São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Desde a década de 70, só 22% do programa nuclear saiu do papel

DA ENVIADA ESPECIAL A ANGRA DOS REIS

Se o acordo nuclear Brasil-Alemanha tivesse sido cumprido integralmente, o país teria hoje nove usinas nucleares em funcionamento. Quando o acordo foi assinado, o Brasil já havia comprado da Westinghouse o reator de Angra 1, em um contrato fechado que não envolveu transferência de tecnologia. O acordo previa a construção de até oito usinas nucleares, exatamente o mesmo número máximo de novas usinas com que o setor trabalha hoje, mais de 30 anos depois.
Se no passado a motivação era estratégica e incluía a redução da dependência de petróleo dos Estados Unidos, em um ambiente de grandes projetos de infra-estrutura e de perspectivas de crescimento em ritmo acelerado nos próximos anos, o teor do debate neste momento é focado mais na demanda energética. Agora, as mesmas oito usinas podem, segundo defendem os agentes do setor, evitar o risco de falta de energia no futuro.

Planos frustrados
Na década de 1980, a recessão atingiu a economia brasileira e jogou por terra os planos do país de se tornar um dos grandes agentes do setor no mundo. Foi no meio desse cenário que as obras de Angra 3 foram interrompidas.
Atualmente, Angra 1 e 2 geram energia suficiente para atender 50% da demanda do Estado do Rio. "Com a entrada de Angra 3, vão atender 80%", afirma o diretor de Operações da central, Pedro Figueiredo.
A visita ao local da futura usina mostra que nesses canteiros é como se o tempo não tivesse passado. As rochas onde ficarão as fundações da usina indicam pela diferença de nível no solo onde será localizado o reator. Nada mais além disso foi feito porque a licença ambiental ainda não saiu.
O país gastou US$ 750 milhões na compra de equipamentos que estão guardados em nove galpões, há mais de 20 anos, no terreno das usinas de Angra e também em Itaguaí, na Nuclep. O custo de manutenção é de US$ 20 milhões por ano. Uma equipe de 35 pessoas se dedica a cuidar de canos, tubulações e outros equipamentos similares nesse período.
É o caso de Dirceu Miglioli, 56, que cuida do material há 22 anos, passando cera, controlando a umidade e envolvendo equipamentos em plásticos. Uma seguradora faz vistoria de seis em seis meses em nome dos fabricantes, e um relatório é apresentado.
Com as freqüentes visitas da imprensa após a aprovação da construção de Angra 3, Miglioni desembrulha pela centésima vez os equipamentos. "Vou sentir saudade, mas tomara que desta vez a gente esteja desembrulhando de vez", afirma.
É provável que, depois de montada a usina, o funcionário tenha poucas chances de ver de novo o equipamento. O acesso a qualquer edifício é extremamente controlado, e a visita pode ser até mesmo frustrante.
Salas e mais salas de equipamentos ficam inteiramente vazias durante a operação da usina de Angra. O centro nervoso é a sala de controle, onde são tomadas decisões comparáveis às de um piloto na cabine do avião, de acordo com um dos funcionários.
O imaginário comum de pessoas com roupas de cor laranja trabalhando em meio a elementos brilhantes ocorre apenas em áreas de acesso bastante restrito, próximas ao reator.
(JL)


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