São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Dólar tem menor presença na reserva global em 10 anos

Moeda americana, que vem tendo seu papel questionado, perde espaço para euro

No mês passado, a Unctad, órgão da ONU, defendeu a criação de uma moeda global para substituir o dólar como divisa de reserva


ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

A participação do dólar nas reservas globais chegou no segundo trimestre deste ano no menor nível desde pelo menos 1999, quando foi criado o euro (a moeda que hoje é usada por 16 países da Europa).
A moeda norte-americana representava 62,8% das reservas em moeda estrangeira no mundo entre abril e junho, ante 65% nos primeiros três meses deste ano, segundo dados do FMI. No seu pico nos últimos dez anos, no segundo trimestre de 2001, a participação do dólar era de 72,7%.
Esse movimento aconteceu em um momento em que autoridades no mundo todo discutem o papel do dólar como reserva global e apesar de os bancos centrais terem voltado a comprar a divisa -no entanto não com a mesma intensidade que outras moedas, especialmente a da zona do euro.
Enquanto as reservas em moeda estrangeira em dólar interromperam nove meses de queda e cresceram 1,6% entre o primeiro e o segundo trimestres, as em euro avançaram 11,6%. Com isso, a participação da moeda europeia chegou a 27,5%, ante 25,9% de janeiro a março, e alcançou o seu maior nível histórico. Quando foi lançado, dez anos atrás, o euro tinha participação de 18,1%.
E, apesar de os países emergentes serem os maiores críticos do papel da moeda americana, foi nas nações ricas que houve uma maior "desconcentração" do dólar -nos últimos anos, as regiões em desenvolvimento já vêm usando menos a divisa dos EUA como moeda de reserva.
Nos países ricos, a participação do dólar nas reservas caiu 2,8 pontos percentuais, para 66,3%, na comparação do primeiro trimestre com os três meses seguintes. Já nos emergentes, essa queda foi de 1,7 ponto percentual, para 58,9%. E, nos dois casos, o euro foi a moeda que mais se aproveitou desse cenário.
A diferença, no entanto, que separa o dólar e o euro ainda é bastante expressiva. De acordo com o levantamento trimestral do FMI (que cobre quase dois terços das reservas globais), os governos tinham US$ 2,7 trilhões em dólar no segundo trimestre deste ano (aproximadamente o mesmo valor do PIB britânico em 2008, o sexto maior do mundo). Em euro, eles tinham o equivalente a US$ 1,2 trilhão, quase o mesmo que o PIB da Índia, a 12ª maior economia global.
Com a crise global e o aumento do endividamento dos EUA nos últimos meses -graças a uma série de medidas para resgatar bancos e tentar tirar o país da pior recessão em mais de 70 anos-, tem crescido nos últimos meses o debate sobre a continuidade do dólar como moeda de reserva mundial.
Governos de países como a China, a Rússia, a Índia e até mesmo a França já manifestaram (com diferente graus de ênfase) suas dúvidas sobre o dólar. Para a China, a questão é especialmente importante, porque o país é o maior credor da dívida dos Estados Unidos.
A Unctad, órgão de comércio e desenvolvimento da ONU, defendeu, em setembro, a criação de uma moeda global para substituir o dólar e proteger os mercados emergentes.


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