São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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Falta escala ao projeto nuclear brasileiro

DO ENVIADO AO RIO

A falta de escala do programa nuclear brasileiro é apresentada como justificativa pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) para explicar a inexistência de um projeto acabado de depósito de longo prazo para rejeitos de alta atividade.
E também para não se ter iniciado a construção de um depósito final para os rejeitos de baixa e média atividade, que deve sair em 2018.
Esse segundo tipo de depósito abrigaria o material de consumo com algum traço de material radiativo incorporado na operação e na manutenção das usinas nucleares, assim como rejeitos médicos e industriais. O chamado "Repositório Nacional", cuja construção tem início marcado para 2014, seria similar ao de Abadia de Goiás, onde estão guardados os rejeitos do acidente com césio, em Goiânia, em 1987.
Suécia e Finlândia são os únicos países que decidiram desfazer-se em definitivo do combustível nuclear usado, selando-o debaixo da terra e de rochas. Os EUA gastaram décadas e bilhões discutindo e licenciando o depósito final de Yucca Mountain (Nevada), mas ele ainda não entrou em operação.
No Brasil, o material de alta atividade continuará a ser mantido no interior de cada usina da central de Angra, em piscinas -onde de resto precisa ser mantido por no mínimo dez anos, para resfriamento. Uma piscina externa terá de ser construída até 2022, quando se esgotam as capacidades dos reservatórios de Angra 1 e 2.
Para a CNEN, as piscinas são inteiramente seguras e podem armazenar os elementos usados por toda a vida útil da central, que pode alcançar 60 anos. "Como Angra 3 começa a operar em 2015, em princípio só vamos ter problemas com o local em 2075", afirma Odair Dias Gonçalves, da CNEN.
O presidente da comissão descarta as preocupações com a elevação do nível do mar, por conta do aquecimento global. Mesmo se houver um tsunami, assegura, não entraria água nas piscinas, que são "absolutamente isoladas do ambiente". As paredes têm dois metros de espessura.
"Não estávamos fazendo um depósito de longo prazo porque não havia a previsão do programa nuclear. Mas isso não significa que estávamos parados. Seria irresponsável. Não é por causa da pressão do Ibama que nós começamos a fazer alguma coisa", diz Gonçalves. (ML)


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