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Desde a década de 70, só 22% do programa nuclear saiu do papel
DA ENVIADA ESPECIAL A ANGRA DOS REIS
Se o acordo nuclear Brasil-Alemanha tivesse sido cumprido integralmente, o país teria
hoje nove usinas nucleares em
funcionamento. Quando o
acordo foi assinado, o Brasil já
havia comprado da Westinghouse o reator de Angra 1, em
um contrato fechado que não
envolveu transferência de tecnologia. O acordo previa a
construção de até oito usinas
nucleares, exatamente o mesmo número máximo de novas
usinas com que o setor trabalha
hoje, mais de 30 anos depois.
Se no passado a motivação
era estratégica e incluía a redução da dependência de petróleo
dos Estados Unidos, em um
ambiente de grandes projetos
de infra-estrutura e de perspectivas de crescimento em ritmo acelerado nos próximos
anos, o teor do debate neste
momento é focado mais na demanda energética. Agora, as
mesmas oito usinas podem, segundo defendem os agentes do
setor, evitar o risco de falta de
energia no futuro.
Planos frustrados
Na década de 1980, a recessão atingiu a economia brasileira e jogou por terra os planos do
país de se tornar um dos grandes agentes do setor no mundo.
Foi no meio desse cenário que
as obras de Angra 3 foram interrompidas.
Atualmente, Angra 1 e 2 geram energia suficiente para
atender 50% da demanda do
Estado do Rio. "Com a entrada
de Angra 3, vão atender 80%",
afirma o diretor de Operações
da central, Pedro Figueiredo.
A visita ao local da futura usina mostra que nesses canteiros
é como se o tempo não tivesse
passado. As rochas onde ficarão
as fundações da usina indicam
pela diferença de nível no solo
onde será localizado o reator.
Nada mais além disso foi feito
porque a licença ambiental ainda não saiu.
O país gastou US$ 750 milhões na compra de equipamentos que estão guardados
em nove galpões, há mais de 20
anos, no terreno das usinas de
Angra e também em Itaguaí, na
Nuclep. O custo de manutenção é de US$ 20 milhões por
ano. Uma equipe de 35 pessoas
se dedica a cuidar de canos, tubulações e outros equipamentos similares nesse período.
É o caso de Dirceu Miglioli,
56, que cuida do material há 22
anos, passando cera, controlando a umidade e envolvendo
equipamentos em plásticos.
Uma seguradora faz vistoria de
seis em seis meses em nome
dos fabricantes, e um relatório
é apresentado.
Com as freqüentes visitas da
imprensa após a aprovação da
construção de Angra 3, Miglioni desembrulha pela centésima
vez os equipamentos. "Vou
sentir saudade, mas tomara
que desta vez a gente esteja desembrulhando de vez", afirma.
É provável que, depois de
montada a usina, o funcionário
tenha poucas chances de ver de
novo o equipamento. O acesso
a qualquer edifício é extremamente controlado, e a visita pode ser até mesmo frustrante.
Salas e mais salas de equipamentos ficam inteiramente vazias durante a operação da usina de Angra. O centro nervoso é
a sala de controle, onde são tomadas decisões comparáveis às
de um piloto na cabine do
avião, de acordo com um dos
funcionários.
O imaginário comum de pessoas com roupas de cor laranja
trabalhando em meio a elementos brilhantes ocorre apenas em áreas de acesso bastante restrito, próximas ao reator.
(JL)
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