São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Bancos perderão espaço no crédito, avalia economista

Para Nelson Rocha Augusto, mercados de dívida privada e ações reduzem intermediação

Ex-presidente da instituição número 1 da indústria de fundos e agora à frente de um banco, ele vê nova fase no capitalismo brasileiro

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

VINICIUS MOTA
EDITOR DE OPINIÃO

Como muitos investidores, ele está se aventurando por searas mais arriscadas. Após presidir a número um da indústria de fundos, a Banco do Brasil DTVM, que administra R$ 200 bilhões (ou cerca de 20% do mercado), o economista Nelson Rocha Augusto, 44, volta à sua cidade natal para tocar o Banco Ribeirão Preto. Rocha, próximo do ex-ministro Antonio Palocci, está convicto de que o capitalismo no Brasil entrou numa nova fase, de risco baixo e juros em queda, que veio para ficar. O fenômeno, diz, impulsiona os mercados de dívida privada e ações, com os bancos perdendo importância na oferta do crédito.  

FOLHA - Com a queda dos juros, investidores partem para ativos com crescente grau de risco. Como o sr. avalia esse percurso?
NELSON ROCHA AUGUSTO
- O Brasil vive uma nova fase no seu capitalismo. Essa fase advém de um ambiente econômico muito mais seguro, com o coeficiente de risco sensivelmente menor. Não significa que não vá haver flutuação, mas a perenidade desse ambiente macroeconômico advém, por exemplo, de uma mudança em toda a estrutura do balanço de pagamentos. Tome a indústria de fundos, que hoje está em pouco mais de R$ 1 trilhão. É mais desenvolvida, mais sofisticada, mais competitiva e maior como proporção do PIB se comparada a qualquer outro país emergente.

FOLHA - É que poucos países têm uma dívida interna desse tamanho.
AUGUSTO
- Esse é o ponto da mudança. A indústria de fundos foi instrumento importante de financiamento da dívida pública interna. A proporção de ações no mercado de fundos hoje é próxima de 14%. Quatro anos atrás, era de 8% a 9%.

FOLHA - Esse dinheiro do mercado de capitais está fluindo para ampliar a competitividade da economia?
AUGUSTO
- Nós não estamos ainda na fase de utilização do mercado de capitais e da indústria de fundos para o aumento da competitividade da economia, mas nós estamos na franja disso. Em 2006 subiu de mais ou menos 15% para 30% o percentual de recursos do mercado de capitais direcionados a investimentos produtivos.

FOLHA - Quanto devem crescer os fundos "private equity" [fundos fechados que compram participações minoritárias em empresas] no país?
AUGUSTO
- A ABVCAP [Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital] estima que neste ano tenhamos um investimento via "private equity" superior a US$ 2 bilhões. Vários fundos estão preparados para entrar no setor de infra-estrutura. É preciso melhorar o marco regulatório para deslanchar de vez.

FOLHA - O sr. imagina que vá ocorrer agora um "boom" com bancos regionais, com fundos de "private"?
AUGUSTO
- O que vai acontecer é um aumento da desintermediação financeira. Passa a ser relevante a originação de ativos. Esses ativos são vendidos, basicamente, para a indústria de fundos. FIDCS [Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, pelos quais as empresas antecipam receitas futuras contratadas]," private equities", fundos compostos com CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), com CPR (Cédula de Produto Rural). A história de o banqueiro ser o credor da empresa tende a diminuir muito. A empresa vai buscar, através do mercado de capitais, um leque enorme de alternativas de financiamento.

FOLHA - E o banqueiro monta as operações.
AUGUSTO
- O banqueiro monta as operações, como acontece na construção civil. Hoje, o crédito imobiliário total no Brasil está em torno de 3% do PIB. A média internacional é 30%. Temos potencial para multiplicá-lo por dez, e boa parte vai ser financiada por fundos ou empresas que abriram capital no ramo da construção civil. É grande a probabilidade de esse negócio evoluir com juros em queda. Nós provavelmente vamos ser classificados como grau de investimento com uma taxa de juros da ordem de 10% e virá para 6%, 7%. Não da noite para o dia, mas virá.

FOLHA - Há margem para queda da taxa de administração em fundos para o pequeno aplicador?
AUGUSTO
- É difícil ver em que proporção porque, quando o sujeito entra num fundo de baixa renda com R$ 200 -à taxa de administração de, digamos, 3% ou 4%- , acha muito caro. No entanto, o gestor desse dinheiro tem toda uma equipe de analistas, auditoria etc. Ele está entrando no fundo assim como uma pessoa com R$ 5.000 ou R$ 20 mil. É uma socialização.


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