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Dólar tem menor presença na reserva global em 10 anos
Moeda americana, que vem tendo seu papel questionado, perde espaço para euro
No mês passado, a Unctad, órgão da ONU, defendeu a criação de uma moeda global para substituir o dólar como divisa de reserva
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
A participação do dólar nas
reservas globais chegou no segundo trimestre deste ano no
menor nível desde pelo menos
1999, quando foi criado o euro
(a moeda que hoje é usada por
16 países da Europa).
A moeda norte-americana
representava 62,8% das reservas em moeda estrangeira no
mundo entre abril e junho, ante
65% nos primeiros três meses
deste ano, segundo dados do
FMI. No seu pico nos últimos
dez anos, no segundo trimestre
de 2001, a participação do dólar
era de 72,7%.
Esse movimento aconteceu
em um momento em que autoridades no mundo todo discutem o papel do dólar como reserva global e apesar de os bancos centrais terem voltado a
comprar a divisa -no entanto
não com a mesma intensidade
que outras moedas, especialmente a da zona do euro.
Enquanto as reservas em
moeda estrangeira em dólar interromperam nove meses de
queda e cresceram 1,6% entre o
primeiro e o segundo trimestres, as em euro avançaram
11,6%. Com isso, a participação
da moeda europeia chegou a
27,5%, ante 25,9% de janeiro a
março, e alcançou o seu maior
nível histórico. Quando foi lançado, dez anos atrás, o euro tinha participação de 18,1%.
E, apesar de os países emergentes serem os maiores críticos do papel da moeda americana, foi nas nações ricas que
houve uma maior "desconcentração" do dólar -nos últimos
anos, as regiões em desenvolvimento já vêm usando menos a
divisa dos EUA como moeda de
reserva.
Nos países ricos, a participação do dólar nas reservas caiu
2,8 pontos percentuais, para
66,3%, na comparação do primeiro trimestre com os três
meses seguintes. Já nos emergentes, essa queda foi de 1,7
ponto percentual, para 58,9%.
E, nos dois casos, o euro foi a
moeda que mais se aproveitou
desse cenário.
A diferença, no entanto, que
separa o dólar e o euro ainda é
bastante expressiva. De acordo
com o levantamento trimestral
do FMI (que cobre quase dois
terços das reservas globais), os
governos tinham US$ 2,7 trilhões em dólar no segundo trimestre deste ano (aproximadamente o mesmo valor do PIB
britânico em 2008, o sexto
maior do mundo). Em euro,
eles tinham o equivalente a
US$ 1,2 trilhão, quase o mesmo
que o PIB da Índia, a 12ª maior
economia global.
Com a crise global e o aumento do endividamento dos
EUA nos últimos meses -graças a uma série de medidas para
resgatar bancos e tentar tirar o
país da pior recessão em mais
de 70 anos-, tem crescido nos
últimos meses o debate sobre a
continuidade do dólar como
moeda de reserva mundial.
Governos de países como a
China, a Rússia, a Índia e até
mesmo a França já manifestaram (com diferente graus de
ênfase) suas dúvidas sobre o
dólar. Para a China, a questão é
especialmente importante,
porque o país é o maior credor
da dívida dos Estados Unidos.
A Unctad, órgão de comércio
e desenvolvimento da ONU,
defendeu, em setembro, a criação de uma moeda global para
substituir o dólar e proteger os
mercados emergentes.
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