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LUÍS NASSIF
O café brasileiro perde espaço
Ontem à tarde a Organização Internacional do Café
(OIC) divulgou o balanço das
exportações nos últimos 12 meses. É um retrato trágico do que
esses aventureiros que programaram o plano de retenção fizeram com a cafeicultura brasileira.
Nos últimos 12 meses, encerrados em junho -segundo o
boletim "Coffee Business"-, as
exportações mundiais de café
verde e solúvel totalizaram
85,48 milhões de sacas, aumento de 1% sobre o período anterior, que foi de 84,4 milhões de
sacas, batendo novo recorde no
volume de exportações.
E o Brasil? O país embarcou
19,9 milhões de sacas de café
verde e solúvel, uma queda de
14% sobre o ano anterior. Sua
participação caiu de 27% para
23% -perdeu inacreditáveis
quatro pontos percentuais de
"market share". No mesmo período, o Vietnã embarcou 9,6
milhões de sacas, 46% a mais
que no período anterior. Crescimentos expressivos registraram
as exportações do México, Guatemala, Índia, Costa do Marfim, Honduras, Peru, El Salvador, Nicarágua.
As consequências desse jogo
para o país estão cada vez mais
caras. Se, eventualmente, ocorrer um aumento de cotações,
não beneficiará as exportações
brasileiras, visto que já terminou o período de desova delas
no mercado internacional. Os
efeitos serão exclusivamente no
mercado interno, na forma de
mais inflação.
O que leva todo um setor a se
curvar a essa aventura? A lógica é menos complexa do que se
imagina. Há muito montou-se
um jogo especulativo no mercado de café. Em geral, as cotações de café brasileiro representam um percentual abaixo das
cotações da Bolsa de Nova
York. Muitos vendedores negociavam no mercado futuro, em
cima desse percentual. Ou seja,
compravam no mercado interno por, digamos, 25% abaixo
de Nova York, depois vendiam
para os Estados Unidos por
15% abaixo, ganhando a diferença.
Ocorre que o mercado de Nova York começou a cair, por
previsões de excesso de safra,
mas as cotações do café brasileiro não caíram na mesma
proporção.
Assim, a defasagem reduziu-se. O comprador passou a pagar, digamos, por 10% abaixo
de Nova York e entregar pelos
15% combinados. O resultado
foi um prejuízo global de mais
de US$ 70 milhões.
É nesse contexto que surge a
idéia da retenção. Anunciada a
retenção, os preços internos
despencaram, sem que os preços de Nova York reagissem.
Por vias tortas, se conseguiu o
que se queria: isto é, voltar a
ampliar a defasagem entre as
cotações de Nova York e as internas, à custa da redução do
valor pago aos produtores.
O produtor paga pelo lucro
dos especuladores.
Burocracia e exportação
Meias Lupo é uma empresa
que nasceu e cresceu em Araraquara. No ano passado decidiu
conhecer o mundo. Em outubro
de 1999 conseguiu uma distribuidora americana, que passou
a vender sua produção no mercado local. Em muitas lojas de
renome passou a competir de
igual para igual com nomes famosíssimos, como DNKY.
Recentemente fechou um contrato com uma rede de supermercados, para entrar em mais
de mil lojas norte-americanas.
Na semana passada, a empresa
recebeu uma carta de Andrea
Zimmerman, da Global Az Globalsource, Inc., sua distribuidora, anunciando que já perdeu
30% do mercado conquistado,
por problemas específicos da burocracia brasileira, especialmente pelas greves na alfândega.
No e-mail, Andrea diz que não
conseguiu manter os prazos de
entrega dos produtos por conta
dos atrasos. Reconhece que seus
clientes brasileiros fazem todo
esforço para manter prazos de
entrega. Mas, quando chega a
parte burocrática, todo esforço
vai por água abaixo, levando os
clientes a buscar produtos de outros países.
"Com o Brasil completando
500 anos, seria uma boa idéia
pensar que ações poderiam ser
tomadas. Pois o que está acontecendo está prejudicando a economia do Brasil agora e no futuro", termina o e-mail.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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