São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Custo do crédito à exportação dobra com crise internacional

A crise econômica internacional atingiu os exportadores brasileiros com crédito escasso e caro. Antes de setembro, quando a crise se agravou, o setor pagava um juro de 5,5% ao ano para adquirir operações de ACC (Adiantamento de Contratos de Câmbio). Hoje, o custo subiu para 10,7% ao ano. As informações são de levantamento da Fiesp, realizado de 24 a 28 de outubro com 46 empresas escolhidas entre as 250 maiores exportadoras do país.
As restrições para obter financiamentos já trouxeram redução de 16% no volume de ACC captado pelas empresas. Na pesquisa, elas informaram que emprestavam uma média de US$ 12,3 milhões por mês, mas passaram a utilizar apenas US$ 10,3 milhões com a crise.
Cerca de 67% das empresas ouvidas afirmaram que estão com dificuldades para captar recursos com ACC. A pesquisa constatou que 60% dos exportadores costumam utilizar essa linha de crédito. "Há empresas que conseguem financiamento, mas o juro é tão alto que decidem por não emprestar. Nem todos estão dispostos a pagar mais caro", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.
Francini estima que o volume de empréstimos via ACC em outubro tenha ficado em US$ 3,6 bilhões ante cerca de US$ 5 bilhões em setembro.
Segundo ele, a paralisação dos ACCs provoca um dano grave para o setor exportador, que se abastece principalmente com linhas de crédito externas. Sem conseguir captar no exterior, os empresários se jogam sobre as linhas internas, o que gera uma demanda adicional para os bancos brasileiros.
Esse aperto no crédito para a exportação, segundo Francini, vai provocar uma reação em cadeia na economia. "Haverá um estreitamento na liquidez das empresas e os empresários terão que buscar alternativas para superar isso." As ações possíveis, no entanto, são todas negativas, como atraso no pagamento de fornecedores, de tributos ou corte de empregos.
Para Francini, além do aperto no crédito, o setor exportador enfrenta outros problemas provocados pela crise internacional. "Ninguém remove a incerteza sobre o câmbio, a demanda internacional e a melhor definição de preços."

PRÊMIO DE CONSOLAÇÃO
Anna Chaia, diretora-geral da Swarovski no Brasil, acredita que as vendas de Natal sejam 35% maiores que em 2007, mesmo com a crise. Para Chaia, os clientes da Swarovski, que costumam passar férias no exterior, neste ano vão ficar no Brasil e gastar aqui. "Eles vão cortar gastos, mas não com o presente de Natal da mãe ou da esposa." Apesar de sentir o impacto da turbulência no aumento de custos com os produtos, todos importados, a Swarovski decidiu não elevar os preços. Para compensar as perdas, a empresa cortou gastos com almoços corporativos, viagens e marketing. Para aquecer as vendas, Chaia mudou o foco do portfólio da Swarovski para produtos de joalheria e não mais de decoração.

SÃO PEDRO
Xisto Vieira Filho, presidente da Abraget (associação de termelétricas), não acredita que a redução no consumo de energia na indústria afete o resultado do setor. Como a estrutura de energia brasileira se baseia em hidrelétricas, as térmicas geralmente são acionadas quando falta oferta. "A queda de 1% na demanda foi insignificante para as térmicas. O que faz realmente a diferença para ligar ou desligar usinas são as chuvas."

JOIO DO TRIGO
Bayard Lima, principal executivo da Brascan Shopping Centers, dirá em palestra nesta semana que a crise vai diferenciar os shoppings. Segundo ele, há dois grupos: os que confiaram na explosão do consumo e no crédito ilimitado e os que basearam suas operações em pesquisas de demanda e demográficas. Ele participa do Cityscape Latin America, evento do setor imobiliário, que começa amanhã e vai até quinta, em São Paulo.

DO PRÓPRIO BOLSO
As empresas já falam em cortar gastos, inclusive com subsídios de cursos, mas as escolas de MBA ainda não conseguiram medir os efeitos da crise porque as matrículas dos cursos de 2009 não encerraram. Olavo Furtado, da Trevisan Escola de Negócios, diz que, se empresas cortarem subsídios, os alunos podem ter problemas para continuar no curso. "Mas é provável que quem já está cursando pague do próprio bolso para finalizar."

DE PASSAGEM
Governadores e prefeitos do Mercosul debatem o Selo Mercosul de Turismo para regulação e qualidade de estabelecimentos turísticos. A proposta será debatida nos dias 6 e 7 em Foz do Iguaçu, na "Rodada de Integração Produtiva de Governadores e Prefeitos do Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos do Mercosul: Eixo Sul", coordenada pela Secretaria de Relações Institucionais da Presidência.

"ON THE ROCKS"
Randy Millian, presidente da Diageo para América Latina, que está no Brasil para representar a Johnnie Walker na Fórmula 1, com o Movimento Piloto da Vez, de consumo responsável; para Millian, o Brasil, que é o maior consumidor mundial de uísque Red Label, está preparado para passar pela crise e vai continuar consumindo a bebida; para 2009, a idéia é trazer novas marcas, de uísques acima de 12 anos.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI

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