São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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LUÍS NASSIF

O desafio das metrópoles

Seria importante que os prefeitos de capitais lessem a biografia de David Rockefeller. Especialmente os capítulos em que fala do envolvimento da família na recuperação de Nova York, em vários momentos críticos da história da cidade.
O exemplo é relevante para o momento atual do Brasil. O papel do governante de fôlego é saber articular as diversas forças que compõem sua comunidade. No Brasil, ainda não existe essa cultura. É como se o espaço público fosse um, o privado, outro, e todos não fizessem parte do mesmo problema -ou da mesma solução.
As últimas eleições criaram uma oportunidade única para atacar dois dos maiores problemas nacionais: a gestão pública criativa com responsabilidade fiscal e o megaproblema das grandes metrópoles. Com José Serra (PSDB) em São Paulo, Cesar Maia (PFL) no Rio de Janeiro e Fernando Pimentel (PT) em Belo Horizonte, podem-se abrir perspectivas novas para a gestão pública no país, um novo paradigma para tratar o grande desafio das grandes metrópoles e o fortalecimento do municipalismo no Brasil, com imaginação criadora e responsabilidade social.
Novos personagens estão entrando no jogo, com as ONGs (Organizações Não-Governamentais), a criação de um padrão brasileiro de tecnologia social, a responsabilidade social das grandes corporações, os novos valores da qualidade, o conceito de voluntariado.
Na gestão Itamar Franco, a Belgo Mineira desenvolveu, por conta própria, programa de qualidade nos hospitais públicos mineiros. As sugestões não foram levadas adiante porque Itamar é Itamar. Em Goiás, Pernambuco e muitos outros Estados, parceria entre governo, ONGs e empresas privadas resultaram em políticas públicas relevantes -como o projeto Acelera Ayrton ou o Alfabetização Solidária.
Se três prefeitos de boa cabeça, das três maiores cidades, cada qual de um partido, se engajarem na definição de um modelo de articulação com essas forças, mudaria a face da gestão pública no país.
Os desafios são claros. Há que implantar um choque de gestão em cada cidade, em parceria com as empresas que integram a Fundação Prêmio Nacional de Qualidade. Definem-se os institutos, departamentos que precisam ter seus processos redesenhados, setores que podem ser informatizados, modelos de gestão eletrônica e tudo o mais e convocam-se as empresas parceiras. Depois, desenham-se indicadores de acompanhamento de qualidade dos serviços públicos, a fim de que os próprios prefeitos possam ter referenciais para aprimorar a gestão pública.
Finalmente, há que começar a pensar nas próximas décadas. Dentro de algum tempo, Rio e São Paulo serão uma única região metropolitana, uma área contínua pegando todos os municípios ao redor da via Dutra. Os problemas atuais serão multiplicados por dez.
Esse exercício de futurologia é fundamental para que a região não se transforme em uma imensa Cali.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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