São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008 |
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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. O triste fim de Wall Street
O LEITOR pode bem imaginar como anda conturbado o ambiente aqui no Fundo Monetário Internacional. Na segunda-feira, quando a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos derrubou a versão revista do Plano Paulson, houve uma verdadeira comoção. Desde então, a crise financeira tem nos absorvido quase totalmente. Acabei de telefonar para o Marcos Cézari, que edita a coluna, para pedir uma extensão do prazo de entrega do artigo. Não sei se, neste momento, o brasileiro tem uma idéia precisa do tamanho da rejeição da população americana ao resgate de até US$ 700 bilhões proposto para salvar Wall Street e proteger a economia do impacto da crise financeira. A impopularidade da turma da bufunfa bateu todos os recordes possíveis e imagináveis. Como diria Nelson Rodrigues, banqueiros e financistas estão sendo caçados a pauladas, feito ratazanas prenhes. Essa rejeição popular às vésperas de eleições presidenciais e parlamentares aqui nos Estados Unidos é que explica a derrubada da proposta de resgate na segunda-feira, a despeito dos apelos dramáticos do governo, do acordo com as lideranças republicanas e democratas do Congresso e do apoio dos candidatos dos dois partidos à Presidência da República -os senadores John McCain e Barack Obama. Agora prepararam uma terceira versão do Plano Paulson, que começou a tramitar no Senado. No momento em que escrevo, o Senado ainda não votou a nova versão. Espera-se que os senadores a aprovem. Retomo o que disse no artigo da quinta-feira passada: não se pode excluir um cenário-catástrofe em que a Câmara dos Deputados acabe derrubando também a terceira edição do Plano Paulson. Isso é provável? Não acredito. O mais provável é que a segunda versão passe. Mesmo assim, não vamos nos iludir: o Plano Paulson, ainda que substancialmente revisto, ampliado e emendado, não põe fim à crise financeira internacional. Conseguirá, no máximo, proporcionar uma trégua por alguns meses. A situação financeira nos Estados Unidos -e também na Europa- é calamitosa. Instalou-se o pânico. Em vários países desenvolvidos, começaram a acontecer corridas contra instituições financeiras. A verdade é que grande parte do sistema está enfrentando problemas de solvência. Muitas instituições estão à beira do colapso, lutando pela sobrevivência. Como observou o economista James Galbraith (filho do grande John Kenneth Galbraith), o Plano Paulson não enfrenta adequadamente os problemas econômicos e financeiros subjacentes à crise atual. O que se pode esperar é que ele evite a desintegração completa do sistema financeiro e crie uma ponte até a posse do próximo governo dos Estados Unidos, que se dará em janeiro de 2009 (a menos que haja alguma antecipação). Entre os economistas e especialistas em finanças, cresce a convicção de que a compra pelo governo de ativos podres, ainda que em grande escala, não é o caminho para estabilizar o sistema financeiro a um custo aceitável para os cofres públicos. Tanto aqui nos Estados Unidos como na Europa percebe-se que uma crise como a atual -a mais profunda desde a Grande Depressão da década de 1930- exigirá uma recapitalização maciça dos bancos pelos governos por meio da compra de ações preferenciais. É provável que grande parte do sistema financeiro acabe nas mãos do Estado. PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 53, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago). pnbjr@attglobal.net Texto Anterior: Crise global Próximo Texto: Mercado Aberto Índice |
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