São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O pior negócio: Brasil ou Gaza?


Ministro critica ranking do Bird, em que país fica abaixo de infernos legais e zonas de guerra; "listão" é ideológico

OS EMPRESÁRIOS que criam ou tocam empresas no Brasil devem estar outra vez alvoroçados com o ranking do Banco Mundial (Bird). Parece que escolheram mal o lugar em que investem. Deveriam ter ido, por exemplo, para Gaza ou para a Cisjordânia, onde é mais simples e seguro fazer negócios, empreender, "Doing Business", nome do estudo anual do Bird. O Brasil ficou em 122º lugar entre 178 países; Cisjordânia & Gaza, em guerra civil, em 117º; Nigéria, inferno legal com zonas de guerra, em 108º.
O estudo saiu na semana passada. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, criticou a "nota" do Brasil em um dos quesitos pelos quais o ambiente de negócios é avaliado no "Doing Business". Segundo o Bird, primo-irmão "social" do FMI e apóstolo das "reformas", no Brasil são necessários 152 dias para abrir uma empresa. Para o ministro, seriam uns 20 dias, em média. Um estudo da Fiesp diz que o tempo máximo é de 125 dias. Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo, considera o dado do Bird um grande exagero.
"A burocracia até que diminuiu e nem é o grande problema. Ruim mesmo é a incerteza da regulação, ambiental, tributária, se as agências reguladoras são para valer, se as decisões do governo vão cair na Justiça, por exemplo. Isso é terrível e acaba com as empresas", diz Solimeo. É fácil fazer piada com rankings. Há muito buraco nessas comparações -tendenciosismo ideológico, estatística ruim, metodologia contestável, critérios arbitrários.
Grosso modo, o objetivo até assumido do Bird com seu ranking é fomentar a desregulamentação econômica, "reformas", "lead to reform". Também é o caso de rankings como o de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de Davos, no qual o Brasil ficou em 66º entre 125 países, em 2006. Mas ficou em 57º no estímulo à eficiência e 38º em inovação. Davos mede ainda educação, infra-estrutura, condições macroeconômicas e saúde.
Na classificação de 2007 do IMD (International Institute of Management Development, associação de megaempresas que se ocupa de educação executiva), o país ficou em 49º lugar entre os 55 países avaliados, mais ou menos os mais ricos. O IMD diz medir "a capacidade dos países de criar e manter ambientes favoráveis à competitividade das empresas". "Alguma coisa está fora da ordem mundial" desses rankings.
O ranking do Bird não se ocupa apenas da facilidade de abrir ou fechar empresas. Avalia também normas trabalhistas (facilidade de demitir e contratar, em suma), proteção à propriedade, lei e carga tributárias, cumprimento de contratos e supervisão e transparência do sistema de crédito. Assume que não leva em conta condições macroeconômicas, segurança ou a força das instituições responsáveis por garantir a ordem geral ou a econômica.
Mas os quesitos do Bird evidentemente nominam várias das dificuldades empresariais no Brasil. Se o país é pior que Paraguai ou Bangladesh, já se trata de outra história. Mais polêmico é aceitar que o pacote de reformas do Bird seja de todo razoável. Enfim, o quesito no qual o Brasil se sai pior no listão do Bird é o que mede peso e custo administrativo de pagar impostos: 137º. Bidu.

vinit@uol.com.br


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