São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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DIA DE ESTRESSE

Em mais um dia de forte especulação, moeda norte-americana tem alta de 2,84% e fecha cotada a R$ 2,90

Dólar bate recorde no aniversário do Real


ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia do aniversário de oito anos do real, o dólar voltou a fechar com cotação recorde. A moeda norte-americana subiu 2,84% e fechou cotada a R$ 2,90. Desde que o real foi lançado, em julho de 94, acumula desvalorização de 68% diante do dólar.
O risco-país do Brasil, medido pelo JP Morgan, voltou a subir.
Fechou com alta de 4,7%, a 1.598 pontos. Manteve-se como o terceiro maior do mundo. O indicador mede a probabilidade de um país dar calote no pagamento de sua dívida externa.
"O dólar subiu no vazio", avalia Helio Osaki, analista da Finambras. No jargão do mercado, "subir no vazio" significa que não houve nenhuma forte notícia capaz de justificar o comportamento da cotação. Ou seja, foi mais um dia de forte especulação.
O mercado continua com baixa liquidez. O número de negócios é reduzido, ao mesmo tempo em que a procura pela moeda norte-americana supera a oferta. Ou seja, há mais gente querendo comprar do que vender dólares. Isso acaba travando os negócios e faz com que qualquer transação, por menor que seja, tenha forte impacto no fechamento.
A procura cresce devido às incertezas sobre o futuro do cenário político brasileiro.
Além disso, após escândalos financeiros envolvendo companhias americanas, como Enron e WorldCom, há um mal-estar geral nos mercados mundiais.
A tendência entre os investidores pelo mundo é fugir de aplicações muito voláteis ou consideradas como de alto risco.
Nos EUA, ontem, as Bolsas caíram forte, o que definiu a baixa de 2,21% da Bovespa.
"Os investidores têm deixado os papéis norte-americanos e migrado para os europeus", afirma Álvaro Bandeira, da corretora Ágora Sênior. "No caso dos investimentos em emergentes, os recursos têm deixado a América Latina e caminhado para a Ásia."
Internamente, no Brasil, a melhor forma encontrada pelos investidores para se proteger da volatilidade é comprar dólares. É o chamado porto seguro -acalma os investidores ter um ativo real em mãos. Em especial diante das recentes perdas nos fundos de investimento, após a marcação a mercado determinada pelo BC.
A avaliação no mercado é que, até a definição do cenário eleitoral, o dia-a-dia das cotações será de sobe-e-desce.
Especulações em torno de pesquisas de intenção de voto voltaram às mesas de operações ontem. O rumor era que uma sondagem realizada pelo Ibope apontaria empate técnico entre os presidenciáveis Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB). Mais uma vez houve a leitura de que o candidato governista não consegue emplacar na preferência do eleitorado. E, assim como faz com Lula (PT), o mercado associa Ciro a grandes possibilidades de mudanças na política econômica, o que pode significar a suspensão dos pagamentos da dívida externa.
O mercado esperava a divulgação da pesquisa para ontem, o que não aconteceu. Segundo a assessoria de imprensa da corretora Ágora Sênior, que encomendou a pesquisa a pedido de um cliente cujo nome não revela, o resultado não será mais divulgado por não "refletir o retrato do momento": "A pesquisa foi realizada antes da vitória do Brasil na Copa do Mundo, o programa televisivo de Ciro e a convenção nacional do PT".
Também não é mais tão forte a sensação de que o Banco Central poderá fazer uso do viés de baixa e reduzir os juros a qualquer momento. O aumento da gasolina esfriou a euforia do mercado.



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