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LUÍS NASSIF
A geração do Real
O real não era um programa de crescimento,
mas de estabilização. Os pais
do Real não tinham outra especialidade que não a do combate à inflação inercial.
Em entrevista a "O Estado
de S. Paulo" de ontem, Fernando Henrique Cardoso atribui o desastre da tentativa de
mudança da política cambial,
no início de 1995, a um impasse entre Pérsio Arida e Gustavo Franco, para o qual não havia mediador. A solução foi
uma tentativa de acomodação
do incrível Edmar Bacha que
levou a um desastre, provocando fuga de bilhões de dólares e imobilizando o governo.
A constatação de FHC é que
Bacha conhecia pouco de mercado.
Quando se analisam os sucessivos erros de avaliação da
equipe, no pós-operatório, a
conclusão inevitável é a de que
os economistas do Real tinham conhecimento insuficiente sobre pontos essenciais
de funcionamento da economia real, inclusive sobre os
desdobramentos imediatos da
mudança de ambiente econômico.
São vários os exemplos desse
desconhecimento. Mesmo percebendo que a dinâmica do
câmbio conduziria a um desastre inevitável, foram incapazes de entender que, em um
ambiente desindexado e com o
grau de aprovação do Real, seria possível mudar o regime
cambial sem perder o controle
da inflação. Só se deram conta
depois que o câmbio explodiu,
forçado pelo mercado -não
pela vontade de FHC, como ele
quer fazer crer.
Foram incapazes de entender igualmente que, dado o tiro de largada, com a redução
de barreiras tarifárias, existia
um "gap" de tempo até que as
importações começassem a entrar. É o período necessário
para os atacadistas aprenderem o que e como importar,
identificar produtos, fornecedores, montar estruturas de
compras. Como as importações não aumentaram de imediato, houve o desespero, que
levou a uma redução irresponsável das barreiras tarifárias.
Quando o movimento de importação ganhou ritmo, empurrou o país de cabeça na crise externa.
Não conseguiram avaliar
que o crescimento artificial da
economia, com o aumento não
sustentado do poder aquisitivo
da população (por conta da
apreciação do real), induziria
todos os agentes econômicos a
apostar em um crescimento
que não se materializaria. O
que levou os governos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul
a quebrar seus Estados não foi
meramente o fim da inflação,
mas a mesma avaliação que
levou o setor automobilístico
ao equívoco dos superinvestimentos, fruto da administração errada das expectativas da
economia pela apreciação do
real.
A geração do Cruzado-Real
sempre confundiu causa com
efeito, sempre demonstrou dificuldade para entender a economia como uma realidade
complexa e a identificar os
pontos centrais que comandam o modelo.
Mataram as condições de
crescimento para permitir a
entrada de capital externo,
que geraria a poupança necessária para o desenvolvimento.
Dez anos depois, fica-se obrigado a ler o incrível Bacha (no
artigo "Fim da inflação não
basta para crescer") alertar judiciosamente de que "não basta formar capital: é preciso que
ele seja aplicado produtivamente".
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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