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OPINIÃO ECONÔMICA
Eu confio
BENJAMIN STEINBRUCH
Normalmente aprendemos
mais com derrotas do que
com vitórias. Identificar erros do
passado é um bom começo para
novas caminhadas. Mas desta vez
podemos tirar muitas lições da vitória na Copa do Mundo.
A primeira é que sem disciplina
e hierarquia não se vai a lugar nenhum. O futebol brasileiro andou
bagunçado e sem comando durante muito tempo. No ano passado, sofremos derrotas humilhantes, como para Honduras, na
Copa América, e alcançamos a
classificação nas eliminatórias a
duras penas. É honesto reconhecer que tudo mudou por obra de
um homem: Luiz Felipe Scolari.
Ele não é o melhor técnico do
mundo, certamente, mas é um
disciplinador incansável.
A segunda é que, no esporte, como em qualquer atividade social
ou econômica, deve predominar o
coletivo, e não o individual. Felipão também seguiu essa regra.
Quando tirou Romário do time,
contra a opinião do Brasil inteiro,
pensava nisso. Romário é craque,
mas havia a ameaça de que o seu
temperamento insubordinado
contaminasse o grupo. E o técnico
preferiu não correr esse risco.
A terceira tem a ver com a perseverança. Scolari mostrou coragem, manteve suas convicções e
triunfou. Apostou na recuperação
de Ronaldo e Rivaldo e insistiu na
idéia de jogar com três zagueiros,
também contra a opinião de quase todos os analistas. Não recuou
nem mesmo quando a defesa jogou mal, nas primeiras partidas.
Aumentou o treinamento e acabou armando uma zaga bastante
razoável.
A quarta é a humildade. Até
por conta das críticas severas, a
seleção chegou à Copa sem arrogância. Diferentemente de outras
seleções, enfrentou times mais
fracos com determinação e escapou de vexames como o da França, que perdeu da teoricamente
modesta equipe do Senegal. Se jogasse com arrogância, o Brasil poderia ter vivido maus momentos
com a surpreendente Turquia e
com a impertinente Costa Rica.
O comportamento humilde
nunca deve ofuscar o espírito patriótico -e essa é a quinta lição.
O futebol brasileiro, como outros
setores, precisava recuperar o velho sentimento de afirmação nacional. Não podemos ter vergonha de balançar as bandeiras verde-e-amarelas, de cantar emocionados o hino nacional, de chorar
e muito pelas nossas cores, de defender e incentivar o nosso país.
Nas últimas semanas, o Brasil
foi notícia em todo o mundo por
duas razões. De um lado, pela
atuação na Copa. De outro, pelas
perspectivas da nossa economia.
No primeiro caso, exaltado. No
segundo, escorraçado. Na mesma
semana em que brilhou aos olhos
de bilhões de espectadores que
viam os jogos da Copa, foi considerado um país perigosíssimo para investimentos internacionais,
mais perigoso do que a Nigéria ou
qualquer outro país emergente,
com exceção da Argentina.
Acabou a Copa e vêm aí as eleições presidenciais. Que tal adotar
as lições do futebol para a economia? Que tal incorporar disciplina, hierarquia, perseverança, humildade, espírito de equipe e brio
nacional nos planos para o novo
governo? Que tal reconhecer erros
como juros desnecessariamente
altos, falta de apetite para estimular o crescimento, defesa de
nosso mercado e prioridades sócias.
Há pouco mais de um mês,
quando a seleção embarcou para
a Coréia/Japão, escrevi aqui para
lembrar as tristes madrugadas da
Olimpíada de Sidney, afirmei que
o penta era possível e terminei o
artigo com uma frase curta: "Eu
confio". Agora, passada a campanha da Copa, é hora de voltar os
olhos para o país e acreditar que
os brasileiros podem eleger um
presidente que nos dará ao mesmo tempo estabilidade e crescimento, dois valores indispensáveis para o bem-estar da população. Eu confio.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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