São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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Fabricantes de celular pressionam teles

Para evitarem perdas com a variação cambial, empresas renegociam contratos com operadoras para as vendas de Natal

Negociação afeta teles que fizeram compras há quatro meses; operadoras negam que faltarão opções de modelos sofisticados

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Reflexo da crise financeira, fabricantes de celulares estão tentando renegociar contratos com as operadoras para que não absorvam sozinhos as perdas com a variação cambial.
Essa manobra pode comprometer as entregas de Natal, especialmente para as teles que fecharam algumas de suas compras por contratos "abertos". Esse tipo de acordo tem uma cláusula para que, em situações extremas, como a flutuação cambial em outubro, ambas possam estudar formas de dividir as perdas.
Segundo um executivo de uma das operadoras, existe a chance de que produtos de alto valor agregado, como o Blackberry da RIM, sofram restrição de entrega. "Smartphones" (celulares inteligentes) importados também estariam entre os equipamentos contingenciados, uma forma encontrada para diminuir os "prejuízos". Consultada, a RIM não comentou o assunto até a conclusão desta edição.
Ainda segundo o executivo, a prioridade seria a entrega de aparelhos de baixo custo, outra saída para diminuir os estragos da desvalorização do real diante do dólar.
A renegociação dos contratos está acontecendo porque as operadoras fizeram suas compras de Natal há cerca de quatro meses. Naquela ocasião, a cotação do dólar girava em torno de R$ 1,60. O problema é que esses aparelhos serão entregues com a cotação do dólar acima de R$ 2. Essa diferença os fabricantes querem dividir com as teles.
A Folha consultou todas as operadoras e os fabricantes de celulares. Por meio de sua assessoria de imprensa, a finlandesa Nokia foi a única a admitir a renegociação. A vantagem para as operadoras é que a Nokia tem fábrica no Brasil e a maior parte da importação se refere a componentes. A norte-americana Motorola também estaria nessa situação, mas não quis comentar o assunto. Para os demais, que importam os aparelhos completos, o impacto seria maior.

iPhone
O presidente da TIM, Mario Cesar de Araujo, afirmou que as compras da operadora estão fechadas até o início de 2009 e que as variações cambiais, neste momento, não são um problema. Sua assessoria de imprensa informa que não haverá desabastecimento, especialmente no Natal, e que as negociações para o lançamento do iPhone estão em andamento.
Vivo e Claro afirmam que não haverá remarcação de preços, particularmente os do iPhone. Elas também dizem que o estoque do telefone da Apple será suficiente.
A Vivo fez uma compra de 200 mil unidades que estão em estoque. Na Claro, a quantidade de iPhones adquiridos é parecida com a da Vivo, mas a entrega ocorre de acordo com o ritmo das vendas. O primeiro lote, com 30 mil aparelhos, foi vendido, e, segundo o presidente da empresa, João Cox, os novos já estão nas lojas. Espera-se aumento no preço do iPhone para o próximo ano.

Queda nas vendas
As operadoras afirmam que a demanda atual será mantida. Os analistas do mercado confirmam, mas lembram que o consumidor adiará a compra com a retração do crédito.
Araujo, da TIM, estima que o setor chegará a 140 milhões de linhas ativas até o final deste ano. A previsão anterior à crise era que as vendas de Natal levassem as teles aos 145 milhões de linhas ativas.
De acordo com a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), para que essa meta seja atingida, a produção de celulares deveria ser de 81 milhões de unidades, alta de 19%. Com 140 milhões de linhas ativas, o crescimento do setor ficará entre 16% e 17%. Ainda segundo a Abinee, os fabricantes já negociam reajustes de preços com as teles para o próximo ano.


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