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Bancos perderão espaço no crédito, avalia economista
Para Nelson Rocha Augusto, mercados de dívida privada e ações reduzem intermediação
Ex-presidente da instituição número 1 da indústria de fundos e agora à frente de um banco, ele vê nova fase no capitalismo brasileiro
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
VINICIUS MOTA
EDITOR DE OPINIÃO
Como muitos investidores,
ele está se aventurando por
searas mais arriscadas. Após
presidir a número um da indústria de fundos, a Banco do Brasil DTVM, que administra R$
200 bilhões (ou cerca de 20%
do mercado), o economista
Nelson Rocha Augusto, 44, volta à sua cidade natal para tocar
o Banco Ribeirão Preto.
Rocha, próximo do ex-ministro Antonio Palocci, está convicto de que o capitalismo no
Brasil entrou numa nova fase,
de risco baixo e juros em queda,
que veio para ficar. O fenômeno, diz, impulsiona os mercados de dívida privada e ações,
com os bancos perdendo importância na oferta do crédito.
FOLHA - Com a queda dos juros, investidores partem para ativos com
crescente grau de risco. Como o sr.
avalia esse percurso?
NELSON ROCHA AUGUSTO - O Brasil
vive uma nova fase no seu capitalismo. Essa fase advém de um
ambiente econômico muito
mais seguro, com o coeficiente
de risco sensivelmente menor.
Não significa que não vá haver
flutuação, mas a perenidade
desse ambiente macroeconômico advém, por exemplo, de
uma mudança em toda a estrutura do balanço de pagamentos.
Tome a indústria de fundos,
que hoje está em pouco mais de
R$ 1 trilhão. É mais desenvolvida, mais sofisticada, mais competitiva e maior como proporção do PIB se comparada a qualquer outro país emergente.
FOLHA - É que poucos países têm
uma dívida interna desse tamanho.
AUGUSTO - Esse é o ponto da
mudança. A indústria de fundos foi instrumento importante de financiamento da dívida
pública interna. A proporção de
ações no mercado de fundos
hoje é próxima de 14%. Quatro
anos atrás, era de 8% a 9%.
FOLHA - Esse dinheiro do mercado
de capitais está fluindo para ampliar
a competitividade da economia?
AUGUSTO - Nós não estamos
ainda na fase de utilização do
mercado de capitais e da indústria de fundos para o aumento
da competitividade da economia, mas nós estamos na franja
disso. Em 2006 subiu de mais
ou menos 15% para 30% o percentual de recursos do mercado de capitais direcionados a
investimentos produtivos.
FOLHA - Quanto devem crescer os
fundos "private equity" [fundos fechados que compram participações
minoritárias em empresas] no país?
AUGUSTO - A ABVCAP [Associação Brasileira de Private
Equity e Venture Capital] estima que neste ano tenhamos um
investimento via "private
equity" superior a US$ 2 bilhões. Vários fundos estão preparados para entrar no setor de
infra-estrutura. É preciso melhorar o marco regulatório para
deslanchar de vez.
FOLHA - O sr. imagina que vá ocorrer agora um "boom" com bancos
regionais, com fundos de "private"?
AUGUSTO - O que vai acontecer
é um aumento da desintermediação financeira. Passa a ser
relevante a originação de ativos. Esses ativos são vendidos,
basicamente, para a indústria
de fundos. FIDCS [Fundos de
Investimento em Direitos Creditórios, pelos quais as empresas antecipam receitas futuras
contratadas]," private equities", fundos compostos com
CRI (Certificado de Recebíveis
Imobiliários), com CPR (Cédula de Produto Rural).
A história de o banqueiro ser
o credor da empresa tende a diminuir muito. A empresa vai
buscar, através do mercado de
capitais, um leque enorme de
alternativas de financiamento.
FOLHA - E o banqueiro monta as
operações.
AUGUSTO - O banqueiro monta
as operações, como acontece na
construção civil. Hoje, o crédito
imobiliário total no Brasil está
em torno de 3% do PIB. A média internacional é 30%. Temos
potencial para multiplicá-lo
por dez, e boa parte vai ser financiada por fundos ou empresas que abriram capital no ramo da construção civil.
É grande a probabilidade de
esse negócio evoluir com juros
em queda. Nós provavelmente
vamos ser classificados como
grau de investimento com uma
taxa de juros da ordem de 10% e
virá para 6%, 7%. Não da noite
para o dia, mas virá.
FOLHA - Há margem para queda da
taxa de administração em fundos
para o pequeno aplicador?
AUGUSTO - É difícil ver em que
proporção porque, quando o
sujeito entra num fundo de baixa renda com R$ 200 -à taxa
de administração de, digamos,
3% ou 4%- , acha muito caro.
No entanto, o gestor desse dinheiro tem toda uma equipe de
analistas, auditoria etc. Ele está
entrando no fundo assim como
uma pessoa com R$ 5.000 ou
R$ 20 mil. É uma socialização.
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