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Após ação do BC, banco deve subir juro, diz Bradesco
Para Cypriano, taxa deve compensar fim de remuneração do compulsório
De acordo com o presidente do Bradesco, total de carteiras de crédito de bancos menores não atinge meta buscada pelo governo
Rafael Hupsel/Folha Imagem
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O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, que afirma ser preciso preservar a livre competição
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente do Bradesco,
Márcio Cypriano, considerou
uma punição a medida adotada
pelo Banco Central de retirar a
remuneração de 70% do recolhimento compulsório sobre os
depósitos a prazo.
"Não concordo com que sejamos punidos por medidas que
dependem de fatores técnicos e
operacionais para a sua viabilização", afirma.
O problema, segundo ele, é
que não existem no mercado
carteiras de crédito suficientes
de instituições pequenas e médias para os grandes bancos
comprarem na proporção que o
Banco Central pretende.
Para compensar essa perda
de rendimento no compulsório, Cypriano afirma que os
bancos devem subir os juros.
"A perda de remuneração no
compulsório terá de ser compensada."
FOLHA - Qual a sua avaliação da
crise e do impacto no Brasil?
CYPRIANO - Vi muitos economistas vendendo a idéia de que
essa crise é pior que a de 1929.
Não sei se é, não me convenço.
É tudo muito diferente hoje. A
economia é global, utiliza muita tecnologia, a velocidade da
informação é impressionante e
tem muito mais comércio.
Nunca soube de vários governos trabalhando juntos para resolver um problema, sem disputas políticas e de interesses.
O resultado é uma liquidez potencial de trilhões de dólares na
economia. E, se for necessário
mais, haverá mais. No Brasil, os
fundamentos econômicos são
muito melhores. Estamos com
US$ 200 bilhões de reservas
cambiais e mais de R$ 140 bilhões de recolhimento compulsório, uma das maiores reservas do mundo. Eu sempre fui
um crítico disso, mas admito
que acabou sendo um benefício. A crise é grave e pode ser
longa, mas é a primeira vez que
não precisamos buscar empréstimo-ponte de FMI e Banco Mundial ou comitê de bancos credores. Há problemas na
educação, muitos impostos e
leis trabalhistas ultrapassadas,
mas dá para confiar em que vamos mudar para melhor depois
de tudo isso. A crise é muitíssimo grave, mas, desta vez, depende muito mais de nós.
FOLHA - O que o sr. achou da mudança no compulsório na semana
passada?
CYPRIANO - Acho que o Banco
Central deve tomar a medida
que julgar necessária e nós vamos cumprir aquilo que for determinado. Mas não concordo
que sejamos punidos por medidas que dependem de fatores
técnicos e operacionais para a
sua viabilização. Vamos continuar negociando carteiras, como estamos fazendo, e as coisas
estão voltando ao normal. O governo sabe disso. O Bradesco
está neste momento analisando R$ 400 milhões em operações e vamos seguir nossos critérios de risco. A análise que fazemos para a compra de carteiras deve ser a mesma que usamos para operar com nossos
clientes. O Bradesco sempre
adquiriu carteiras de crédito de
outros bancos. Temos um estoque de R$ 5,7 bilhões em créditos adquiridos. Essa não é uma
operação trivial. Existe um trabalho de análise de crédito de
milhares de contratos e também tem que haver compatibilidade de sistemas entre os
bancos. O cliente continua vinculado à instituição original.
FOLHA - Por que o sr. acha que essa
decisão do Banco Central representa
uma punição para os bancos?
CYPRIANO - A medida é muito
dura. O problema é que talvez
não haja carteira de crédito suficiente para comprar no montante desejado pelo Banco Central. O Bradesco comprou R$
3,5 bilhões em carteira e está
analisando mais R$ 400 milhões. O nosso volume no compulsório é de R$ 6,6 bilhões. Ou
seja, vai ser difícil atingir tudo
isso. Acredito que o total de carteiras de crédito a ser comprado pelos bancos não irá atingir
a meta definida pelo Banco
Central. O problema é compatibilizar a qualidade das carteiras. A oferta é menor do que a
disponibilidade no momento.
FOLHA - Como os bancos pretendem compensar esse custo? Os juros
podem subir?
CYPRIANO - O sistema financeiro terá de compensar essa medida de alguma forma, e uma
delas é o aumento dos juros. Os
bancos podem subir os juros.
Essa ao menos é a expectativa.
A perda de remuneração no
compulsório terá de ser compensada de alguma forma.
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