São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2000


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LUÍS NASSIF

O café brasileiro perde espaço

Ontem à tarde a Organização Internacional do Café (OIC) divulgou o balanço das exportações nos últimos 12 meses. É um retrato trágico do que esses aventureiros que programaram o plano de retenção fizeram com a cafeicultura brasileira.
Nos últimos 12 meses, encerrados em junho -segundo o boletim "Coffee Business"-, as exportações mundiais de café verde e solúvel totalizaram 85,48 milhões de sacas, aumento de 1% sobre o período anterior, que foi de 84,4 milhões de sacas, batendo novo recorde no volume de exportações.
E o Brasil? O país embarcou 19,9 milhões de sacas de café verde e solúvel, uma queda de 14% sobre o ano anterior. Sua participação caiu de 27% para 23% -perdeu inacreditáveis quatro pontos percentuais de "market share". No mesmo período, o Vietnã embarcou 9,6 milhões de sacas, 46% a mais que no período anterior. Crescimentos expressivos registraram as exportações do México, Guatemala, Índia, Costa do Marfim, Honduras, Peru, El Salvador, Nicarágua.
As consequências desse jogo para o país estão cada vez mais caras. Se, eventualmente, ocorrer um aumento de cotações, não beneficiará as exportações brasileiras, visto que já terminou o período de desova delas no mercado internacional. Os efeitos serão exclusivamente no mercado interno, na forma de mais inflação.
O que leva todo um setor a se curvar a essa aventura? A lógica é menos complexa do que se imagina. Há muito montou-se um jogo especulativo no mercado de café. Em geral, as cotações de café brasileiro representam um percentual abaixo das cotações da Bolsa de Nova York. Muitos vendedores negociavam no mercado futuro, em cima desse percentual. Ou seja, compravam no mercado interno por, digamos, 25% abaixo de Nova York, depois vendiam para os Estados Unidos por 15% abaixo, ganhando a diferença.
Ocorre que o mercado de Nova York começou a cair, por previsões de excesso de safra, mas as cotações do café brasileiro não caíram na mesma proporção.
Assim, a defasagem reduziu-se. O comprador passou a pagar, digamos, por 10% abaixo de Nova York e entregar pelos 15% combinados. O resultado foi um prejuízo global de mais de US$ 70 milhões.
É nesse contexto que surge a idéia da retenção. Anunciada a retenção, os preços internos despencaram, sem que os preços de Nova York reagissem. Por vias tortas, se conseguiu o que se queria: isto é, voltar a ampliar a defasagem entre as cotações de Nova York e as internas, à custa da redução do valor pago aos produtores.
O produtor paga pelo lucro dos especuladores.

Burocracia e exportação
Meias Lupo é uma empresa que nasceu e cresceu em Araraquara. No ano passado decidiu conhecer o mundo. Em outubro de 1999 conseguiu uma distribuidora americana, que passou a vender sua produção no mercado local. Em muitas lojas de renome passou a competir de igual para igual com nomes famosíssimos, como DNKY.
Recentemente fechou um contrato com uma rede de supermercados, para entrar em mais de mil lojas norte-americanas. Na semana passada, a empresa recebeu uma carta de Andrea Zimmerman, da Global Az Globalsource, Inc., sua distribuidora, anunciando que já perdeu 30% do mercado conquistado, por problemas específicos da burocracia brasileira, especialmente pelas greves na alfândega.
No e-mail, Andrea diz que não conseguiu manter os prazos de entrega dos produtos por conta dos atrasos. Reconhece que seus clientes brasileiros fazem todo esforço para manter prazos de entrega. Mas, quando chega a parte burocrática, todo esforço vai por água abaixo, levando os clientes a buscar produtos de outros países.
"Com o Brasil completando 500 anos, seria uma boa idéia pensar que ações poderiam ser tomadas. Pois o que está acontecendo está prejudicando a economia do Brasil agora e no futuro", termina o e-mail.


E-mail - lnassif@uol.com.br



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