São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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TOMA LÁ DA CÁ

País negocia com Tailândia, maior exportadora do tubérculo, tecnologia para fazer álcool com o produto

Brasil tenta liberar mercado de mandioca

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A Abam (Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca) negocia a exportação para a Tailândia de tecnologia brasileira de produção de álcool a partir da mandioca.
A Tailândia é hoje o maior exportador mundial de amido de mandioca e de chips (mandioca picada e desidratada) para os mercados europeu e chinês.
Com a necessidade de álcool combustível, a expectativa dos brasileiros é que parte da produção tailandesa de mandioca seja desviada para a produção de álcool, liberando mercados para o amido brasileiro.
Com isso, o Brasil espera disputar um setor de US$ 1 bilhão, hoje monopolizado pelo país asiático no mercado internacional de amido e chips de mandioca.
"A Tailândia é um país essencialmente importador de combustíveis e a produção de álcool de mandioca é vital para seus interesses internos. Estamos preparando o projeto de usinas adaptadas às condições deles", afirmou o produtor e industrial Antônio Donizetti Fadel, 49, de Palmital (interior de SP).
Fadel integrou a comitiva da Abam que no final de outubro visitou produtores tailandeses. A projeção inicial é que a Tailândia instale cinco usinas construídas com o uso da tecnologia brasileira, com capacidade para produzir 200 mil litros de álcool de mandioca cada um, em nível de experiência.
"A Tailândia tem limitações para a expansão das lavouras de mandioca e necessidade de álcool. Nós temos a tecnologia de álcool a partir da mandioca e estamos interessados em auxiliá-los. Com isso vai sobrar mercado para nosso amido", disse João Eduardo Pasquim, 38, presidente da Abam e produtor e industrial em Nova Esperança (PR).
O Brasil e a Tailândia são os principais produtores mundiais de mandioca. No ano passado o Brasil produziu 24 milhões de toneladas da tubérculo, e a Tailândia, 22 milhões toneladas. A área de plantio também é equivalente, com os países plantando cerca de 4 milhões de hectares. A produtividade média, nos dois países, está em torno de 20 toneladas de tubérculo por hectare.
Essas semelhanças, no entanto, param por aí. Enquanto o Brasil produziu 428 mil toneladas de amido na safra passada, a Tailândia produziu 3 milhões de toneladas. Os asiáticos exportaram 1,8 milhão de toneladas de amido e 6 milhões de toneladas de chips de mandioca no ano passado, com uma receita superior a US$ 1 bilhão, enquanto o Brasil destinou o grosso de sua produção para o mercado interno, com exportações insignificantes.
"Para nós, em comparação com a cana, é inviável produzir álcool a partir da mandioca, mas para eles é vantajoso. Logo, vamos fornecer tecnologia e aproveitar o desvio da mandioca deles para o álcool e disputar os mercados de amido", afirma Fadel.
O intercâmbio com os produtores de mandioca da Tailândia também vai servir para que o Brasil ingresse em um novo mercado: o da produção de chips de mandioca.
Principal fornecedor mundial, a Tailândia fornece chips de mandioca para a Europa, para ração animal, e para a China, que utiliza os chips para a produção de álcool. A China é hoje também a maior importadora mundial de chips e de amido de mandioca no mercado internacional.


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