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TENSÃO PRÉ-VOTAÇÃO
Analistas têm receio de que problemas na apuração e batalha jurídica repitam os efeitos negativos de 2000
Mercado teme incerteza eleitoral nos EUA
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
O mercado financeiro admite
ter um viés republicano. Mas, desta vez, investidores e operadores
não estão tão preocupados com
quem ganhará as eleições norte-americanas, desde que haja um
resultado logo. O grande temor
do mercado em Wall Street e na
City londrina é o de que ocorram
problemas na apuração e se repita
o que houve em 2000, quando o
pleito foi decidido nos tribunais.
"Para o mercado, está sendo
muito menos relevante, desta vez,
quem vai ganhar. Se houver um
resultado rápido, já será superpositivo", afirma Peter West, economista-chefe da Poalim Asset Management, em Londres.
Os principais bancos estrangeiros soltaram relatórios nos últimos dias chamando a atenção para o perigo de uma batalha legal
entre advogados de George W.
Bush e do democrata John Kerry e
suas conseqüências negativas.
Eles lembram o "desastre" ocorrido em 2000, quando a Nasdaq
caiu 24% entre 7 de novembro
-data da eleição- e 30 do mesmo mês, o S&P chegou a acumular queda de 8% em 15 dias, e os títulos de dez anos do Tesouro norte-americano encolheram 54
pontos em cinco semanas, até a
decisão da Suprema Corte.
Como ocorreram movimentos
negativos tanto no mercado de
ações como no de dólar e dos títulos nos últimos dias -apesar da
recuperação de ontem-, analistas dizem que o temor de um possível problema já foi parcialmente
"descontado" dos preços.
Em relatório divulgado na última semana, o Bear Stearns diz esperar até que haja repique de alta
nos preços desses ativos, caso um
resultado inquestionável das eleições seja divulgado logo.
Por outro lado, analistas acreditam que, se ocorrerem problemas, os preços poderão sofrer
muito mais, já que o ajuste ainda
está longe do ocorrido em 2000.
"Como em 2000, o resultado da
eleição agora parece que será
muito apertado e, por isso, muito
possivelmente, esse resultado estará sujeito a contestações legais",
afirma o economista Binit Patel,
do Goldman Sachs, em Londres.
Segundo Patel, é provável que o
mercado experimente muita volatilidade, caso um vencedor não
seja declarado amanhã.
Efeitos negativos
O pior é que esse cenário é considerado cada vez mais possível.
Isso se reflete, por exemplo, nos
negócios das Bolsas eletrônicas
que oferecem contratos com resultados das eleições. As operações mostram que investidores
apostam que os candidatos ficarão muito próximos no voto popular, que Bush ganhará no colégio eleitoral, mas com margem
pequena, e que crescem as chances de que o resultado não seja
confirmado no prazo oficial.
Em um relatório divulgado na
última semana, o Lehman Brothers dizia que, depois dos vários
choques dos últimos anos-do
estouro da bolha no mercado de
ações aos atentados terroristas,
passando por escândalos contábeis, a Guerra do Iraque e a recente alta do petróleo-, uma segunda eleição complicada nos Estados Unidos ajudaria a desacelerar
a economia um pouco mais.
Patel, do Goldman Sachs, discorda de que problemas na eleição poderiam prejudicar a economia: "Isso teria efeito ruim, mas
limitado ao mercado, enquanto
durasse um possível embate legal.
A economia global seguirá se desacelerando, mas muito mais por
outros motivos, como o choque
nos preços do petróleo".
Independentemente das conseqüências econômicas de possíveis
problemas nas eleições, esse temor praticamente paralisou o
mercado ontem. "Ninguém está
girando posições, negociando. A
liquidez está muito baixa hoje. A
desculpa do mercado são as eleições amanhã [hoje]", diz Jim
Croft, analista do Commerzbank.
Croft diz que, caso o resultado
das eleições seja questionado ou
que haja suspeita de fraude em alguns Estados, os títulos de mercados emergentes, como o Brasil,
podem ser alvo de um movimento de vendas, o que puxaria os
preços para baixo. "Um problema
sério no pleito colocaria os EUA
sob um holofote muito ruim."
Economistas explicam que dúvidas sobre o futuro político dos
EUA levariam a uma grande aversão a risco enquanto durasse a incerteza. Aversão a risco é sempre
sinônimo de fuga de ativos como
títulos da dívida de países emergentes e ações de forma geral.
Para piorar, existe uma incerteza geopolítica muito grande. Segundo Croft, isso pode ajudar a
explicar, por exemplo, os baixos
volumes negociados ontem.
"Conforme as eleições nos EUA
foram se aproximando, cresceram os temores de atentados."
Caso as eleições transcorram
sem problemas, boa parte dos
operadores e investidores torcerá
por Bush. Segundo o diretor de
um grande banco estrangeiro em
Londres, Bush é o preferido do
mercado. Para Patel, do Goldman
Sachs, esse viés se explica só pelo
conservadorismo do mercado,
que favorece a manutenção do
"status quo", geralmente, associada a menos incertezas.
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