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OPINIÃO ECONÔMICA
Kerry ou Bush?
BENJAMIN STEINBRUCH
Finados no Brasil, eleições
nos Estados Unidos. Mais de
120 milhões de americanos vão
às urnas hoje para escolher o presidente dos EUA para os próximos quatro anos.
Em pleno feriadão, a pergunta
que todos fazemos por aqui é a
seguinte: será melhor para o Brasil a reeleição do republicano
George W. Bush ou a eleição do
democrata John Kerry?
Na teoria, Bush parece ser a
melhor opção.
Ponto número um, os republicanos são naturalmente menos
protecionistas. Aceitam com
mais facilidade medidas de liberalização do comércio, o que em
tese favorece o Brasil, que depende do mercado americano para
colocar suas exportações, como
qualquer outro grande país.
Com Bush reeleito, as negociações para a criação da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) caminhariam mais
rapidamente. Com Kerry, a tendência seria a protelação das negociações e a imposição de algumas dificuldades adicionais para
a concretização de um acordo já
bastante difícil de ser fechado.
Kerry já antecipou que, se eleito,
proporá a revisão de todos os
acordos já feitos pelos Estados
Unidos. Para os próximos, exigirá a inclusão de cláusulas trabalhistas e ambientais, que não interessam ao Brasil.
Ponto número dois, Bush é
mais desenvolvimentista. Pouco
se importa para o aumento do
déficit fiscal americano. Quando
assumiu, quatro anos atrás, herdou de Bill Clinton uma previsão
de superávit fiscal de quase US$
6 trilhões em dez anos. Essa perspectiva mudou completamente,
porque Bush cortou impostos e
aumentou gastos. Por isso, o déficit americano já atinge neste ano
mais de US$ 400 bilhões, valor
quase equivalente ao PIB brasileiro.
Em compensação, depois do
trauma do 11 de Setembro, por
conta de gastos bilionários, principalmente na área militar, Bush
pôs a economia de novo em crescimento. Neste ano, a expansão
do PIB deve ser de pelo menos
4,3%. Nessa matéria, a velha frase de Juraci Magalhães ("O que é
bom para os EUA é bom para o
Brasil") aplica-se perfeitamente.
Se a economia americana cresce,
há mais mercado para produtos
estrangeiros, o que é bom para o
Brasil e para qualquer país do
mundo.
Ponto número três, Bush tem
um bom entrosamento com o
presidente Lula. Ambos conversam amigavelmente, o que deixa
um canal aberto para reivindicações e sugestões brasileiras, algo não muito comum nas relações entre os dois países.
Por tudo isso, se os brasileiros
pudessem participar da eleição
americana, deveriam votar em
Bush, certo? Não tenho tanta certeza. O problema de Bush é que
ele representa um enorme risco
geopolítico, por causa de sua política intervencionista unilateral. Durante o primeiro mandato, ignorou os organismos internacionais e invadiu dois países, o
Afeganistão e o Iraque. Atualmente, Bush mantém 18 mil homens no Afeganistão, 120 mil no
Iraque e um total de 1,4 milhão
em tropas nos Estados Unidos e
espalhadas pelo mundo. Na
Guerra do Iraque, morreram
1.100 soldados americanos e
mais de 13 mil civis iraquianos.
Nas operações do Iraque, Bush já
gastou US$ 120 bilhões e deve pedir mais US$ 70 bilhões ao Congresso.
As instabilidades provocadas
por ações unilaterais dessa natureza são dramáticas para a humanidade e desastrosas para a
economia global. Kerry, ao que
tudo indica, manterá o combate
ao terrorismo, o que é extremamente necessário, mas com o respaldo da ONU e de outros organismos multilaterais. Ele promete que os EUA só farão intervenções militares se tiverem apoio
internacional.
Kerry, portanto, tende a ser
mais responsável que Bush nas
relações e intervenções pelo
mundo. Além disso, embora o
partido democrata seja mais
protecionista que o republicano,
Kerry, como senador, sempre votou a favor de propostas liberalizantes na área de comércio, como os acordos regionais.
Como se vê, a escolha é difícil.
Como brasileiro, não tenho de
votar nessa eleição. Mas, se tivesse, cravaria Kerry.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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