São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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País tem 1º déficit com Argentina em 6 anos

Resultado para o 1º semestre reflete retração no comércio e efeitos de barreiras impostas pelo vizinho; Brasil cogita retaliações

"Qualquer parceiro que queira acesso ao mercado brasileiro também deve garantir acesso ao seu mercado", diz secretário


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela segunda vez no governo Lula, o Brasil registrou déficit comercial com a Argentina no primeiro semestre do ano. O resultado foi negativo em US$ 48 milhões. A última vez em que o Brasil teve déficit com o país vizinho nos seis primeiros meses do ano havia sido em 2003, de US$ 500 milhões.
A deterioração do saldo comercial com a Argentina ocorreu porque a queda de exportações do Brasil para o país foi mais que o dobro da queda de importações no primeiro semestre. Enquanto as vendas brasileiras caíram 42,1% (no total de US$ 4,936 bilhões), as compras foram reduzidas em 19,5% (para US$ 4,989 bilhões).
Além da retração no consumo do país vizinho, principal parceiro no Mercosul, o governo argentino impôs uma série de barreiras comerciais que impedem ou dificultam a venda de produtos brasileiros. Enquanto reduz o espaço do Brasil, a Argentina vem aumentando as compras da China. O Ministério do Desenvolvimento estima que 14% das exportações brasileiras para o país estão prejudicadas por algum tipo de restrição comercial.
Por isso, o governo brasileiro estuda formas de retaliar o protecionismo vizinho. Segundo reportagem publicada ontem no jornal "Valor Econômico", uma das possibilidades em estudo é o uso de licenças não-automáticas, que atrasam a liberação dos produtos. A medida já foi adotada no início do ano, mas, por causa da repercussão ruim entre empresários, foi suspensa em poucos dias por ordem do presidente Lula.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, evitou listar que medidas o Brasil avalia para convencer o governo Cristina Kirchner a retirar as barreiras comerciais. Mas lançou uma ameaça de que a reação pode ser na mesma intensidade: "Qualquer parceiro comercial que queira acesso ao mercado brasileiro também deve garantir acesso ao seu mercado com base recíproca".
Barral afirmou que as medidas serão decididas na alta esfera do governo, pela Camex (Câmara de Comércio Exterior), que reúne sete ministros, entre eles os da Casa Civil, do Desenvolvimento e da Fazenda. "O Brasil defende obediência a regras internacionais. Qualquer decisão que se refira ao Mercosul não será tomada de afogadilho", disse ele.
Segundo o secretário, o principal produto vendido ao país vizinho é o automóvel. Ele lembrou que a queda de exportações desse item se deve à redução do consumo no país, e não a barreiras comerciais. Mas ressaltou que o protecionismo atinge setores importantes na pauta de exportações do Brasil, como têxteis, calçados, eletrodomésticos, móveis e embreagens. A queda nas vendas de móveis para a Argentina somou 50% de janeiro a junho, e a de têxteis, 45%.


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