyr Sampaio, se afastaram. Marcelo Ikeda, antigo diretor comercial, também detido pela PF, assumiu o comando da Mude, tendo Marcílio Lemos e Francisco Gandim como assistentes na administração.
Operando no prejuízo, a companhia espera atingir o "break even point" (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas) entre seis meses e um ano. Para isso, depende da ampliação do número de fornecedores, que caiu de 15 para 6. A conquista de novos parceiros tem sido penosa. Após o escândalo, três firmaram contrato.
A Mude também enfrenta dificuldades para importar. Desde que a ação da PF teve início, a distribuidora foi incluída no canal cinza da Receita -todas as mercadorias que chegam são submetidas a inspeção, bem como seus documentos, algo que praticamente inviabiliza uma operação comercial devido à demora na liberação das mercadorias, que, segundo a Mude, passa de três meses.
A companhia, por intermédio de Ruiz Filho, tenta negociar com a Receita para que possa retomar as importações.
A conclusão do processo em que a Mude é ré juntamente com seus diretores e sócios está prevista para o final deste ano. Segundo Ruiz Filho, o juiz ainda ouve testemunhas de acusação. A defesa deve se manifestar em um mês, e ele garante que será demonstrada a inocência dos acusados da Mude no esquema de importação fraudulenta por meio de empresas interpostas que, segundo a PF, subfaturavam as mercadorias. "A Mude comprava produtos da Cisco aqui no Brasil por meio de importadores idôneos e que estão na ativa. Os meus clientes garantem que não havia a interposição fraudulenta." Segundo ele, não há nas gravações da PF, nada que comprove as acusações.


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